
Apesar da personalidade própria criada pelo diretor e roteirista Billy Ray, Olhos da Justiça tropeça por não ter a sutileza tão necessária à história e que consagrava o longa original.
CREED: NASCIDO PARA LUTAR (Creed, 2015, de Ryan Coogler): Para quem conferiu o contundente Guerreiro, de 2011, chega a ser um exercício de muita paciência ter que acompanhar Creed: Nascido Para Lutar até o final. Com relativa repercussão por ter quase dado um Oscar a Sylvester Stallone (o que seria injusto, diga-se de passagem, já que a presença dele aqui nada mais é do que uma nova confusão entre personagem e o ator na vida real, a exemplo de Mickey Rourke em O Lutador e Michael Keaton em Birdman), o filme dirigido por Ryan Coogler, em seu primeiro trabalho após a estreia em longas com o ótimo Fruitvale Station: A Última Parada, torna-se entediante por se enfronhar nos mais diversos clichês de pessoas que tentam recomeçar a vida através da luta. Não bastasse o herói desacreditado que precisa convencer um consagrado treinador aposentado de seu talento, Coogler ainda coloca na mistura uma doença terminal e muitos melodramas envolvendo um conturbado passado familiar do protagonista. Só que, sendo bem objetivo, faltam, no trabalho de Coogler, as sutilezas apresentadas por ele Fruitvale Station, e, em termos de luta e da relação dela com a própria vida, a emoção e a visceralidade de Guerreiro.
DEADPOOL (idem, 2016, de Tim Miller): Chegou aos cinemas fazendo muito barulho e ainda hoje ostenta uma admiração respeitável, considerando a média da maioria de filmes baseados em HQ’s. Tem sua graça, é verdade, mas Deadpool procura fazer humor de mais e história de menos, o que automaticamente faz com que o resultado caia na armadilha de dar risada de problemas que, lá no fundo, ele mesmo também cultiva. Às vezes excessivamente piadista, Deadpool é frágil em seus conflitos e pouco envolvente nos fatos, deixando a sensação de que o humor atravanca o fluxo da história. Para quem vai pelo mero entretenimento e não se preocupa tanto com o desenrolar de uma trama, o filme de Tim Miller cumpre sua cota de diversão, conseguindo, inclusive, fazer piadas mais ousadas e até refinadas, como aquela em que o protagonista afirma que beleza realmente é tudo na vida e que Ryan Reynolds é uma prova disso. “Ou você acha que ele fez sucesso por causa de suas ótimas interpretações?”, pergunta o personagem. É por momentos assim e por podermos ver uma Morena Baccarin mais marcante do que o habitual que Deadpool amortece seus problemas de coesão e diverte.
OLHOS DA JUSTIÇA (Secret in Their Eyes, 2015, de Billy Ray): O diretor e roteirista Billy Ray (indicado ao Oscar com a ótima adaptação de Capitão Phillips) optou pelo melhor caminho: conferir a Olhos da Justiça, refilmagem do celebrado filme argentino O Segredo dos Seus Olhos, uma identidade própria. São raríssimos os momentos em que o remake parece preocupado em meramente reproduzir o que deu certo na obra assinada por Juan José Campanella. Tal escolha traz ao longa até mesmo uma certa imprevisibilidade: afinal, Billy Ray seguirá à risca todos os acontecimentos do material original? Isso não é suficiente, entretanto, para que Olhos da Justiça se torne um filme particularmente envolvente. É frio e distante o resultado alcançado aqui, e a culpa é da americanização da história: nesse novo, tudo é muito policialesco e centrado em excesso na obsessão do protagonista em solucionar o crime em questão. Assim, Olhos da Justiça cai naquele clichê do homem com um sexto sentido a quem ninguém dá ouvidos apesar de toda e qualquer prova. O elenco é bom, mas também não há química entre uma insossa Nicole Kidman e um Chiwetel Ejiofor que, ao contrário de como foi com Ricardo Darín, é conduzido rumo a um caminho de emoções mais externas do que internas. Há quem aplauda a interpretação de Julia Roberts, que sempre foi subestimada fazendo dramas pós-Erin Brokovich, mas até ela desperta dúvidas: não seria sua aparição mais impactante do que as outras apenas pelo papel claramente mais dramático e pela falta de maquiagem e qualquer glamour? Longe de ser um completo desastre como prometia, Olhos da Justiça, por outro lado, não impressiona – e, infelizmente, desaparece facilmente da memória com o passar dos dias.
Dos filmes resenhados, só assisti a “Olhos da Justiça”. Acho que Billy Ray conseguiu adaptar bem a história para a realidade norte-americana, mas eu confesso que achei as personagens um tanto rasas. O elenco faz o melhor que pode…
Kamila, também acho que é uma boa adaptação no sentido de Billy Ray ter conseguido dar personalidade ao novo filme, mas realmente tudo é raso demais e não acho que a história precisava ser tão expositiva…