
Um Santo Vizinho repete a história do senhor rabugento que muda sua percepção do mundo ao conviver com uma criança, mas o filme estrelado por Bill Murray foge do lugar comum por fazer tudo com delicadeza
PERMANÊNCIA (idem, 2015, de Leonardo Lacca): Grande vencedor do Cine PE 2015 (foram cinco prêmios, incluindo melhor filme), Permanência é sobre o vazio deixado por relacionamentos marcantes. Não pense, entretanto, que a história é repleta de frases de efeito ou situações que escancarem essa temática. Pelo contrário: o tom adotado aqui é totalmente o oposto, onde olhares e silêncios comunicam muito mais do que qualquer diálogo expositivo. É daí que vem grande parte da angústia que Permanência causa: ao mesmo tempo em que é perceptível que o reencontro de Ivo (Irandhir Santos) e Rita (Rita Carelli) desperta nos dois lembranças e sentimentos há muito tempo adormecidos, nunca nenhum dois verbaliza as sensações dessa retomada de contato. A jogada é perfeita, uma vez que, ao não explicar absolutamente nada sobre o passado dos dois ou muito menos as razões que os separaram, Permanência cresce gradativamente em cada gesto ou escolha de mise en scène. Tudo ganha ainda mais força, claro, com os ótimos desempenhos de Irandhir Santos e Rita Carelli, ambos impecáveis na construção detalhista de seus personagens.
UM SANTO VIZINHO (St. Vincent, 2014, de Theodore Melfi): Se comandada com sutileza, a história do velhinho rabugento que desabrocha ao conviver com uma criança pode ser envolvente. É o caso deste singelo Um Santo Vizinho, que ganhou relativa repercussão por concorrer ao Globo de Ouro 2015 nas categorias de melhor filme e ator comédia/musical (em um ano não tão forte para essas categorias, diga-se de passagem). É provável que a força da história esteja mesmo nas mãos do elenco, mas existe muita delicadeza na direção de Theodore Melfi, cujo trabalho alcança um bom equilíbrio na hora de estabelecer as relações entre os personagens. O resultado é bastante crível, o que faz com que o espectador não pense duas vezes antes de torcer pelas figuras em cena – todas elas, por sinal, representando seres humanos perdidos e em busca de algum significado para suas respectivas vidas. Enquanto Bill Murray sai do piloto-automático e entrega um dos seus desempenhos mais interessantes dos últimos anos, Melissa McCarthy pela primeira vez surpreende ao surgir emotiva e contida como a mãe do jovem Oliver (Jaeden Lieberher, absurdamente desenvolto e simpático). Uma experiência, vale ressaltar, diferente do que o material de divulgação indica – e no bom sentido.
VELOZES & FURIOSOS 7 (Fast & Fourius 7, 2015, de James Wan): O numeral do título assusta, pois obviamente nenhuma história criada originalmente para o cinema tem um arco dramático tão interessante para se sustentar ao longo de sete filmes. Mas o grande público parece não ligar para isso, já que Velozes & Furiosos, dirigido pelo malásio James Wan (dos ótimos Jogos Mortais e Invocação do Mal), já chegou ao top 5 de maiores bilheterias da história. Sinceramente, o sucesso estrondoso deve ser fruto da comoção de ver pela últimas vez nas telas o galã Paul Walker, falecido em 2013. Isso porque o sétimo volume da franquia em nada se difere das produções do gênero. Ou seja, a ação é mentirosa (uma gota de sangue não é derramada e os carros chegam a voar pelos ares de paraquedas!), as lutas são excessivamente coreografadas e tudo não passa de uma série de pretextos bobos para muita ação e correria. Coloque nessa mistura a velha história de vingança e a última missão de alguém que está prestes, e você terá toda a previsibilidade de Velozes & Furiosos. Nada que ofenda, mas um pouco de originalidade não faria mal a ninguém…
VINGADORES: ERA DE ULTRON (Avengers: Age of Ultron, 2015, de Joss Whedon): As bilheterias continuaram respondendo à altura, mas ninguém parece ter se entusiasmado muito com essa continuação do primeiro Vingadores de 2012. A certa indiferença é compreensível, visto que a sequência comandada novamente por Joss Whedon apenas repete a velha fórmula dos filmes de heróis que vemos hoje em dia. Nesse caso, tudo parece mais genérico, desde a ação megalomaníaca que coloca a vida de milhões de pessoas em risco ao excesso de cacoetes que trazem os protagonistas lançando piadinhas a cada cinco minutos. Falta uma trama mais à altura da celebração que é ver figuras tão emblemáticas do universo dos quadrinhos reunidas na tela. Ainda assim, Vingadores: Era de Ultron tem seu senso de diversão e consegue ser um bom passatempo. Além dos problemas citados, é necessário também deixar de lado as asneiras envolvendo declarações xenofóbicas e machistas dos atores do filme para encarar a aventura como uma opção descompromissada para um sábado à tarde com os amigos.