Tell me something I can hold on to forever and never let go.
Direção: Lee Toland Krieger
Roteiro: J. Mills Goodloe e Salvador Paskowitz
Elenco: Blake Lively, Michiel Huisman, Harrison Ford, Ellen Burstyn, Kathy Baker, Amanda Crew, Lynda Boyd, Hugh Ross, Richard Harmon, Anjali Jay, Hiro Kanagawa, Peter J. Gray
The Age of Adeline, EUA, 2015, Drama, 112 minutos
Sinopse: Adaline Bowman (Blake Lively) nasceu na virada do século XX. Ela tinha uma vida normal até sofrer um grave acidente de carro. Desde então, ela, milagrosamente, não consegue mais envelhecer, se tornando um ser imortal com a aparência de 29 anos. Ela vive uma existência solitária, nunca se permitindo criar laços com ninguém, para não ter seu segredo revelado. Mas ela conhece o jovem filantropo, Ellis Jones (Michiel Huisman), um homem por quem pode valer a pena arriscar sua imortalidade.
A imortalidade é um dos sonhos mais antigos da humanidade. Que maravilha seria não envelhecer e ter todo o tempo do mundo para ver filmes, ler livros, descobrir músicas e conhecer todos os lugares do mundo, certo? Por outro lado, assim como no recente Amantes Eternos, A Incrível História de Adaline vem para assinar embaixo da teoria de que ter todo o infinito pela frente pode ser pra lá de desinteressante – e, no caso deste filme protagonizado pela gossip girl Blake Lively, uma condição especialmente dolorosa. Para Adaline, qual o sentido de ter a imortalidade em suas mãos se todos a sua volta não partilham da mesma “bênção”? Apaixonar-se, por exemplo, significa – que surpresa! – sofrer, já que a pessoa amada vive com um prazo de validade, e ter filhos é ver sua próxima geração dar adeus à vida antes de você. Por ter esse enfoque diferenciado em relação a uma das utopias mais clássicas do mundo, A Incrível História de Adaline conquista – e sua boa execução só impulsiona a agradável experiência que o filme proporciona.
Enquanto Jim Jarmusch olhava para a imortalidade com fadiga, o diretor Lee Toland Krieger o faz com pesar. A escolha é imensamente mais arriscada, por duas razões bem simples: A Incrível História de Adaline poderia cair facilmente para o melodrama ou apelar apenas para escolhas fáceis afim de agradar o grande público, visto que sua protagonista vem de um relevante sucesso televisivo nos Estados Unidos – e comercialmente tem a chance de mobilizar este público para as salas de cinema (não à toa a tradução brasileira é espetaculosa se comparada ao título original). Ainda que com ressalvas, o longa consegue sim se esquivar dos defeitos que poderiam estragar seu resultado, acumulando apenas um erro que, caso suprimido, poderia deixar A Incrível História de Adaline mais envolvente. Ao invés de apenas deixar no ar ou tornar fabulesca a magia que impede Adaline de envelhecer, o filme prefere racionalizar a situação com explicações físicas para justificar o fato – e por isso mesmo não é muito difícil deduzir como a situação se resolverá. Tirar um pouco os pés do chão só faria bem ao roteiro da dupla J. Mills Goodloe e Salvador Paskowitz.
Mais importante do que ter uma boa parte técnica a serviço das transições de época encenadas nos flashbacks (a direção de arte e os figurinos acompanham de forma irrepreensível o passar das décadas), A Incrível História de Adaline ganha verossimilhança principalmente pela escolha de seu elenco. Blake Lively prova ter fôlego e simpatia de sobra para carregar um papel que deve esconder o sofrimento de sua condição ao mesmo tempo que precisa irradiar a suposta empolgação de uma juventude cheia de possibilidades. Ela contracena com dois atores experientes e que, dada a proporção de seus papeis, conseguem ter aparições bem dignas: Harrison Ford e Ellen Burstyn, com ele sendo a chave de um dos momentos mais instigantes da trama. Os veteranos incrementam a boa sensação de que A Incrível História de Adaline tem coração e não é meramente uma brincadeira romântica ou dramática envolvendo a fantasia de nunca envelhecer.
É acertada a escolha do roteiro em não estruturar a cronologia da história de forma linear, já que brincar com o tempo poderia levar o filme de Krieger a se perder na transição das décadas com excesso de situações, personagens e até mesmo alegorias de maquiagens e figurinos. A construção só se beneficia com a opção de mostrar o passado apenas quando precisa justificar os porquês das atitudes de Adaline. O que não deixa mesmo que A Incrível História de Adaline seja uma experiência completa é querer explicar uma condição fantasiosa que não precisava de justificativas. Todos nós sabemos que deixar de envelhecer é simplesmente impossível. Por isso, não há narração que possa nos convencer que trovões e descargas elétricas são capazes de alterar o percurso natural da vida. É para se celebrar, no entanto, que tais explicações (pontuadas, claro, por um narrador onipresente) surjam apenas no início e no final do filme – ou não, já que estes são momentos cruciais em uma experiência cinematográfica. No caso de Adaline, os maiores problemas estão justamente aí.