Don’t worry. Thinking comes later.
Direção: Paul Thomas Anderson
Roteiro: Paul Thomas Anderson, baseado no livro “Inherent Vice”, de Thomas Pynchon
Elenco: Joaquin Phoenix, Josh Brolin, Katherine Waterston, Owen Wilson, Reese Witherspoon, Benicio Del Toro, Jena Malone, Maya Rudolph, Martin Short, Eric Roberts, Serena Scott Thomas, Martin Dew, Michael Kenneth Williams, Hong Chau, Christopher Allen Nelson
Inherent Vice, EUA, 2014, Comédia/Policial, 148 minutos
Sinopse: O novo longa dirigido por Paul Thomas Anderson conta a história de um detetive particular que investiga o sequestro de um bilionário latifundiário. Joaquin Phoenix interpreta o protagonista da história, papel que quase foi de Robert Downey Jr. Adaptação de livro homônimo de Thomas Pynchon. (Adoro Cinema)
Paul Thomas Anderson tem se tornado um diretor cada vez mais específico – o que pode ser um grande elogio ou um grande problema, dependendo do ponto de vista. Verdade seja dita que ele nunca foi um diretor para as grandes massas (não são todos que têm fôlego para as mais de três horas de Magnólia ou disposição para a crueza da indústria pornográfica de Boogie Nights, por exemplo), mas com Vício Inerente ele realmente está um degrau acima quando o assunto é especificidade. Inclusive a crítica parece ter percebido essa viagem excessivamente particular, uma vez que, mesmo com uma indicação ao Oscar 2015 de melhor roteiro adaptado, o filme foi praticamente ignorado até mesmo pelos fãs de Anderson. A bilheteria também repercutiu o fracasso: Vício Inerente faturou mundialmente cerca de 11 milhões de dólares, o que não representa nem a metade do lucro de O Mestre, o filme mais complicado assinado pelo diretor até então.
Apresentando sua primeira comédia desde 2002, quando realizou Embriagado de Amor, o diretor, com Vício Inerente, chega perto de alcançar uma interessante estatística: do século XX, somente a década de 1930 não foi contemplada em sua filmografia. O que poderia ser somente um dado na realidade diz muito sobre a carreira de Anderson. Transitando pelas mais diversas temáticas, ele compreendeu com perfeição todas as épocas que decidiu retratar, justificando o prestígio que alcançou desde que se lançou no cinema. É uma pena, portanto, que Vício Inerente venha para quebrar em termos de qualidade esse belo ciclo. Cinema exige uma compreensão – consciente ou não – de técnicas e habilidades, mas também é cercado de sensibilidade e identificação. Às vezes, simplesmente não entramos na viagem proposta por determinada produção, independente dos nomes envolvidos ou da inegável qualidade técnica. Foi exatamente o que senti com Vício Inerente, que, para mim, resultou em basicamente uma viagem confusa, interminável e incrivelmente entediante.
Já foi dito pela internet que essa é uma obra de vibe. Ou seja, se você entrar na batida, tudo pode ser envolvente. Caso contrário, qualquer ingrediente incrementa a receita do desastre. Não poderia existir melhor definição para Vício Inerente, que, com o passar dos minutos, consegue se tornar cada vez mais desinteressante e incompreensível para quem não entra na viagem. Outro empecilho: estamos diante de uma comédia, gênero específico por si só e que aqui brinca basicamente com o mundo das drogas e eventualmente do sexo. Tem que se identificar com o humor para entrar na brincadeira. É exatamente esse o tom de uma história repleta de caminhos tortuosos e de milhares de personagens onde nem mesmo o elenco impressiona, incluindo o próprio Joaquin Phoenix, ator que, nos últimos anos, tem consolidado sua escalda como profissional com uma sequência de trabalhos impressionantes.
Talvez parte do roteiro embolado e do tom monótono de Vício Inerente esteja diretamente ligada ao seu material de origem: o livro homônimo escrito pelo estadunidense Thomas Pynchon. Conhecido por criar obras longas e complexas, Pynchon não é nada econômico: suas tramas são distribuídas em dezenas de personagens e em infinitas histórias paralelas. Pouco se sabe do processo criativo do autor, já que ele nunca concedeu uma entrevista sequer e muito menos se deixou ser fotografado após o lançamento de seu primeiro livro. Esse espírito literário do escritor parece mesmo estar fielmente reproduzido na adaptação de Anderson – o que significa que, além de não me despertar a mínima vontade de rever Vício Inerente para dar uma segunda chance, tampouco me instiga a procurar um romance de Pynchon para elucidar em outra arte o tanto que sofri ao longo de torturantes 148 minutos.
Nossa, minha opinião é exatamente igual à sua. O filme pra mim foi um suplício, não via a hora de acabar. De longe, o pior filme de Thomas Anderson.
Hugo, um imenso suplício! Até agora não sei como aguentei. O que houve com Paul Thomas Anderson?
Gosto de Paul Thomas Anderson. Acho ele um roteirista e diretor muito original. Tendo dito isso, me surpreende a sua opinião sobre “Vício Inerente”, que ainda não tive a chance de conferir.
Kamila, eu sou um grande fã de Paul Thomas Anderson, mas não deu para engolir este “Vício Inerente”. Quase não sobrevivi.