43º Festival de Cinema de Gramado #1: a lei do talento

Marília Pêra é a 25ª homenageada do troféu Oscarito, a mais tradicional distinção entregue pelo Festival de Cinema de Gramado. Foto: Priscila Prade

“Eu adoro Gramado!”. Esse foi o primeiro pensamento que Marília Pêra teve quando recebeu o convite da organização do Festival de Cinema de Gramado para ser a 25ª homenageada do troféu Oscarito. A distinção é destinada a grandes atores do cinema brasileiro e, nas suas bodas de prata, traz novamente à cidade gaúcha a consagrada atriz, que já levou para casa dois Kikitos: um em 1983, por Bar Esperança – O Último Que Fecha, e outro em 1987, por Anjos da Noite. “Volto ao Festival com muita alegria, e a minha expectativa é que tudo seja muito lindo”, comenta Marília.

A relação com as artes vem do berço – seus pais Dinorah Marzullo Pêra e Manoel Pêra também eram atores -, e o convívio com as artes desde a infância foi fundamental para o caminho que a pequena Marília viria a percorrer ao longo de sua vida. Já aos quatro anos, ela pisou pela primeira vez nos palcos com a tragédia grega Medeia e, a partir daí, só se aperfeiçoou: de espetáculos marcantes como a clássica montagem de My Fair Lady, com Bibi Ferreira e Paulo Autran, ao protagonismo de peças sobre figuras emblemáticas como Dalva de Oliveira e Maria Callas, o indiscutível talento de Marília Pêra ultrapassou as fronteiras brasileiras, chegando a diversos países do mundo. Na França, por exemplo, foi ovacionada pela crítica parisiense por sua personificação da lendária estilista Coco Chanel no espetáculo Mademoiselle Chanel.

Dos palcos foi para a TV, onde, em 1965, teve a sua primeira aparição em Rosinha do Sobrado, na rede Globo. Rosinha também é curiosamente o nome de seu primeiro papel no cinema, que veio logo dois anos depois da estreia na telinha. Em O Homem Que Comprou o Mundo, Marília Pêra começou sua trajetória cinematográfica com o pé direito: dirigida pelo saudoso mestre Eduardo Coutinho, dividiu a cena desta sátira do regime militar no Brasil com Flávio Migliaccio, Milton Gonçalves, Hugo Carvana, Cláudio Marzo e Raul Cortez. Desde então, foram nada menos do que 23 filmes sob a tutela de nomes como Cacá Diegues, Domingos Oliveira, Hector Babenco e Walter Salles.

Na memória da atriz estão os dois filmes que lhe consagraram em Gramado. Com Bar Esperança, as lembranças são para lá de carinhosas: “Esse é um filme que o querido Hugo Carvana dirigiu com muita soltura e improviso. Nós podíamos brincar como quiséssemos e ele ajustava depois. Tudo era uma brincadeira em Bar Esperança, mas uma brincadeira organizada, claro”, brinca Marília. Já em relação a Anjos da Noite a palavra de ordem durante as gravações foi dedicação. “Tive um papel relativamente pequeno, mas a experiência foi dificílima, já que filmávamos apenas a noite e era sempre frio. A produção também envolvia maquiagem, coreografias, vestidos costurados diretamente no corpo… Foi um desafio!”, relembra.

É impossível, no entanto, falar da carreira da Marília Pêra no cinema sem mencionar Pixote – A Lei do Mais Fraco. Dirigido por Hector Babenco em 1981, o longa garantiu o prêmio de melhor atriz na Boston Society of Film Critics Awards. Contando a triste realidade dos meninos de rua, Pixote viajou o mundo e conquistou ainda uma indicação ao Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. “Pixote foi fundamental para a minha carreira de atriz, pois me deu um aprendizado muito grande sobre cinema. Foi um filme que confirmou o que eu já sabia sobre essa realidade específica do Brasil. Quando vi pela primeira vez, me enchi de medo e orgulho. Medo pela crueza dos detalhes com que mostramos a realidade do abandono e orgulho de estar em um filme dirigido com tanta precisão”, comenta.

O reconhecimento nacional e internacional de público e crítica orgulha Marília Pêra, mas, quando pensa sobre tudo o que conquistou até aqui como atriz, diretora e bailarina, o que mais toca seu coração é a lembrança familiar: “Venho de uma família de atores que viveram uma época onde não existia divulgação ou incentivo ao teatro no Brasil. Meus pais, por exemplo, foram profissionais que se dedicaram a vida inteira a esta arte e morreram sem reconhecimento e com dificuldades financeiras. Eu já vivo uma outra realidade, e me deixa muito contente esse privilégio de viver uma época completamente diferente e de ter conquistado tantas coisas como atriz”.

A ampla trajetória de Marília Pêra no cinema será rememorada pelo Festival de Cinema de Gramado com o troféu Oscarito. “Eu adoro Gramado! E isso vem antes do próprio Festival existir. Quando ia a Porto Alegre, sempre viajava a Gramado de carro, por prazer mesmo, só por estar lá. Fiquei muito contente com a homenagem, já que, além de conhecer bem a importância do Festival de Cinema de Gramado, tenho uma grande família aí no sul. Quando vou a Pelotas, sempre aparece um primo, um tio ou um novo Pêra. Estar entre os gaúchos é uma grande alegria. É o meu ninho!”, conta. Marília Pêra recebe o troféu Oscarito na noite do dia 11 de agosto no Palácio dos Festivais.

* matéria originalmente produzida para a assesoria de imprensa do 43ª Festival de Cinema de Gramado

Um comentário em “43º Festival de Cinema de Gramado #1: a lei do talento

  1. Marília Pêra é uma entertainer nata! Grande atriz, grande cantora, grande intérprete. Totalmente merecedora da homenagem que será feita no Festival de Cinema de Gramado neste ano!

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