
O excelente O Grande Hotel Budapeste desbancou Birdman na categoria de melhor filme comédia/musical. A vitória impulsiona a já boa trajetória do filme de Wes Anderson na temporada de premiações
As surpresas do Globo de Ouro 2015 ficaram muito mais na parte de TV do que na de cinema. Como tenho acompanhado pouco das novas séries, me limito a comentar brevemente apenas o que me traz comoção particular, como a excelente Transparent, que ganhou os prêmios de melhor série e ator de comédia. Sou grande fã do desempenho repleto de sutilezas de Jeffrey Tambor e também da série em si, que, com grande dignidade, fala de forma humana e singela sobre o mundo LGBT – e o melhor de tudo: com foco total no ser humano e não na panfletagem. Também fiquei contente com a vitória de Matt Bomer como coadjuvante, já que, em The Normal Heart, sua beleza grega não é obstáculo para que possa entregar um desempenho realmente comovente (e que só foi celebrado aqui).
Ainda em TV, surpreendentes mesmo foram as derrotas de Viola Davis como atriz em série dramática por How to Get Away With Murder e Frances McDormand como atriz em minissérie por Olive Kitteridge. Não conferi as vencedoras, mas é bom elas terem feito um trabalho excepcional mesmo, já que Viola e Frances estão maravilhosas em seus respetivos desempenhos. No mais, o Globo de Ouro continua tendo um grande fraco por séries novatas (percebam que programas veteranos dificilmente ganham), o que resulta em vitórias que, pelo que li em fóruns e nas redes sociais, não são lá tão merecidas, como a total consagração de The Affair e a lembrança de Gina Rodriguez como atriz em série de comédia por Jane the Virgin.
Já em cinema, três nomes se consolidam de vez como os favoritos absolutos desta temporada de premiações: Julianne Moore como melhor atriz por Para Sempre Alice, J.K. Simmons como melhor ator coadjuvante por Whiplash – Em Busca da Perfeição e Patricia Arquette como atriz coadjuvante por Boyhood: Da Infância à Juventude (essa última beneficiada por mais uma dessas ondas irreversíveis de favoritismos meio injustificáveis e imbatíveis que os prêmios adoram inventar). Outros nomes também ganharam relativa força com vitórias ontem: Eddie Redmayne na categoria de melhor ator com A Teoria de Tudo (não subestimem o papel infalível que ele tem para desbancar Michael Keaton) e O Grande Hotel Budapeste, que agora já deverá ser realmente o possível recordista de indicações ao Oscar com a vitória surpreendente em melhor filme de comédia, deixando de escanteio o favoritíssimo Birdman. Como sou um grande fã do filme de Wes Anderson, não reclamo nadinha.
Mais brevemente: fiquei muito contente com a vitória da belíssima trilha de A Teoria de Tudo (provavelmente também deve levar o Oscar) e surpreso com a vitória de Leviatã, responsável por desbancar o favorito Ida (se bem que uma lista sem Relatos Selvagens e Dois Dias, Uma Noite me desperta desânimo). Por fim, o Globo de Ouro este ano ainda se despediu da dupla Amy Poehler e Tina Fey. Não dá pra dizer que o adeus delas foi em grande estilo (a piada com a Coréia se estendeu muito além do necessário), mas certamente são figuras que os produtores vão ter dificuldade em substituir. Próxima parada: Screen Actors Guild Awards no dia 25 de janeiro. Abaixo, a lista completa de vencedores.
CINEMA
MELHOR FILME DRAMA: Boyhood: Da Infância à Juventude
MELHOR FILME COMÉDIA/MUSICAL: O Grande Hotel Budapeste
MELHOR ATOR EM DRAMA: Eddie Redmayne (A Teoria de Tudo)
MELHOR ATOR EM COMÉDIA/MUSICAL: Michael Keaton (Birdman)
MELHOR ATRIZ EM DRAMA: Julianne Moore (Para Sempre Alice)
MELHOR ATRIZ EM COMÉDIA/MUSICAL: Amy Adams (Grandes Olhos)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: J.K. Simmons (Whiplash – Em Busca da Perfeição)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Patricia Arquette (Boyhood: Da Infância à Juventude)
MELHOR DIREÇÃO: Richard Linklater (Boyhood: Da Infância à Juventude)
MELHOR ROTEIRO: Birdman
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL: “Glory” (Selma)
MELHOR TRILHA SONORA: A Teoria de Tudo
MELHOR FILME ESTRANGEIRO: Leviatã (Rússia)
MELHOR ANIMAÇÃO: Como Treinar Seu Dragão 2
TV
MELHOR SÉRIE DRAMA: The Affair
MELHOR SÉRIE COMÉDIA/MUSICAL: Transparent
MELHOR MINISSÉRIE/TELEFILME: Fargo
MELHOR ATOR EM SÉRIE DRAMA: Kevin Spacey (House of Cards)
MELHOR ATOR EM SÉRIE COMÉDIA/MUSICAL: Jeffrey Tambor (Transparent)
MELHOR ATOR EM MINISSÉRIE/TELEFILME: Billy Bob Thornton (Fargo)
MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DRAMA: Ruth Wilson (The Affair)
MELHOR ATRIZ EM SÉRIE COMÉDIA/MUSICAL: Gina Rodriguez (Jane the Virgin)
MELHOR ATRIZ EM MINISSÉRIE/TELEFILME: Maggie Gyllenhaal (The Honourable Woman)
MELHOR ATOR COADJUVANTE EM SÉRIE/MINISSÉRIE/TELEFILME: Matt Bomer (The Normal Heart)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE EM SÉRIE/MINISSÉRIE/TELEFILME: Joanne Fragott (Downton Abbey)
Luíza, tenho minhas desconfianças com “The Affair” porque a Showtime não é muito boa em manter a qualidade de seus programas por muito tempo, mas o teu comentário muito me animou! Quanto à Viola, concordo: é uma atriz excepcional sambando na cara de atores quase medíocres. E por isso que eu achava que ela tinha tudo para vencer: ela é o que sustenta a série (que começa bem mas logo fica cansativa)!
Kamila, as categorias de cinema foram bem previsíveis, com destaque, conforme você disse, para a surpreendente vitória de “O Grande Hotel Budapeste”. Torço muito pelo filme de Wes Anderson!
Bruno, não sei se é a questão da repetição, mas a dupla foi realmente pouco inspirada… Quanto às categorias de TV, tenho minha birra com o Globo de Ouro. Pode escrever: é série nova, vai ser consagrada. Essa é a previsibilidade. Assim, é no mínimo estranho “Brooklyn Nine Nine” vencendo melhor série ano passado (só por ser estreante) e não ter sequer uma indicação em 2015!
O Globo de Ouro deste ano foi chato. Prova de que a repetição de apresentadores não dá muito certo.
Nas categorias destinadas ás produções de TV, o Globo de Ouro é, como sempre, muito mais lúcido que o Emmy em suas escolhas. Já nas categorias de cinema nem tanto. A vitória de Amy Adams ( uma atriz que começa a se especializar em ganhar prêmios sem merecer), por exemplo, foi um pouco amarga. Moore está excepcional em Mapas das estrelas e o filme do Tim Burton parece não ser grande coisa. Em se tratando da disputda da categoria principal, vimos Birdman sair enfraquecido. E a vitória de Boyhood: Da Infância à Juventude, parece não representar muita coisa. Enfim, a corrida continua aberta!
Nas categorias de cinema, acho que a grande surpresa (se é que podemos classificar assim) foi a vitória de “The Grand Budapest Hotel”. Acho que o filme do Wes Anderson tem crescido muito nas últimas semanas e deve conquistar indicações em categorias importantes do Oscar 2015. No mais, me chamou a atenção o pouco uso da dupla Amy Poehler e Tina Fey.
Achei a ceriomonia (e a despedida de Amy e Tina) decepcionante. Ademais, em tempos de “je suis Charlie” e o debate sobre respeito de culturas, ficou de mal gosto a insistência com o negocio da Coréia do Norte (por isso curti tanto o discurso dos vencedores russos, que fazem questão de citar a Coreia ao dar exemplos de nacionalidades). Achei a vitória de Wes Anderson uma adorável surpresa, amo tudo que ele faz, basicamente. As vitórias de Gina (Jane the Virgen) e Transparent foram um ótimo refresh no mundo das séries cômicas e Gina faz um trabalho impecável. A vitória de Rush Wilson frente a Viola Davis foi, para mim, bastante justa: Viola é a única coisa que sustenta HTGAWM, uma série bem babaquinha, onde ela é uma incrível atriz fazendo um papel fortíssimo ao lado de atores fracos fazendo personagens toscos. Já a Allison de The Affair é uma das personagens mais depressivas da história (como falou a própria Ruth no discurso) contracenando com três ótimos atores fazendo papeis super complexos. Entre as duas, fico com Ruth. Querendo ou não sou uma grande entusiasta de The Affair, uma serie bastante diferente e inteligente, por isso fiquei bastante contente com a vitória (sendo que eu amo House of Cards e acho que talvez pela solidez merecesse mais, mesmo que a primeira temporada tenha sido melhor que a segunda).