Nunca escondi que sou um fiel escudeiro do BAFTA, mas vou confessar que o prêmio tem me decepcionado bastante nos últimos tempos. Foi-se o tempo em que os britânicos demonstravam autenticidade (ou justa fidelidade ao seu próprio cinema) ao ignorar o circuito indicando um filme como O Segredo de Vera Drake em 11 categorias ou celebrando obras como Desejo e Reparação e A Rainha. Hoje em dia, o BAFTA vai conforme a maré e celebra o que está em voga na temporada. A premiação deste domingo (14) foi mais uma clara prova disso, já que ela se tornou mais uma das tantas que resolveram “reparar” a derrota de Birdman para Boyhood no ano passado. Ao que tudo indica, Alejandro González Iñárritu deve mesmo se tornar o maior diretor da história com O Regresso (afinal, quem conseguiu faturar as estatuetas de filme e direção em dois anos consecutivos ou cinco Oscars em apenas dois anos?), enquanto Brie Larson e Leonardo DiCaprio têm tudo para também levar o prêmio mais cobiçado do cinema para casa.
O que desaponta especificamente no BAFTA é o fato dos votantes terem esnobado por completo o delicado drama Carol, o recordista de indicações da edição deste ano. Primeiro porque o filme está longe de merecer essa esnobação toda do circuito (fraude por fraude, Rooney Mara merece infinitamente mais o favoritismo de coadjuvante do que Alicia Vikander) e segundo porque os britânicos estão acostumados a festejar obras mais “clássicas” e calcadas no emocional (o próprio Boyhood ganhava tinha um afeto indiscutível). O que ainda se conclui com a lista de vencedores é que Mad Max: Estrada da Fúria pode levar menos Oscars do que o esperado: Emmanuel Lubezki também já conquistou o sindicato de fotografia por O Regresso, a categoria de efeitos visuais deve ser o prêmio de consolação para Star Wars: O Despertar da Força e o a lembrança do filme de Iñárritu em melhor som pode muito bem se repetir entre os votantes. Sobre os coadjuvantes escolhidos pelo BAFYA, a consagração de Kate Winslet por Steve Jobs não significa muita coisa, pois Alicia Vikander concorria certeiramente como protagonista por A Garota Dinamarquesa, ao passo que Mark Rylance deve se contentar apenas com a distinção dos britânicos, já que Sylvester Stallone não concorria por Creed: Nascido Para Lutar. Confira abaixo os vencedores:
MELHOR FILME: O Regresso
MELHOR DIREÇÃO: Alejandro González Iñárritu (O Regresso)
MELHOR ATOR: Leonardo Dicaprio (O Regresso)
MELHOR ATRIZ: Brie Larson (O Quarto de Jack)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Mark Rylance (Ponte dos Espiões)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Kate Winslet (Steve Jobs)
MELHOR FILME BRITÂNICO: Brooklyn
MELHOR FILME ESTRANGEIRO: Relatos Selvagens
MELHOR ANIMAÇÃO: Divertida Mente
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Amy
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Spotlight – Segredos Revelados
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: A Grande Aposta
MELHOR TRILHA SONORA: Os Oito Odiados
MELHORES EFEITOS VISUAIS: Star Wars: O Despertar da Força
MELHOR SOM: O Regresso
MELHOR MAQUIAGEM: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR EDIÇÃO: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR FOTOGRAFIA: O Regresso
MELHOR FIGURINO: Mad Max: Estrada da Fúria
Já q Charlotte Rampling não estava concorrendo, eu torcia para q Saoirse Ronan ou Alicia Vikander levassem o prêmio de melhor atriz. Iria dar uma agitada nessa categoria, inexplicavelmente monopolizada por Brie Larson. Ela é ótima atriz, mas o grande protagonista de “Room” é o garoto. Nesse ponto o BAFTA me desapontou muito. Já esperava pela consagração de “O Regresso”. Parece q eles seguiram a mesma linha do Globo de Ouro, inclusive ao premiarem Kate Winslet na categoria coadjuvante, Rooney Mara seria uma opção muito mais interessante.
Concordo com você! O BAFTA se destacou, recentemente, pelas escolhas ousadas, mas a ousadia passou longe da premiação neste ano. Na verdade, a única vitória realmente surpreendente foi a de Mark Rylance, que, finalmente, venceu pela excelente atuação em “Jogo de Espiões”. No mais, eles foram na corrente atual favorável a “O Regresso”.