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Philip Seymour Hoffman vive um homem comum atormentado por compulsões sexuais em uma das várias histórias do excelente Felicidade

Philip Seymour Hoffman vive um homem comum atormentado por compulsões sexuais em uma das várias histórias do excelente Felicidade

FELICIDADE (Happiness, 1998, de Todd Solondz): O título vende uma ideia diferente e Felicidade pode realmente ter um humor bastante específico e discreto, mas a verdade é que este longa de Todd Solondz é repleto de agruras, mostrando seres humanos problemáticos, infelizes e passando por extremos. Do psicólogo que tenta controlar a sua natureza pedófila (Dylan Baker, em um de seus melhores momentos) ao homem comum viciado em sexo mas que não consegue consumar relação com mulher alguma (Philip Seymour Hoffman), o roteiro, escrito pelo próprio Solondz e indicado ao Globo de Ouro, só não se torna depressivo porque tem esse humor crítico e ácido que, de certa forma, amortece as tantas tragédias pessoais contadas ao longo da história. Durante pouco mais de duas horas (que se desenrolam com um belo ritmo), Felicidade fala sobre questões bastante delicadas sem descambar para estereótipos ou muito menos para superficialidades. Tudo está na medida nesta experiência que se torna ainda mais eficiente com o ótimo elenco. Não é um filme necessariamente acessível por ter humor mas tampouco restrito como suas tramas cruas sugerem. Na realidade, é altamente recomendável, justamente, por achar um brilhante meio termo entre essas duas propostas.

LOCKE (idem, 2014, de Steven Knight): Volta e meia surgem filmes como esse, passados quase em tempo real em um único cenário. Um dos que mais me marcou foi o angustiante Enterrado Vivo e que, possivelmente, deve ter sido o mais recente neste formato que conferi. Retorno à proposta agora com este Locke, estrelado por Tom Hardy (em um de seus desempenhos mais relevantes), que coloca o ator durante pouco mais de 90 minutos em um carro pelas estradas da Inglaterra. Enquanto dirige, Ivan, o personagem vivido por Hardy, resolve várias questões que cotidianas pendentes enquanto se dirige a uma cidade para um compromisso inadiável. Dois aspectos particulares me incomodaram. Primeiro: percebam como o protagonista, apesar de um erro específico (e que move toda a trama), é o marido do ano, sujeito íntegro e ser humano admirável. Julgando pelo que acontece desenrolar da história, ele é perfeito. Segundo: não vejo como alguém consegue administrar milhares de problemas enlouquecedores ao mesmo tempo em que dirige sem tirar os olhos do retrovisor ou seque encostar o carro para pensar. É um bobo detalhe que me tirou um pouco do filme. Sem falar que todos os conflitos mostrados em Locke só se tornam mais extraordinários porque são resolvidos por telefone dentro de um carro. Se esquecermos a circunstância e analisarmos friamente os conflitos discutidos, o longa de Steven Knight pode ser até bem convencional.

OPERAÇÃO BIG HERO (Big Hero 6, de Don Hall e Chris Williams): Demora demais a engrenar esta nova animação da Disney que, caso não fosse tão prolixa em sua primeira metade e conseguisse ir direto ao ponto da aventura, seria realmente uma grande diversão. Só que Operação Big Hero se prolonga demais ao tentar criar um fundo dramático para o jovem Hiro (voz de Ryan Potter), confundindo um pouco o espectador sobre qual a verdadeira proposta em desenvolvimento. Mesmo terminado o filme é um tanto difícil explicar Operação Big Hero, o que não é muito estimulante. De qualquer forma, apesar também de alguns furos no roteiro, o filme comandado pela dupla Don Hall e Chris Williams tem seus momentos com uma aventura que chega a ser empolgante nos seus ápices. A história ainda tem um personagem já destinado a ser inesquecível entre as animação contemporâneas: o carismático robô Baymax (voz de Scott Adsit). Difícil dizer que algumas reviravoltas são particularmente interessantes ou críveis (a revelação da identidade do vilão não me fisgou) e que o filme tem um roteiro bem resolvido, mas os pequenos não devem se importar muito com isso – o que, dependendo do ponto de vista, pode ser um elogio ou uma grande crítica.

O ÚLTIMO CONCERTO (A Late Quartet, 2012, de Yaron Zilberman): Dá para notar a inexperiência do israelense Yaron Zilberman na direção de dramas com esse O Último Concerto (anteriormente, ele só havia comandado um documentário chamado Watermarks, em 2004). Tudo é muito frágil na história roteirizada pelo próprio Zilberman em parceria com Seth Grossman, uma vez que tudo é facilmente previsível, e vários conflitos desaparecem com a mesma rapidez com que surgem. No entanto, o que mais incomoda em O Último Concerto é como o personagem de Christopher Walken – o músico que descobre ter Mal de Parkinson e resolve realizar uma última apresentação para se despedir de seu grupo – se torna quase um figurante em um filme muito mais preocupado em mostrar a vida individual de cada um dos membros do quarteto do que de fato trabalhar a suposta grande amizade de 25 anos que existe entre eles. Por isso, logo ao final, quando o tal último concerto se aproxima, não existe muita emoção, pois mal nos lembrávamos da existência de Christopher Walken. O Último Concerto não um momento sequer que represente, de forma bonita e carinhosa, a supostamente forte relação dos amigos. Assim, é quase um desperdício ver nomes como Walken, Philip Seymour Hoffman e Catherine Keener em uma trama sobre dramas familiares e matrimoniais que em momento algum escapam da obviedade.

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