Oscar 2015: melhor atriz coadjuvante

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Entre as categorias de atuação, esta é certamente a mais fraca de 2015. Nenhum desempenho memorável está listado aqui e é muito claro o porquê de Patricia Arquette ser a favorita por seu desempenho em Boyhood: Da Infância à Juventude. Excetuando merecimentos (que serão comentados abaixo), seria muito improvável qualquer uma das outras concorrentes vencer, seja pelo número de estatuetas em casa (Meryl Streep nunca ganharia um quarto prêmio tão cedo, independente do papel) ou pelo timing (Emma Stone, uma atriz de comédias, ainda tem muito o que provar para ser consagrada a esse nível). Já Arquette vem de uma carreira tímida, finalmente se revelando com um papel agradável em um dos filmes mais badalados do ano. É fácil simpatizar com ela e sua personagem repleta de transformações ao longo da história.

Entretanto, assim como a própria situação de Boyhood, é estranho ver a Academia celebrando tão decididamente um estilo de interpretação que normalmente não é festejado. Foram inúmeras as atrizes preteridas e subestimadas pelo prêmio em função de seus papeis sutis e contidos. Se em 2013 os votantes preferiram a única cena avassaladora de Anne Hathaway em Os Miseráveis ao desempenho minucioso de Helen Hunt em As Sessões, por exemplo, fica complicado entender o porquê de agora terem mudado de ideia, especialmente em um ano em que todas as outras interpretações favoritas ao Oscar nas demais categorias refletem exatamente o que as premiações gostam de celebrar: deficiências, biografias e papeis viscerais.

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EMMA STONE (Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)): É bom ver que Emma Stone conseguiu distinguir sua carreira cômica da dramática, não repetindo qualquer tique das comédias que lhe lançaram ao sucesso. A atriz deve ter apenas um momento mais notável em todo o longa (aquele em que discute com o pai), mas sua presença é sempre um ponto positivo em Birdman, mesmo nas passagens mas corriqueiras. Ainda assim, é estranho vê-la indicada aqui enquanto Naomi Watts, sua companheira de elenco, tem basicamente as mesmas proporções de chance e destaque. Seria muito mais justo ter as duas concorrendo na categoria.

LAURA DERN (Livre): Tem apenas oito minutos em cena durante um filme de quase duas horas e suas cenas são distribuídas de modo que nenhuma delas dura mais do que 90 segundos. E mesmo assim é a indicada que mais me encantou. Todo mundo sabe que Laura Dern é grande atriz e capaz de iluminar qualquer filme. Por isso, sua escolha é tão perfeita para o que o papel representa: as lembranças como ela de fato são na vida. Dern surge aos poucos, em momentos breves, em pequenas memórias. Ninguém guarda cenas completas como recordações, e sim pequenos carinhos, saudades isoladas, sensações de pura emoção e afeto. É pela compreensão de tudo isso que Laura Dern em Livre me comove tanto.

KEIRA KNIGHTLEY (O Jogo da Imitação): Tenho grandes problemas com Keira Knightley, uma atriz que sempre me pareceu muito careteira e repetitiva (particularmente não consigo perceber qualquer criação da atriz que diferencie as suas personagens de época, por exemplo), mas aqui ela ela está notavelmente controlada. Muita de toda simpatia que Keira conquista no espectador vem de sua personagem, uma jovem prodígia e muito a frente de seu tempo, mas ela também tem seus méritos nessa construção. Discreta e eficiente, é um dos aspectos mais positivos dessa biografia que, assim como A Teoria de Tudo, não passa do nível convencional agradável. 

MERYL STREEP (Caminhos da Floresta): Dificilmente qualquer outra atriz que fizesse exatamente o mesmo papel seria indicada, mas esse é um dos benefícios de ser Meryl Streep. A Bruxa de Caminhos da Floresta está longe de figurar entre os papeis mais marcantes da atriz, mas o ano permite a lembrança em função do nível mediano de indicadas. Meryl tem pelo menos dois momentos bastante especiais: o de pura emoção em Stay With Me e o de fazer todo um elenco ficar parado observando seu talento em Last Midnight. Com humor e a devida malícia, a primeira bruxa da carreira de Meryl Streep é o ponto alto de um filme profundamente decepcionante.

PATRICIA ARQUETTE (Boyhood: Da Infância à Juventude): Sou grande fã do estilo de interpretação que Patricia Arquette representa em Boyhood. Menos é sempre mais e essa é certamente a lógica que Richard Linklater adotou em seu mais novo projeto. O problema é que Boyhood não dá um material lá muito interessante para Arquette desenvolver algo marcante. É quase primário, por exemplo, o seu drama de mãe que foge do marido abusivo (a pior parte do filme). Para realmente merecer alguma coisa, deveria ter mais passagens sinceras e tocantes como a em que fez um retrospecto de sua vida ao se despedir do filho. Do jeito que ficou, o menos de Arquette aqui é quase nada.

2 comentários em “Oscar 2015: melhor atriz coadjuvante

  1. Ainda não vi alguns dos desempenho. Mas fico feliz por Dern, grande atriz que é muito subestimada. Acho que a indicação pode dar um Up na carreira de Emma Stone, uma atriz que até aqui não havia dito a que veio. Já Em relação a Keira, fico surpreso com sua opinião. Achava que apenas eu tinha problemas com ela. Atriz extremamente errática, cheia de tiques esquisitos e maneirismos , está bem em O jogo da imitação. Contudo, preferia ver Rene Russo indicada por O Abutre.

    • Bruno, tenho grandes problemas com a Keira. Provavelmente “O Jogo da Imitação” seja o primeiro filme em que ela não me incomodou. Ontem ainda assisti a “Mesmo Se Nada Der Certo” e ela está bem contida nesse também! Será que agora engrena?

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