If you can take it, you can make it.
Direção: Angelina Jolie
Roteiro: Joel Coen, Ethan Coen, Richard LaGravenese e William Nicholson, baseado no livro “Unbroken: A World War II Story of Survival”, de Laura Hillenbrand
Elenco: Jack O’Connell, Domhnall Gleeson, Garrett Hedlund, Takamasa Ishihara, Finn Wittrock, Jai Courtney, Maddalena Ischiale, Vincenzo Amato, John Magaro, Luke Treadaway, Louis McIntosh, Ross Anderson, C.J. Valleroy
Unbroken, EUA, 2014, Drama, 137 minutos
Sinopse: O drama retrata a história real do atleta olímpico Louis Zamperini (Jack O’Connell), que sofre um acidente de avião e cai em pleno mar. Ele luta durante 47 dias para reencontrar a terra firme e quando consegue é capturado pelos japoneses em plena Segunda Guerra Mundial. (Adoro Cinema)
Existe um grande avanço de proporções e credibilidade envolvendo o fator Angelina Jolie na produção de Invencível. A atriz, que estreou na direção de longas-metragens de ficção em 2011 com Na Terra de Amor e Ódio, tem desacelerado sua carreira como atriz para se dedicar cada vez mais a causas humanitárias e ao relato de histórias que de alguma forma lhe encantam. De 2011 para cá, sua posição de diretora parece ter se consolidado, já que Invencível reúne muitos nomes consagrados do cinema. Do roteiro escrito a oito mãos pelos irmãos Coen, Richard LaGravenese (As Pontes de Madison) e William Nicholson (Gladiador) ao trabalho de fotografia do mestre Roger Deakins e de trilha sonora do francês Alexandre Desplat, o novo filme dirigido por Jolie, porém, sequer aproveita os talentos envolvidos com o projeto. Não adianta ter cacife para juntar as pessoas certas se a coordenação é errada. Por isso, ao final, invencíveis mesmo se tornam os espectadores por terem resistido a este longa convencional, cansativo, repetitivo e sem personalidade.
Explorando um pouco mais o seu fetiche com torturas, Angelina Jolie dessa vez aumenta a quantidade de violência em tempos de guerra com Invencível. Se no péssimo Na Terra de Amor e Ódio ela já demonstrava um certo masoquismo infundado com a relação entre torturados e torturadores, aqui a situação piora, com a diretora ambientando quase metade de seu longa em campos de detenção onde japoneses maltratam os estadunidenses durante praticamente 24 horas por dia – e durante longos minutos da história. Antes fosse a tortura uma ferramenta para engrandecer a heroica resistência do protagonista Louis Zamperini (Jack O’Connell, em bom desempenho), mas Invencível se utiliza apenas do choque pelo choque nas sequências envolvendo torturas, sem qualquer efeito dramático além, claro, do óbvio impacto visual das cenas físicas. É nesta eterna repetição de mostrar o sofrido dia a dia de Zamperini em terras inimigas que o filme se perde por completo, tornando-se incrivelmente arrastado e redundante.
Não fica muito evidente a razão que levou Angelina Jolie a ter se envolvido com esta história, especialmente quando ela, tão humanitária, faz um retrato unidimensional da trajetória do protagonista (e, aliás, por que só a história dele é heroica e também não a do seu amigo que passou basicamente pelas mesmas situações mas é esquecido ao longo da trama?). Em Invencível, mocinhos e vilões são perfeitamente identificáveis: enquanto os estadunidenses são os indefesos injustiçados, os japoneses são os crueis irracionais. Clint Eastwood sabe bem o poder de contar uma história abordando os dois lados da moeda (A Conquista da Honra e, principalmente, Cartas de Iwo Jima são exemplares nesta abordagem), mas Jolie parece não ter aprendido nada quando trabalhou com o veterano diretor em A Troca, fazendo de Invencível um filme sem qualquer complexidade em termos de guerra ou suas possibilidades dramáticas. Uma história como a de Louis Zamperini já é meio caminho andado rumo aos certos, mas o roteiro não está muito preocupado em ir além do óbvio – o que contradiz totalmente a chamada do longa, que promete contar uma história inacreditável.
Os erros de Invencível, contudo, começam já em seus primeiros momentos. É certo que a sequência inicial envolvendo um confronto aéreo é dotada de certa tensão, mas logo o filme começa a inexplicavelmente ir e voltar no tempo. Inexplicavelmente porque não existe sentido em se utilizar dessa ferramenta por duas razões bastante básicas: a) ela – ao contrário do também recente Livre, que se estrutura inteiramente de forma bem sucedida a partir de idas e vindas no tempo – não é uma tática que pontuará o filme, pelo contrário: não demora muito para que essa escolha seja abandonada; e b) construir este início de forma não linear sequer auxilia com que o presente do protagonista ganhe mais emoção ou seja melhor compreendido por meio de recortes passados. É óbvio que Invencível ganharia muito mais caso contado de forma sequencial porque, assim, se tivéssemos acompanhado a trajetória do protagonista desde a infância sem saber o que acontecerá depois, teríamos um envolvimento crescente com o personagem, e não constantemente interrompido com abordagens tão opostas (no presente, grandes confrontos aéreos em plena guerra; no passado, uma juventude marcada pela consagração profissional no atletismo). Dá até mesmo a sensação de que são dois filmes dentro de um.
O que dizer, então, da longa parte ambientada em alto-mar com três personagens tentando sobreviver durante dias a fio em dois pequenos botes? Se, depois do ótimo Até o Fim, fica complicado fazer algo realmente impressionante em uma circunstância como essa, pouco ajuda o fato de Invencível tomar tanto tempo de sua metragem para mostrar situações em alto-mar que já vimos em milhares de outros relatos envolvendo sobrevivência marítima. Por ser um capítulo bastante longo da trama, os desavisados podem até se confundir e achar que este é um filme sobre sobrevivência em alto-mar. Com uma técnica longe de ser inspirada (a trilha sonora de Alexandre Desplat é óbvia e nem Roger Deakins está em um momento notável na fotografia), o longa às vezes sobe o som, entrega frases prontas em despedidas na estação de trem, sugere metáforas fáceis (o protagonista levantando uma viga enquanto é maltratado por um soldado lembra preguiçosamente Jesus Cristo sendo açoitado com a cruz nas costas) e apela para querer emocionar com frases prontas, mas a comoção é zero. Nem nas emoções fáceis dá para defender Angelina Jolie. Sinal disso é que, quando a guerra chega ao fim em o alívio fica não pelo término do sofrimento dos personagens, mas pelo nosso, já que isso é sinal que o filme está prestes a acabar. Angelina Jolie ganha mais sendo atriz.
Brenno, também não sou muito fã dela como atriz (acho que é prejudicada demais por ser uma grande celebridade), mas certamente se sai melhor atuando do que dirigindo…
Já a acho uma atriz irregular. Como diretora, Angelina aumenta o apreço pela sua função que lhe rendeu um Oscar. Pelo menos, na direção, ela é corajosa.