
Helen Mirren é sempre ótima, mas A Dama Dourada é um filme sem emoção e que ainda faz com que a atriz tenha que contracenar com um inexpressivo Ryan Reynolds.
BEM CASADOS (idem, 2015, de Aluízio Abranches): Não tem sido bem recebido nem pelo público esta comédia brasileira que, comparada a tantos outros desastres comerciais que tomam as salas de cinema no final de ano, pode até ser considerada uma diversão leve e descompromissada. É bem verdade que a história se esgota muito cedo e que seus rumos são perfeitamente previsíveis, mas o elenco segura bem as pontas, em especial Camila Morgado, que, devidamente bem dirigida, usa os exageros certos para compôr uma personagem deliciosamente maluca. Aluízio Abranches, dirigindo a primeira comédia de sua carreira (para quem não lembra, ele é o responsável pelos “polêmicos” dramas Um Copo de Cólera e Do Começo ao Fim), não consegue esconder que este é um produto sem fins criativos e meramente financiado pelas Lojas Americanas e outras marcas, o que faz com que a história frequentemente ganhe um tom de novela com a escancarada aparição das marcas e situações avulsas criadas apenas para evidenciar os patrocinadores. É novelesco também o modo com que Abranches amarra seu filme nos momentos finais, esquecendo-se que é com o carisma do elenco (que ainda tem Alexandre Borges como um bom canastrão e Bianca Comparato sendo uma graça como a estagiária que se acha subvalorizada) que Bem Casados tem seus momentos mais divertidos.
A DAMA DOURADA (Woman in Gold, 2015, de Simon Curtis): Só foi pela paixão do Screen Actors Guild Awards por Helen Mirren que a veterana conseguiu uma indicação a melhor atriz na lista do prêmio este ano. Ora, é claro que Mirren é sempre ótima, mas é preciso um pouco mais de bom senso na hora de julgar quando ela está de fato superlativa. Em A Dama Dourada ela faz o tema de casa como uma judia que tenta recuperar uma obra de arte que foi tirada de sua família pelos nazistas. Por outro lado, o filme simplesmente não coopera com ela: todos os momentos bons da atriz são méritos exclusivamente de Mirren, e não do roteiro previsível de Alexi Kaye Campbell ou da direção no piloto-automático de Simon Curtis. É meio imperdoável A Dama Dourada ser um filme sem emoção e maior sensibilidade justamente quando conta a história de uma mulher que busca na arte a preservação de seu passado e até mesmo a reparação de seus erros. Agravando a situação, atrapalha a presença de Ryan Reynolds, que nunca foi bom ator e que aqui está naquelas clássicas situações constrangedoras onde um ator veterano dá um baile no principiante. Os flashbacks funcionam porque Tatiana Maslany é ótima atriz e a reconstituição de época está à altura, mas, mesmo falando sobre o nazismo a partir de um ponto de vista diferenciado, A Dama Dourada não acerta na construção dos dramas contemporâneos dos protagonistas, que, conforme manda o roteiro, tentam a todo custo emular a jornada do esse sim caloroso Philomena.
DESCOMPENSADA (Trainwreck, 2015, de Judd Apatow): O gênero que mais tenho dificuldade em discutir e encontrar afinidades com outras pessoas é a comédia. Tomo como maior exemplo Judd Apatow, que tem uma legião de fãs conquistada depois de filmes como O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente Grávidos. Humor cada um tem o seu e é por isso que me parece tão difícil falar sobre comédia e dizer que considero Apatow um sujeito pra lá de superestimado. A impressão que sempre tive dele foi reforçada nesse tedioso Descompensada, onde o diretor une forças com Amy Schumer, atriz que agora é a moda do momento e parece tão supervalorizada quanto ele. Schumer, inclusive, é a autora desse roteiro egocêntrico (a protagonista nada mais é do que uma versão dela própria e ainda recebe o nome de… Amy!) sobre uma mulher supostamente orgulhosa de seu status de solteira que transa com quem bem entende. Só que Descompensada tem clichês dos grandes e, como uma história de romance, é extremamente entediante. Fora questões altamente discutíveis sobre o que certos personagens passam a simbolizar (a própria protagonista tem uma virada inadmissível quando, em certo ponto, passa a criticar a poligamia que tanto defendia), o filme se utiliza das saídas mais fáceis para unir um casal que em momento algum parece realmente apaixonado. Haja paciência. Felizmente, Descompensada ainda não tem previsão de lançamento no Brasil.
A ESPIÃ QUE SABIA DE MENOS (Spy, 2015, de Paul Feig): Paul Feig é um ótimo diretor de comédias, e só não é um dos mais importantes porque não é um contador de histórias objetivo. Na TV, tem um currículo dos mais respeitáveis em comédias (dirigiu The Office, Nurse Jackie, Parks and Recreation e Weeds), enquanto no cinema alçou voo somente em 2011 quando fez o divertidíssimo Missão Madrinha de Casamento. Assim como o filme estrelado por Kristen Wiig, A Espiã Que Sabia de Menos deixa de ser uma experiência mais marcante por ter um roteiro repleto de excessos. Sempre é complicado sustentar uma comédia por mais de duas horas, especialmente essa mais recente com a assinatura do diretor, já que, além das piadas, o roteiro se desenvolve a partir de uma história de investigação. Caso fosse um pouco mais conciso, A Espiã Que Sabia de Menos seria uma comédia imperdível, já que os personagens cativam, as situações são divertidas, as referências funcionamem e até Melissa McCarthy, que ainda não me convenceu de verdade, está em um de seus melhores momentos. E o maior elogio de todos: o filme de Paul Feig consegue, inclusive, ser um entretenimento mais envolvente do que o recente 007 Contra Spectre.