Os grandes desempenhos femininos de 2015

O ano de 2015 ainda não chegou ao fim (falta pouco!), mas, parando para analisar, já dá para perceber que a missão de escolher o melhor desempenho feminino desta temporada será um verdadeiro desafio! Temos mulheres protagonistas arrebentando em ação, comédia ácida, drama brasileiro, filme naturalista francês, adaptações e até mesmo em western (esse gênero tão esquecido nos dias de hoje)! Perdeu de conferir alguma delas? Pois resolvemos fazer um apanhado do que vimos de melhor até agora em 2015 envolvendo essas mulheres incríveis, todas em desempenhos que você não pode deixar passar. E também deixamos a pergunta: tem como escolher qual delas é a melhor? A ordem da lista é aleatória.

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Depois de anos e muitas injustiças, Julianne Moore finalmente ganhou um Oscar por Para Sempre Alice, mas seu grande desempenho de 2015 está em Mapas Para as Estrelas. O filme é difícil (e não foi muito bem recebido por aqui), mas sintetiza perfeitamente o tipo de cinema e interpretação que colocou a atriz entre as mais importantes de sua geração. Como a  perturbada atriz Havana Segrand, que vê a possibilidade de voltar a brilhar no cinema depois de anos amargando uma carreira decadente, Julianne Moore se despe de vaidades em um desempenho bastante corajoso. Se o Globo de Ouro inexplicavelmente deu o prêmio de melhor atriz em comédia para Amy Adams por Grandes Olhos, pelo menos temos como consolo (e que consolo!) o fato de Cannes ter premiado Moore por sua atuação no filme de David Cronenberg. Ela não era a melhor na disputa, mas, se tratando dela, isso não vem muito ao caso, especialmente em um filme como esse…

Voltando ao assunto de Cannes, quem realmente merecia o prêmio de melhor atriz no festival francês era Marion Cotillard, que tem mais uma atuação marcante em Dois Dias, Uma Noite. Merecia não só porque seu histórico em Cannes já é longo, mas porque a francesa tem a carreira mais exemplar da atualidade (qual atriz estrangeira equilibra com tanta qualidade trabalhos no seu país de origem e nos Estados Unidos?) e porque ela está realmente fantástica no mais recente filme dos irmãos Dardenne. Como Sandra, mulher que perde o emprego após uma votação que lhe exclui do ambiente para que seus colegas possam receber um bônus de final de ano, Cotillard eventualmente emociona quando não contem o choro, mas impressiona de verdade quando aposta na discrição de uma personagem extremamente crível. Se não fosse por Piaf – Um Hino ao Amor, que é coisa de outro mundo, este certamente seria seu momento mais marcante.

Ainda entre as francesas, Juliette Binoche esteve novamente superlativa em Acima das Nuvens, repetindo um nível de excelência cujo último marco deve ter sido Cópia Fiel. E não está sozinha: acompanhada de uma surpreendente Kristen Stewart, La Binoche forma com a jovem atriz uma das parcerias mais interessantes deste ano. Enquanto a francesa tem obviamente um papel muito mais complicado (a atriz que é chamada para fazer o remake de um filme de sucesso que protagonizou anos atrás, mas agora com um papel diferente), Stewart não se intimida frente à veterana e responde à altura, especialmente nas cenas de ensaio onde realidade e ficção constantemente se confundem. É um trabalho complementar e de pura sinergia que extrai o melhor de cada uma delas.

O cinema ganhou uma nova heroína nos filmes de ação e, de repente, o mundo se tornou um lugar melhor. A saudade dos tempos em que Sigourney Weaver marcou gerações como a forte protagonista da quadrilogia Alien já era grande, mas George Miller veio colocar ordem na indústria machista. Charlize Theron, que funciona muitíssimo bem quando comandada pelos diretores certos, é um verdadeiro ícone em Mad Max: Estrada da Fúria. Tom Hardy fica praticamente de escanteio quando Theron entra em cena e passa a movimentar toda a frenética trama deste filme que também é um marco do cinema contemporâneo. A atriz dá conta do trabalho físico e do drama, com uma interpretação cheia de personalidade e que mostra que a vida na sétima arte seria muito melhor se mais figuras femininas liderassem histórias como essa. Bravo!

A torcida para Regina Casé chegar ao Oscar é grande, e Que Horas Ela Volta? tem tudo para chegar entre os escolhidos da Academia pelo menos na categoria de filme estrangeiro. Só que, na boa, Casé pode até dar um show, mas é impossível lembrar de sua Val sem dar o devido reconhecimento à Camila Márdila como a jovem Jéssica. É mais um trabalho fantástico de duas atrizes na mesma cena em 2015, onde o roteiro de Anna Muylaert dá todas as chances para as duas brilharem: mãe e filha se conhecem e reconhecem em uma história muito brasileira mas ao mesmo tempo bastante universal. A química entre as duas é perfeita, o que proporciona ao filme – já inteligente por si só – momentos realmente belos, tocantes e até mesmo provocadores. No elenco de suporte, Karine Teles também faz bonito como a patroa Bárbara. Que Horas Ela Volta? é o show das mulheres!

Mais uma européia para a lista: a britânica Charlotte Rampling, que está marcante em 45 Anos. Ela foi a única concorrente ao Urso de Prata do Festival de Berlim deste ano que conferi, mas acho difícil contestar a honraria para Rampling, cujo papel é dos mais interessantes: a da agora atormentada esposa que precisa rivalizar com um fato inalcançável do passado de seu marido (Tom Courtenay, também premiado em Berlim como melhor ator). Como boa britânica, Rampling interioriza os sentimentos de sua Kate a cada cena, tornando a angústia da personagem – e consequentemente a nossa – ainda maior diante do novo comportamento do marido. É brilhantismo que talvez só veteranas como ela possam trazer, principalmente em sequências como a de encerramento, bonita por si só mas que ganha uma força inesperada nas mãos de Rampling.

MENÇÕES HONROSAS: Em Dívida de Honra, surpreendente western dirigido por Tommy Lee Jones, Hilary Swank sai da zona de sua zona de conforto para entregar um desempenho firme e ao mesmo tempo delicado | Quase não visto aqui no Brasil, Dois Lados do Amor traz uma Jessica Chastain inspirada na trágica história de um romance despedaçado Com Ricki and the Flash, Meryl Streep afirma (pela milésima vez) que não existe atriz mais camaleônica do que ela em atividade – e talvez na história! | Emily Blunt é excelente comediante, mas também manda muito bem no drama, e Sicario: Terra de Ninguém lhe dá um dos papeis mais importantes da sua carreira.

6 comentários em “Os grandes desempenhos femininos de 2015

  1. Ótimas considerações! Ainda mais por ter lembrado de Julianne por “Mapa para as Estrelas” e não “Para Sempre Alice”. Ela está ótimo no filme que lhe rendeu o Oscar, mas ela consegue ir além em “Mapa para as Estrelas”, e como vai!

    Gostei também da dobradinha Stewart e Binoche em “Acima das Nuvens”. Stewart está realmente surpreendente, mesmo que não saia muito da sua zona de conforto.

    • Alan, até hoje não engolia a Julianne Moore ter perdido aquele Globo de Ouro por “Mapa Para as Estrelas” para a Amy Adams em “Grandes Olhos”!

  2. gostei da lista! poderia fazer uma igual para as atrizes da Tv.

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