Tem muita gente entrando na brincadeira e postando uma lista de fatos/curiosidades sobre sua vida no Facebook. Resolvi entrar na brincadeira, mas puxando para o lado do cinema. Vamos nessa?
1. Virei um apaixonado por cinema com um filme que quase ninguém gosta: As Confissões de Schmidt, de Alexander Payne. E não há explicação melhor do que essa para o amor à primeira vista: foi o filme que me fez perceber que o cinema era um caminho sem volta na minha vida.
2. Se existe um filme que eu usaria como aula sobre como fazer cinema, seria As Horas. É, possivelmente, a única obra que considero irretocável: da adaptação genial de um livro dificílimo à sinfonia técnica mais extraordinária que já vi na vida (aqueles créditos iniciais me arrepiam até hoje). Enquanto Schmidt é o meu filme favorito de coração, As Horas é o da razão.
3. Não demorou muito tempo para eu descobrir que meus filmes favoritos não eram os clássicos tão venerados por cinéfilos ou aqueles de simetria perfeita. O que me comove mesmo são histórias de pessoas comuns, com sentimentos que me despertam identificação e protagonistas de situações que podem acontecer também comigo quando eu virar a esquina ou acordar no outro dia.
4. Tenho um fraco tremendo por atrizes e me apaixono fácil por elas. Confesso que me emocionaria muito mais encontrando uma Julianne Moore em um metrô qualquer do que sentar em uma mesa de bar para conversar com Jack Nicholson e Daniel Day-Lewis juntos.
5. Meryl Streep não é a minha atriz favorita desde sempre. Comecei com um amor inabalável por Susan Sarandon, mas o tempo passou e não deu mais para defendê-la. Hoje, considero Meryl um colosso: sem exageros, nunca houve, na história do cinema, uma atriz tão talentosa e completa como ela. E ser a melhor atriz não passa apenas por habilidades, mas também por escolher projetos múltiplos, papeis desafiadores e histórias que ninguém imaginaria que ela pudesse protagonizar. Ninguém tem um currículo tão plural quanto o dela.
6. Se eu tivesse que fazer alguém devolver somente um Oscar, seria Elliot Goldenthal (melhor trilha sonora, em 2003, por Frida). Philip Glass não ter vencido aquele ano por As Horas só mostra o quanto a Academia não entende nem nunca vai entender a verdadeira função de uma trilha em um longa-metragem.
7. Por falar em Glass, foi ele que proporcionou o momento musical mais lindo da minha vida: quando eu o assisti tocar, ao vivo em Porto Alegre, Metamorphosis Two, a composição que inspirou Morning Passages, de As Horas.
7. Ainda em Oscar, mesmo não achando Crash – No Limite um filme extraordinário, tampouco considero a derrota de O Segredo de Brokeback Mountain o horror que todos pintam. Já vi o filme de Ang Lee três vezes, e sabe-se lá o porquê de eu não embarcar tanto naquela história de amor. De qualquer forma, aquele ano foi uma bagunça para o meu gosto pessoal que nem eu entendo: meu favorito na disputa era Munique.
8. Quer confiar em mim para prever alguma categoria de premiação? Vem comigo nas atrizes: nos últimos anos, acertei em cheio quem seriam as esnobadas que todo mundo dava como garantidas (Helen Mirren por Hitchcock, Emma Thompson por Walt nos Bastidores de Mary Poppins, Jennifer Aniston por Cake). E uma vez ou outra também levo fé até o fim e acerto em belas surpresas, como Charlotte Rampling, indicada esse ano por 45 Anos.
9. Agora, se vai torcer comigo, pode contar que tem tudo pra dar ruim. As minhas torcidas mais entusiasmadas raramente ganham. Talvez a única exceção mesmo tenha sido Marion Cotillard como melhor atriz por Piaf – Um Hino ao Amor. De resto, sou pé frio mesmo.
10. Quase nunca coloco a companhia como fator decisivo para uma ida ao cinema. Vou sempre primeiro pelo filme.
11. Não compro pipoca quando vou ao cinema. No máximo dos máximos, divido com a companhia, se ela realmente achar imprescindível.
12. Acho um crime escrever sobre um filme imediatamente após assisti-lo. Pago o preço por isso com o meu blog, que jamais tem a crítica de uma estreia da semana.
13. O Festival de Cinema de Gramado é um marco definitivo na minha vida pessoal e profissional, e hoje sinto um baita orgulho de estar trabalhando nele como assessor de imprensa pelo quarto ano consecutivo.
14. Posso até falar mal de determinados filmes e estilos, mas nunca, jamais, julgo quem os assiste. Cada um aprende com o cinema a sua maneira, a partir de suas experiências de vida, de suas oportunidades e de sua bagagem.
15. Não vejo tanto filmes quanto gostaria, mas muito menos veria três ou quatro longas por dia, sete dias por semana. O cinema também precisa do consumo de outras artes para coexistir.
16. Sou apaixonado por trilhas instrumentais e tenho muitos gigabytes de álbuns no meu computador. É o que mais tenho medo de perder caso o aparelho aqui um dia estrague.
17. Sou adepto da frase de Tarantino: “Nunca fui à escola de cinema, eu fui ao cinema” (ou coisa do gênero). Conto nos dedos os livros de cinema que li na vida ou as vezes que “estudei” a arte.
18. Não tenho a pretensão de escrever uma crítica para dissecar um filme e ficar refletindo sobre ele durante páginas e páginas. O que importa, para mim, é o que (e como) ele me passou ou não alguma coisa, além das sensações que tive a partir da experiência. É uma questão de estilo, simples assim.
19. Realmente sou um cinéfilo eclético, por mais clichê que a definição tenha se tornado. Posso ir da descontração de um musical assumidamente mal feito como Mamma Mia! a clássicos indies como Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, passando pelas loucuras de Bette Davis em O Que Terá Acontecido a Baby Jane? às lágrimas com filmes super manjados como Lado a Lado. Não me sinto refém de um diretor ou da posição de clássico ou filme bem recepcionado pela crítica para definir meus gostos.
20. E, apesar de gostar tanto de cinema, nada nessa vida me impressionou tanto no audiovisual quanto o seriado Six Feet Under. Aquilo é uma aula infinita sobre como se faz dramaturgia com um elenco impecável e o roteiro mais sem concessões possível. Amo tanto que, um dia, ainda farei uma tatuagem com uma frase da série.