
Vencedor do Oscar 2015 de melhor filme estrangeiro, o polonês Ida vai além da elegante fotografia e entrega uma história sutil sobre descobertas e transformações.
FORÇA MAIOR (Force Majeure, 2014, de Ruben Östlund): Em um mundo que se discute cada vez mais o papel do homem e da mulher a proposta de Força Maior cai como uma luva. Quando um pai de família foge ao ver uma avalanche vindo em direção ao hotel onde está de férias com sua esposa e filhos, deixando todos para trás, uma crise se instala no clã: afinal, o que cabia ao pai da família fazer nessa situação? Existia uma reação correta? Se sim, para quem? A discussão é pra lá de válida e esse filme sueco dirigido por Ruben Östlund tem várias cenas que pontuam questões importantíssimas sobre o que é esperado de um homem e de uma mulher em situações decisivas. O conflito, no entanto, é apresentado logo no início da projeção e todo o filme se sustenta a partir de reflexões resultantes desse acontecimento. E aí está o detalhe que parece limitar tanto Força Maior cinematograficamente: a história é mais uma longa (e quase interminável) discussão de relacionamento entre um casal do que propriamente uma obra completa e instigante em outros aspectos além do texto. Interessante e atual, mas talvez pare por aí.
IDA (idem, 2014, de Pawel Pawlikowski): Vencedor do Oscar 2015 de melhor filme estrangeiro, esse longa polonês entrou em cartaz no Brasil ainda em dezembro do ano passado, fazendo uma trajetória tímida por aqui até começar a temporada de premiações. Por mais que meu coração seja todo do argentino Relatos Selvagens, não dá para contestar os prêmios para o trabalho de Pawel Pawlikowski, que anteriormente havia dirigido Emily Blunt em Meu Amor de Verão e Kristin Scott Thomas em Estranha Obsessão. É admirável a disciplina que Pawlikowski imprime em sua direção sem nunca deixar que Ida se torne uma experiência fria ou distante. Basicamente um road movie sobre uma jovem que está prestes a fazer seus votos para se tornar uma freira e parte em uma viagem para descobrir um pouco mais sobre seus antepassados, Ida é filmado em um elegantíssimo preto e branco e sem uso de trilha sonora, estudando sutilmente as transformações e questionamentos da protagonista frente ao passado de sua família. Os contrastes desenhados a partir da relação entre a jovem Anna (Agata Trzebuchowska) e sua tia Wanda (Agata Kulesza, maravilhosa) são o ponto alto da obra, que frequentemente tem sua atenção roubada pela segunda. Menos difícil do que aparentava (o que é ótimo), Ida é bastante objetivo, mas nem por isso menos envolvente.
SIMPLESMENTE ACONTECE (Love, Rosie, 2014, de Christian Ditter): Tinha tudo para ser uma adorável comédia romântica com selo britânico dirigida a adolescentes, mas Simplesmente Acontece desaponta em todos os sentidos. Além da temática ultrapassada (os amigos que se gostam secretamente mas nunca confessam seus sentimentos), o filme dirigido por Christian Ditter tem um sério problema de ritmo e frequentemente descamba para o pastelão. Pior: utiliza ferramentas fáceis e amadoras para fazer com que o espectador torça para os protagonistas, como colocar novos pretendentes insuportáveis para cada um deles ao longo do filme. Sem no carisma da dupla protagonista e em sua própria execução, Simplesmente Acontece, portanto, apela para o exagero e para a caricatura quando precisa mostrar que o destino dos protagonistas é inevitavelmente um relacionamento amoroso entre eles – e não com as irritantes figuras que passam por seu caminho. No meio de tudo isso, há espaço também para alguns momentos constrangedoras (a camisinha perdida dentro da vagina, a corrida até a escola com um pedaço da cama presa ao braço algemado) e outras bastante questionáveis (será mesmo que a amizade dos dois é realmente tão forte a ponto da garota esconder a todo custo do amigo a sua gravidez e o filho recém nascido?). Interminável, Simplesmente Acontece é aborrecido, previsível e frequentemente desonesto com o espectador. Precisamos torcer por uma química genuína e não porque o filme quer nos obrigar a isso forçando a barra com situações e personagens extremados.
Não assisti a nenhum dos três filmes, Matheus, mas gostaria muito de ter a chance de assistir a “Força Maior” e “Ida”.
Kamila, minha recomendação: se estiver que escolher, comece por “Ida”! :)