
Gaspard Ulliel e Louis Garrel estrelam a segunda cinebiografia sobre Yves Saint-Laurent que chegou aos cinemas em 2014. Apesar da seleção para Cannes, o filme está longe de captar intimamente a lenda que era o estilista francês.
CAKE: UMA RAZÃO PARA VIVER (Cake, 2014, de Daniel Barnz): Vítima da antiga maldição dos atores de TV que não conseguem fazer carreira no cinema, Jennifer Aniston volta a provar que, dos seus colegas de Friends, ela é, sem dúvida, a que mais chegou longe. E isso não tem nada a ver com a infinidade de comédias (bobocas, diga-se de passagem) que Aniston protagonizou, mas com filmes sensíveis e que representam desafios para sua vida de atriz, como Por Um Sentido na Vida e A Razão do Meu Afeto. Só que fazia tempo que Aniston não participava de algo relevante, e Cake: Uma Razão Para Viver veio para mudar este cenário. Ainda que não seja uma injustiçada do Oscar 2015 (muitos reclamam que Marion Cotillard teria roubado a sua vaga com Dois Dias, Uma Noite), a atriz está particularmente bem aqui, conseguindo administrar uma personagem difícil e até mesmo desagradável. Já o filme não chega a engrenar e, com exceção da atuação de Aniston, da boa presença de Adriana Barazza e de uma ótima regravação de Halo, da Beyoncé, Cake pouco surpreende como um drama independente norte-americano.
A ESTRADA 47 (idem, 2014, de Vicente Ferraz): Gerou grande polêmica a vitória de A Estrada 47 no Festival de Cinema de Gramado ano passado. E não é só porque A Despedida, de Marcelo Galvão, era claramente o melhor trabalho em competição, mas também porque o filme de Vicente Ferraz está longe de ter qualquer brilho. Fora a história diferenciada (você sabia que o Brasil também lutou na Segunda Guerra Mundial?) não há absolutamente nada de novo – ou até mesmo envolvente – na execução em si. O comprometimento da equipe com a trama está explícito na tela, bem como a qualidade técnica: A Estrada 47 foi filmado no inverno italiano e os atores enfrentaram estas condições bravamente. O ritmo, entretanto, não ajuda, e o resultado é arrastado e nada instigante. Faltam conflitos pessoais consistentes (eles estão meramente abreviados em uma narração do protagonista Daniel de Oliveira) e envolvimento com a guerra. Ainda tento compreender o porquê desta história ter conquistado Gramado e, posteriormente, o Cine Ceará, onde também foi consagrado como melhor filme.
SAINT-LAURENT (idem, 2014, de Bertrand Bonello): Foram produzidas duas cinebiografias sobre o lendário estilista Yves Saint-Laurent em 2014. A primeira, realizada de forma mais tímida e com equipe pouco conhecida, já era decepcionante, o que nos levava a acreditar que Saint-Laurent, selecionada para a competição do Festival de Cannes daquele ano, pudesse suprir as lacunas deixadas sobre a vida do protagonista no cinema. A má notícia é que nada adiantou trazer dois jovens galãs contemporâneos da filmografia francesa para fazer este trabalho alçar voo. Infinitamente mais cansativo e decepcionante que o longa anterior sobre Laurent, o registro de Bertrand Bonello é confuso no desenho dos personagens e principalmente nos saltos temporais que faz ao longo de intermináveis 150 minutos. Continuamos sem saber quem era de fato Yves Saint-Laurent intimamente, e suas aventuras sexuais regadas a drogas pouco ajudam o espectador a se envolver com o confuso e problemático ser humano que ele era. Construindo um personagem muito mais afetado do que Pierre Niney na outra biografia, Ulliel é mais sedutor do que bom ator como Laurent – o que parece ser sua única arma para se destacar em um filme problemático, vazio e sem força. Somente na cena em que o protagonista mostra a uma mulher como ela pode se tornar alguém mais radiante com as roupas certas é que Saint-Laurent capta o estilista em sua profissão e espírito.
Não assisti a nenhum dos três filmes destacados, mas tenho muita curiosidade para ver “Cake” e “Saint-Laurent.
Kamila, esses dois filmes me decepcionaram =/