Até Que a Sbórnia nos Separe

Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração…

sborniaposterDireção: Otto Guerra e Ennio Torresan Jr.

Roteiro: Rodrigo John e Tomas Creus

Elenco (vozes): Hique Gomez, Nico Nicolaiewsky, André Abujamra, Antônio Falcão, Arlete Salles, Caio Alves Pereira, Cláudio Levitan, Felipe Mônaco, Fernanda Takai, Heinz Limaverde Starkey, Marcos Kligman, Marina Mendo, Otto Guerra, Pedro Harres

Brasil, 2014, Animação, 91 minutos

Sinopse: O que acontece quando o muro que separa um pequeno país chamado Sbórnia do resto do mundo cai acidentalmente? Tranquilos e parados no tempo, o povo da Sbórnia é agora atingido pelos ventos da modernidade vindos da cidade grande. Os conflitos causados pelo violento choque cultural bagunçam a vida dos protagonistas Kraunus e Pletskaya, dois conhecidos músicos sbornianos. Como conseqüência da interferência continental nos arraigados hábitos da Sbórnia, alguns nativos fazem acordar velhas crenças adormecidas e se põem a resgatar sua identidade como sbornianos. O filme é baseado no espetáculo teatro-musical Tangos & Tragédias, criado por Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky, e que tem sido apresentado pelos palcos do mundo com grande sucesso pelos últimos 20 anos, tendo sido visto por mais de 1 milhão de pessoas.

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Até Que a Sbórnia nos Separe é, sem exageros, uma verdadeira preciosidade do cinema brasileiro contemporâneo. Nós, que não cultivamos tradição em animações, agora temos este trabalho singular em nosso currículo para se orgulhar. É uma alegria ver que podemos fazer uma animação tão bem acabada visualmente e ainda originalíssima em sua proposta com grande apuro. O encontro de três trajetórias de sucesso já anunciava o êxito do filme. Na direção, Otto Guerra, que há décadas realiza animações no Rio Grande do Sul e cuja empresa, Otto Desenhos Animados, já é uma grande referência no Estado. Ao lado dele na direção está Ennio Torresan Jr, que trabalha há quase 20 anos como animador na Dreamworks. A história contada por eles? Uma adaptação do clássico espetáculo musical Tangos & Tragédias, que, durante 30 anos, levou um milhão de gaúchos ao teatro. A união de tantas expertises não poderia dar errado. E não dá: Até Que a Sbórnia nos Separe, como já mencionado, é um caso raro em nosso cinema.

O roteiro escrito por Rodrigo John e Tomas Creus reconstrói o universo imaginado por Hique Gomez e Nico Nicolaiewsky em Tangos, com livres inspirações. Tudo muito particular, divertido e original, sobre um continente que está boiando por aí, com seus amores, jogos, músicas e particularidades. É sobre o direito de um lugar ser o que ele é, sem intervenções, tecnologias e influências capitalistas – o que torna o filme, consequentemente, também sobre o direito individual de cada um ter a sua personalidade. A trilha, claro, ajuda a dar o tom e é um dos destaques da animação, e não só as releituras das músicas do espetáculo ou as adaptações feitas por Hique e Nico (incluindo a bela Epitáfio, do Titãs), mas também a trilha instrumental que ficou a cargo de André Abujamra.

Previsto para ganhar os cinemas gaúchos ainda em 2014 com cópias 2D e 3D (é a primeira produção realizada no Estado com este segundo formato),  Até Que a Sbórnia nos Separe já viajou o mundo, em mostras e competições que o colocaram ao lado de nomes como Hayao Miyazaki. Mas tudo começou aqui mesmo no sul, onde, em sua primeira exibição no Festival de Cinema de Gramado no ano de 2013, já se consagrou com o prêmio de melhor filme pelo júri popular. É um merecido reconhecimento para este trabalho meticuloso (mais de 100 desenhistas de diversos pontos do Brasil e 500 mil desenhos deram origem ao universo da Sbórnia), que é felicíssimo ao criar um universo particular mas nunca over ou fantasioso demais. E o melhor de tudo: não se restringe aos que conhecem a peça ou a cultura do Rio Grande do Sul.

Mesmo que a classificação indicativa direcione o filme a um público a partir de 10 anos de idade, é complicado afirmar que Até Que a Sbórnia nos Separe seja também um filme para os pequenos. Além dos problemas de ritmo em seu ato final, esta é uma animação que frequentemente faz alusões a assuntos bem adultos – incluindo uma lua de mel que se torna um verdadeiro pesadelo para uma jovem que foi obrigada a casar com um homem que a enojava. Fora isso, o resultado é envolvente e de técnica detalhista, contando com um excelente trabalho de dublagem, onde se destaca a voz Arlete Salles, que está perfeita como uma divertida vilã. Até Que a Sbórnia nos Separe, enfim, é uma daquelas animações que revelam, antes de mais nada, uma vontade de contar histórias. Existe uma perceptível paixão nesta animação. E isso é raro em qualquer lugar do mundo. Menos na Sbórnia.

2 comentários em “Até Que a Sbórnia nos Separe

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