A maior surpresa do cinema em 2014 veio da Argentina. Não há como negar toda a genialidade de Relatos Selvagens, um filme que consegue achar o balanço perfeito entre o popular e o refinado, entre a acidez e a sutileza. Praticamente uma unanimidade, o longa de Damián Szifrón ainda alcança um feito que até então parecia simplesmente impossível: o de contar várias histórias paralelas sem que elas destoem umas das outras em termos de qualidade. O elenco, que vai do astro Ricardo Darín a revelações da TV argentina, interpreta os personagens com grande verossimilhança, dando total sentido a cada história que mostra como qualquer pessoa é suscetível a perder o controle em situações extremas. Divertido do início ao fim graças a todos estes elementos, Relatos Selvagens é uma rara produção que consegue dialogar com todos os públicos sem nunca apelar para escolhas tolas ou previsíveis. É um trabalho surpreendente que mereceu ir de Cannes ao Oscar e ainda de quebra receber o aplauso do público. Confira abaixo os outros filmes do nosso top 10 de 2014 com trechos das críticas publicadas aqui no blog.
EM ANOS ANTERIORES: 2013 – Gravidade | 2012 – Precisamos Falar Sobre o Kevin | 2011 – Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 | 2010 – Direito de Amar | 2009 – Dúvida | 2008 – WALL-E | 2007 – O Ultimato Bourne
•••
2. GAROTA EXEMPLAR, de David Fincher: “É a partir da desconstrução de Amy (Rosamund Pike) que o filme abandona a mera – mas envolvente – investigação policial para se tornar um incrível estudo de personagem. Existe o lado de Ben Affleck, mas é a personalidade de Amy, a mulher desaparecida, que movimenta a trama. A partir de uma surpreendente revelação ainda em sua metade, Garota Exemplar passa a fugir de escolhas fáceis neste sentido, tornando-se uma viagem imprevisível para qualquer espectador”.
3. O GRANDE HOTEL BUDAPESTE, de Wes Anderson: “Não dá para esconder o entusiasmo com essa escalada que Wes Anderson vem fazendo nos últimos anos, especialmente quando seu mais novo longa não tem um ingrediente novo sequer: é simplesmente o aperfeiçoamento de várias escolhas recentes. Ao contrário de outros realizadores que erram ao repetir estilos, Anderson só se aprimora – e o resultado em momento algum descamba para a reciclagem”.
4. NEBRASKA, de Alexander Payne: “Nebraska é um road movie, um olhar crítico e rabugento da terceira idade, um relato sobre comunicação entre gerações e um belo estudo sobre como pais influenciam filhos e vice-versa. Tudo com a devida calma e sutileza, trazendo aquela sensação tão frequentemente errada de que nada está acontecendo”.
5. O LOBO ATRÁS DA PORTA, de Fernando Coimbra: “Não existem respostas ou julgamentos certos para tudo o que acontece em O Lobo Atrás da Porta. É apenas o retrato franco do quanto o ser humano faz o que bem entende para não se prejudicar ou simplesmente apenas para curar mágoas e injustiças. E falar mais do que isso é estragar as pequenas grandiosidades desse que é, sem dúvida, um dos melhores filmes do ano”.
6. FROZEN – UMA AVENTURA CONGELANTE, de Chris Buck e Jennifer Lee: “Emotivo e funcional, Frozen tem um excelente ritmo, agrada crianças e adultos e é um verdadeiro sopro de originalidade, força, carinho e cinema em tempos que as animações reforçam a falta de inspiração. Belíssimo início de – quero acreditar – uma necessária retomada do gênero”.
7. ALABAMA MONROE, de Felix Van Groeningen: “Cada alegria de Alabama Monroe é profundamente triste, o que demanda do espectador uma grande força para acompanhar essa viagem constantemente dolorosa. Na equação, adicione ainda um melancólico repertório folk (o casal dedica a vida à música), que é certeiro ao mexer gradativamente com os sentimentos da plateia”.
8. ELA, de Spike Jonze: “Saímos do cinema um tanto arrasados, mas também esperançosos com a vida e com a possibilidade de que, ao contrário do que aponta o protagonista, existem sim novos sentimentos e acontecimentos pela frente. Cabe a nós torná-los uma realidade”.
9. ATÉ O FIM, de J.C. Chandor: “Além da direção de Chandor, a inteligente fotografia (subaquática ou não), o estupendo trabalho de som e a certeira trilha sonora de Alexander Ebert ajudam o filme a alcançar toda esse sentimento com muita plausibilidade e com situações nada apelativas. Mesmo o final, que parece tão simples e fácil, pode não ser tão simples assim e apresentar uma outra simbologia”.
10. PHILOMENA, de Stephen Frears: “Philomena é realmente um filme feito de coração, protagonizado por uma atriz que não parece fazer um esforço sequer para ser adorável, crível e encantadora. É do DNA dos britânicos a sobriedade, e Stephen Frears, como um dos expoentes deles, consegue concentrar essa característica em todas as escolhas do seu mais novo longa”.