É a categoria que nos reservou a melhor surpresa de 2015. A francesa Marion Cotillard deveria ter sido considerada favorita para ser indicada à categoria desde sempre, mas, entre os grandes prêmios, somente o Oscar lembrou do desempenho dela em Dois Dias, Uma Noite. Não é só porque Cotillard vinha acumulando uma série de papeis injustiçados pela Academia (Inimigos Públicos, Nine, Ferrugem e Osso) que merecia estar aqui. Aliás, sua interpretação em nada chega entre as finalistas como uma mera reparação. Ela está de fato extraordinária no filme dos irmãos Dardenne, mas sua indicação surpreende porque não representa o tipo de papel que o Oscar costuma normalmente celebrar (aquele de poucas palavras e de choro contido). Mas parece que os votantes tiveram uma epifania e se deram conta do valor desse estilo de abordagem em 2015 (também considero Boyhood um exemplar disso). Lembrança mais do que merecida.
Já as outras concorrentes eram apostas certas para figurar aqui e, com exceção de Felicity Jones, em A Teoria de Tudo, todas entregam desempenhos pelo menos bastante acima da média. Jones não está ruim no filme de James Marsh, mas recebeu uma indicação apenas para cumprir uma frequente cota que o Oscar normalmente reserva para jovens estreantes. É um bom ano para as atrizes e quem deve mesmo levar a melhor é Julianne Moore, que, depois de quatro indicações sem vitória (podendo ter vencido em pelo menos duas ocasiões anteriormente), está com o papel certo no ano certo. Afinal, como rivalizar com uma veterana amada por todos, reconhecidamente injustiçada e que interpreta uma mulher sofrendo do mal de Alzheimer? Uma pena, no entanto, que Moore chegue à cerimônia com esse franco favoritismo por uma indicação que é a menos interessante entre todas que já recebeu ao prêmio. Mas não hesite: o prêmio sem dúvida é dela.
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FELICITY JONES (A Teoria de Tudo): Poderia realmente merecer a lembrança caso o filme estivesse focado mais na sua figura como prometia e não tanto na reprodução das deficiências do físico Stephen Hawking. Jones dá conta de suas cenas dramáticas e também esbanja carisma nos tempos de adolescente ao lado de Eddie Redmayne, mas, no fim, A Teoria de Tudo não aproveita tanto a intérprete. De qualquer forma, levando em consideração as politicagens do Oscar, sua indicação representa a cota de 2015 reservada para uma jovem atriz em ascensão. Pensando assim, a lembrança até que é coerente.
JULIANNE MOORE (Para Sempre Alice): Não tem como reclamar tanto da indicação pois é evidente que os votantes abraçariam este desempenho mais tradicional de Julianne Moore e não a sua ousada e ácida atuação em Mapa Para as Estrelas. Só que não deixa de ser frustrante ver mais uma grande atriz tendo que apelar para um papel formulaico para ganhar prêmios. Moore é sempre sensacional e aqui esbanja a sua humanidade incomparável de sempre, mas é óbvio que ela daria conta do recado – e, neste sentido, Para Sempre Alice não é nada desafiador ou aberto a criações para a atriz.
MARION COTILLARD (Dois Dias, Uma Noite): A grande surpresa do Oscar 2015 não poderia ser mais merecida. Em sua primeira colaboração com os irmão Dardenne, Marion Cotillard volta a provar o porquê de ser a atriz estrangeira com a carreira mais exemplar atualmente, conseguindo equilibrar com grande harmonia seus trabalhos em Hollywood com os filmes autorais que realiza em sua língua original. Aqui ela está particularmente notável, entregando um de seus melhores desempenhos até agora. Sem qualquer chance de vencer (até porque é uma francesa que já tem a estatueta em casa), é possivelmente a melhor atriz na disputa.
REESE WITHERSPOON (Livre): É fácil torcer o nariz para Reese Witherspoon porque até hoje é difícil engolir o fato de ela ter levado o Oscar de melhor atriz no ano em que a extraordinária Felicity Huffman concorria por Transamérica, mas sendo sensato dá para reconhecer o bom momento da atriz em Livre. É o seu trabalho mais relevante desde Johnny & June e bem possivelmente o mais interessante já realizado por ela. O filme em si funciona melhor quando fala do passado da protagonista, mas Reese consegue transitar com naturalidade entre todos os tempos da trama. Um marco para a carreira da atriz.
ROSAMUND PIKE (Garota Exemplar): O desempenho feminino mais visceral indicado ao Oscar 2015 corre por fora, o que é de se lamentar. Em um mundo ideal, Rosamund Pike seria franca favorita à estatueta ao lado de Marion Cotillard, deixando a escolha ser puramente em função do tipo de interpretação, já que as duas estão no mesmo nível. Entretanto, levando também em consideração que o próprio Garota Exemplar não caiu no gosto dos votantes (esta é a única lembrança reservada ao filme de David Fincher), não ajuda o fato de sua Amy Dunne ser uma personagem tão atípica para as preferências quadradas do Oscar. À parte isso, Rosamund está maravilhosa com essa personagem camaleônica que ela explora minuciosamente.
Em um mundo perfeito, Rosamund Pike seria a franca favorita seguida da ótima Marion Cotillard. Contudo, não vão vencer. É Oscar! A estatueta deve ir mesmo para Julianne Moore . E, embora esteja no meu TOP 5 de atrizes, sua vitória terá um gosto amargo para mim.
O problema não é premiarem ela por um papel formulaico. Streep venceu seus dois prêmios de atriz por papéis tidos como formulaicos. E venceu com todos os méritos. Winslet idem. Eddie Redmayne, favorito na categoria de melhor ator, tem um papel fórmula. E se levar, a vitória será para lá de merecida. A própria Julianne levou um Emmy para casa por um papel desse tipo. Mas alguém ousa questionar seu desempenho como Sarah Palin? Eu acho que não!
E qual é o problema então? A questão é que o papel de Moore em Still Slice não lhe confere possibilidades de ir além do comum. É uma personagem sem maiores nuances. Fosse a academia menos tradicional, Moore estaria levando por seu desempenho ácido em Mapas para as estrelas.
Das indicadas, eu só assisti à atuação fortíssima de Rosamund Pike, em ”Garota Exemplar”. Merecida a indicação dela, pelo excelente trabalho realizado no filme de David Fincher. O que eu fiquei pensando, após assistir a este filme, é que Julianne Moore deve estar realmente fantástica no seu papel, porque uma atuação dessa não ser considerada a favorita ao Oscar é algo a se pensar.
De toda maneira, como sou uma fã de Julianne Moore, estou ansiosa para ela viver o seu grande momento, finalmente, no palco do Kodak Theatre.
Kamila, tenho para mim que “Garota Exemplar” é um filme bastante subversivo para os padrões da Academia, mas é estranho o descaso com ele porque “Millenium” também era e, inclusive, chegou a ganhar um Oscar de montagem! Quanto ao fato da Rosamund não ser a favorita, é bem provável que isso venha muito do fato de ela ainda não ser uma atriz conhecida – ao contrário da Julianne Moore.
Embora “Dois Dias, Uma Noite” seja um filme com todas aquelas muletas recorrentes no cinema dos Dardenne, não há como não reconhecer Marion Cotillard como uma agradável surpresa entre as finalistas, pois aqui ela está realmente bem, externando uma dor que não soa calculada. No entanto, a minha torcida vai todinha para a Reese Witherspoon. Quem acompanhou a carreira dela desde o início, sabe o quão talentosa ela é e também o abismo que representou a sua fase pós-Oscar. Jones e Pike acabam sendo comprometidas com a mão pesada de seus diretores e Julianne Moore será laureada com o seu trabalho dramático mais insípido desde aquele horroroso “A Cor de Um Crime”.
Alex, adoro “Dois Dias, Uma Noite” e a Marion está em um de seus melhores momentos aqui. Sem falar que a lembrança também é de certa forma uma correção por tantos anos sendo esnobada depois de ter vencido por “Piaf”.
GENTE ROSAMUND ESTÁ MARAVILHOSA EM GONE GIIIILR <3
Lou, tá incrível! E é uma pena que não reconheceram o filme também.
verdade :( um suspense tão inteligente e envolvente
O nível não é alto, mas mesmo assim prefiro Moore. O fato é que se a estatueta viesse por “Mapa para as Estrelas”, seria um dos prêmios mais merecidos da história.
Brenno, acho um bom ano para as atrizes, mas, de fato, não extraordinário. Tenho um carinho imenso por Moore, acho que ela está ótima no filme e certamente vive um dos melhores momentos de sua carreira, mas também tenho uma forte implicância com o papel óbvio e nada desafiador para ela.