Let me love you, Claire!
Direção: Rob Cohen
Roteiro: Barbara Curry
Elenco: Jennifer Lopez, Ryan Guzman, Kristin Chenoweth, John Corbett, Ian Nelson, Lexi Atkins, Hill Harper, Jack Wallace, Adam Hicks, François Chau, Bailey Chase, Kent Avenido, Travis Schuldt, Brian Mahoney, Raquel Gardner
The Boy Next Door, EUA, 2015, Suspense, 91 minutos
Sinopse: Após ser traída pelo marido, a professora Claire Peterson (Jennifer Lopez) está em vias de se divorciar. Ela vive sozinha com o filho adolescente, até perceber que um jovem acaba de se mudar para a casa ao lado. O sedutor Noah Sandborn (Ryan Guzman) rapidamente oferece ajuda nas tarefas da casa e se torna o melhor amigo do filho de Claire. Aos poucos, o vizinho passa a seduzi-la, levando a uma noite de amor entre os dois. No dia seguinte, a professora está decidida que tudo foi apenas um erro, mas Noah não pretende abandoná-la tão cedo. O caso de amor torna-se uma perigosa obsessão. (Adoro Cinema)
Dizer que um filme é previsível está diretamente ligado com a bagagem da pessoa que faz tal afirmação. Se você considera algo óbvio é porque certamente já viu a mesma situação milhares de vezes – e mais: já deve ter visto também experimentos que servem como verdadeiras aulas sobre como escapar das armadilhas que afundam determinadas tramas em clichês e previsibilidades. Já Barbara Curry, a roteirista estreante de O Garoto da Casa ao Lado, não deve, no entanto, ter uma vida cinéfila muito dedicada, visto que seu trabalho para esse filme de Rob Cohen (Velozes e Furiosos, Triplo X) parece ser assinado por alguém que nunca viu sequer um suspense bobinho na vida. Para corroborar tal hipótese, listamos abaixo alguns elementos clássicos (no sentido ruim, claro) que estão amadoramente presentes no empoeirado O Garoto da Casa ao Lado:
a) Qual a necessidade de aprofundar personagens ao longo do filme? É melhor jogar tudo na tela de uma vez só
Nem bem o filme completou 10 minutos e todo o elenco de O Garoto da Casa ao Lado já foi apresentado com suas “personalidades” bem definidas. Da protagonista ao avô cadeirante do vizinho, os personagens já surgem com as suas personalidades escancaradas. Claire (Jennifer Lopez) é a professora bonitona carente, Noah (Ryan Guzman) é o novo vizinho cujos braços fetichizados com graxa e suor são mais atraentes para a câmera do que seu próprio rosto, Vicky (Kristen Chenoweth) é a melhor amiga engraçadinha que não tem vida pessoal e por aí vai… Acrescente à conta todo o histórico da nossa heroína condensado em diálogos incrivelmente simplistas e expositivos.
b) A protagonista está emocionalmente vulnerável
Não dá para fazer um suspense sem alguém viajando para curar uma mágoa ou buscando uma redenção. No caso de O Garoto da Casa ao Lado, Claire tenta superar a traição do marido, que dormiu com a secretária nove meses atrás. Ela ainda não assinou o divórcio, pois, no fundo, ainda gosta dele. O filho também é muito apegado ao pai, o que dificulta a situação. Mas não dá para apagar a traição da lembrança e Claire não consegue continuar com o marido assombrada por essa lembrança. Ela precisa de uma mudança na sua vida. E quem sabe o novo vizinho que acaba de se mudar para casa ao lado não pode ser o homem perfeito para mexer com a sua vida?
c) O novo pretendente é tudo aquilo que a protagonista precisava e o oposto de quem ela se relacionava
Se o marido de O Garoto da Casa ao Lado é um traidor, o vizinho é o romântico. Se o marido já é um homem de mais idade e de camisas sociais, o vizinho é o jovem sarado e irresistível de 20 anos que circula de regata. Os assuntos em um jantar já não são mais interessantes com o antigo cônjuge, enquanto com o novo interesse a paixão pela literatura é um belo afrodisíaco. O marido não soube preservar a família ao dormir com a secretária? Bom, o garoto ao lado se mudou para a cidade apenas para cuidar de seu avô doente. Tudo o que ela precisava! Clássico.
d) Os coadjuvantes basicamente não tem vida pessoal e servem apenas para morrer ou ouvir desabafos
O que a divertidíssima Kristen Chenoweth está fazendo nesse filme? Ela é um belo exemplo de um dos erros mais básicos dos filmes de suspense: a amiga sem personalidade e vida pessoal que serve apenas para dar conselhos à protagonista (Cissa Guimarães mandou lembranças aqui no Brasil). Faz uma piadinha aqui, outra ali, mas, no final das contas, não sabemos nada sobre sua personalidade. Enquanto isso, John Corbett vive o marido cuja missão é apenas aparecer insistentemente para dizer o quanto está arrependido e precisa do perdão da esposa. Nada mais. E o que dizer do avô do protagonista, que surge em duas cenas, sendo uma logo no início em uma cadeira de rodas e outra lá no final, onde está milagrosamente em pé perambulando pela casa só para dar um susto na protagonista?
e) As situações não prezam pela lógica e nunca aconteceriam na vida real
Como assim a protagonista transa com o tal vizinho e vira vítima de sua obsessão em silêncio? Tudo bem que ela não quer contar para o filho que dormiu com seu mais novo amigo ou muito menos arruinar sua carreira acadêmica, mas, espera… Será que essas desculpas são realmente suficientes quando o jovem se mostra cada vez mais psicopata colocando em risco a vida de todos? Não sei quanto a vocês, mas por mais que eu tenha cometido algum erro, prefiro não viver pensado que meus amigos e familiares podem por minha causa. E o que dizer, então, da cena em que Noah quase mata um aluno na frente de toda a escola (e da própria vice-diretora) e tudo o que ele ganha é… Uma expulsão? Ninguém denunciou essa tentativa de homicídio?
f) A burrice dos personagens, o suspense óbvio e o clímax estapafúrdio completam a festa
Qual a primeira coisa que você pensa quando alguém joga gasolina em todo um ambiente com um isqueiro na mão? Empurrar essa pessoa? Para Claire, é claro que sim! É mais um detalhe tolo de O Garoto da Casa ao Lado que serve de suporte para cenas preguiçosas de suspense. Ah, e não pode faltar a protagonista deletando arquivos de um computador enquanto o vilão perigoso se aproxima da casa. Óbvio que, nesse exato momento, a lixeira vai demorar mais do que o normal para se esvaziar. É tudo preparação de terreno para aquele clímax espetaculoso, onde todos vão estar amarrados e confinados em um mesmo ambiente sob a ameaça do revólver do protagonista. Aí tem luta, gritos fogo, cortes, facadas, injeção no olho… E o final vocês devem deduzir sem maiores dificuldades.
Deixando de lado a brincadeira, O Garoto da Casa ao Lado realmente é um filme preguiçoso e conduzido sem qualquer senso de humor. Se você dá risada do que acontece, é involuntariamente – o que só comprova como o diretor Rob Cohen errou no tom empregado ao filme. Chega a assustar como é possível prever a consequência de cada ação da história, que em momento algum chega perto de ser um guilty pleasure. É a velha tentativa de reproduzir os méritos de Atração Fatal (e, para começo de conversa, aqui ninguém é uma Glenn Close da vida) que mais uma vez vai por água abaixo. Não funciona como diversão (mesmo que o filme se proponha a ser propositalmente tosco a piada já é velha) e basta apenas um passar de olhos no Facebook do seu celular após a sessão para já esquecer a sessão. Não vou ao cinema para isso. O Garoto da Casa ao Lado não mancha a carreira de ninguém – até porque toda a equipe não tem nada em jogo -, mas fica para aquela listinha de produções que servem para você definitivamente dar uma aula sobre como não se fazer um filme de suspense.
Kamila, obrigado! :D
Bom, Matheus, posso dizer que essa é uma das melhores críticas que você escreveu. Tudo muito bem fundamentado!!!!