Whiplash: Em Busca da Perfeição

But I tried. I actually fucking tried. And that’s more than most people ever do.

whiplashposter

Direção: Damien Chazelle

Roteiro: Damien Chazelle

Elenco: Miles Teller, J.K. Simmons, Paul Reiser, Melissa Benoist, Austin Stowell, Nate Lang, Chris Mulkey, Damon Gupton, Charlie Ian, Jayson Blair, C.J. Vana, Suanne Spoke, Max Kasch, Kavita Patil

Whiplash, EUA, 2014, Drama, 107 minutos

Sinopse: O solitário Andrew (Miles Teller) é um jovem baterista que sonha em ser o melhor de sua geração e marcar seu nome na música americana como fez Buddy Rich, seu maior ídolo na bateria. Após chamar a atenção do reverenciado e impiedoso mestre do jazz Terence Fletcher (JK Simmons), Andrew entra para a orquestra principal do conservatório de Shaffer, a melhor escola de música dos Estados Unidos. Entretanto, a convivência com o abusivo maestro fará Andrew transformar seu sonho em obsessão, fazendo de tudo para chegar a um novo nível como músico, mesmo que isso coloque em risco seus relacionamentos com sua namorada e sua saúde física e mental. (Adoro Cinema)

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Logo quando o Brasil passou o vexame de ser derrotado pela Alemanha na semifinal da Copa do Mundo que sediava em 2014, era fácil encontrar análises atestando que a Alemanha demonstrou infinita superioridade por ser um time que prioriza o trabalho em equipe e, acima de tudo, a disciplina. Se Terence Fletcher (J.K. Simmons), o professor de jazz de Whiplash: Em Busca da Perfeição, existisse de verdade, certamente defenderia tal teoria, pois, para ele, de nada adianta o talento se não existe a extrema dedicação e um rígido direcionamento. Claro que, no filme comandado pelo estreante em longas Damien Chazelle, Fletcher chega realmente a extremos para tirar o máximo de perfeição musical de seus alunos, mas a mensagem é a mesma e Whiplash, ao buscar a potencialização dessa lógica por meio do cinema, cria uma experiência com níveis crescentes de angústia que culminam em um dos clímax mais hipnotizantes dos últimos anos.

A busca pela perfeição já havia sido mostrada com grande inovação anos atrás em Cisne Negro e é fácil encontrar semelhanças temáticas entre Whiplash e o filme estrelado por Natalie Portman, mas, apesar da aproximação, são produções bastante distintas porque tratam de artes diferentes (um é sobre dança, o outro sobre música) e porque o longa de Chazelle consolida muito mais a relação aluno/professor como pilar de sua história. O diretor, também autor do roteiro, é certeiro ao desenvolver quase todo o filme em cenas com as duras aulas do personagem de J.K. Simmons e ao transmitir toda a força destes momentos não só para o texto mas também para a técnica: percebam como a todo o momento a câmera está extremamente próxima aos rostos do personagens, além de capturar, com planos bastante fechados, toda a intimidação que o mestre passa quando fala incessantemente ao pé do ouvido do aprendiz Andrew (Miles Teller) na hora de um ensaio. Mas não se engane: para além da disciplina advinda da rigidez deste ambiente, os alunos também têm admiração e respeito bastante compreensíveis por aquela figura.

É óbvio que o desempenho visceral de J.K. Simmons (no auge de sua carreira prolífera mas até então fadada a papeis coadjuvantes corriqueiros) é peça fundamental para que Whiplash consiga fazer qualquer espectador se sentir um dos alunos, compartilhando da tensão criada pela disciplina quase militar dos ensaios. Só que a ótima atuação de Simmons é um belo complemento para o exemplar trabalho de direção de Chazelle que, ao gravitar constantemente em torno do professor na regência dos ensaios, compreende por completo o poder de uma câmera bem posicionada para fisgar o espectador sem uma palavra sequer. Exemplo disso é a cena envolvendo o primeiro ensaio quando nós, espectadores, ansiosos pelo suspense envolvendo a mitificação do professor, precisamos aguardar breves segundos para acabar com nossa angústia quando Chazelle se desloca da visão dos músicos para, em um mesmo movimento, se posicionar na mão do professor que finalmente dará o sinal para que o ensaio comece. É um silêncio de breves – mas cortantes – segundos.

Se por um momento Whiplash parece tratar o personagem de Simmons como uma figura unidimensional, aos poucos o roteiro nos apresenta justificativas e passagens de humanização dele, tudo sem qualquer pieguice. Questões importantes como o fato de Terence realmente ter um comportamento abusivo para um ambiente acadêmico também não são deixadas de lado. Por outro lado surgem conflitos pouco criativos para um roteiro tão cuidadoso, como a conveniente sucessão de problemas responsável por fazer o protagonista se atrasar para um importante compromisso. Sorte que tudo é compensado por um diretor ciente do que está fazendo atrás das câmeras. Chazelle, ainda certeiro na aposta de Miles Teller como protagonista (o jovem nunca pareceu promissor e não tem um rosto marcante, mas dá conta total do recado), prova de uma vez por todas o seu talento na sequência final que, fora a envolvente sintonia com o poder da música por si só, é uma aula de como orquestrar todas as ferramentas do cinema com puro brilhantismo, da excepcional montagem à excelente fotografia. É a técnica fazendo algo empolgante como há anos não víamos em uma sequência final. E também o próprio roteiro, resolvendo questões decisivas da trama sem uma palavra sequer – e sem precisar delas. Como o próprio filme sugere com a chegada dos créditos finais, as palmas ficam por nossa conta.

4 comentários em “Whiplash: Em Busca da Perfeição

  1. Pingback: Cine Resenhas | Prêmio Review | Melhores de 2015: Filme

  2. Kamila, mas, apesar das semelhanças temáticas, são filmes bastante distintos. E ambos singulares em suas respectivas abordagens!

    Alexandre, o elenco está ótimo! Não só J.K. Simmons, mas Miles Teller também surpreende!

  3. Pois é, muitas são as comparações entre “Whiplash” e “Cisne Negro”, especialmente como enfocam a dedicação para (e pela) arte. São comparações como essa que me deixam mais curiosa ainda para conferir esse filme. Uma pena que não acredito que ele chegue a passar nos cinemas da minha cidade… :(

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