Rapidamente

A Marvada Carne, de André Klotzel, ostenta o título de filme mais celebrado na história do Festival de Cinema de Gramado com 12 prêmios

A Marvada Carne, de André Klotzel, ostenta o título de filme mais celebrado na história do Festival de Cinema de Gramado com 12 prêmios

COMO TREINAR O SEU DRAGÃO 2 (How to Train Your Dragon 2, 2014, de Dean DeBlois): O primeiro Como Treinar o Seu Dragão foi ofuscado na temporada de premiações pelo sentimental Toy Story 3, mas conquistou o coração de várias plateias com a sua proposta diferenciada e de resoluções até mesmo corajosa. Por isso, tinha um certo receio com essa continuação, já que o primeiro filme parecia tão bem resolvido isoladamente. A boa notícia é que o diretor Dean DeBlois (agora sem a parceria de Chris Sanders) continua acertando na emoção, nas mensagens e na maturidade com que desenvolve seus personagens. Por outro lado, falta frescor nesta sequência e é fácil sair do cinema já com a cabeça em outro lugar – o que não acontecia com o anterior, uma experiência nada esquecível. Pode ser a falta de uma história mais consistente que trabalhe outros pontos além do crescimento físico e emocional dos personagens que prejudique o resultado, especialmente quando Como Treinar o Seu Dragão 2 se dedica demais a mostrar batalhas, voos e ação (com direito a um dragão que tem o poder de controlar todos os outros e que misteriosamente nunca tinha aparecido ou sequer sido citado até agora!). Levemente decepcionante, a sequência cumpre sua função de entretenimento com um inegável coração, mas fica devendo em termos de uma trama melhor elaborada.

A MARVADA CARNE (idem, 1985, de André Klotzel): Para quem conhece somente as comédias brasileiras realizadas nos dias de hoje, A Marvada Carne causará estranhamento. É diferente e quase bizarra a proposta do filme, que mostra a saga de Nhô Quim (Adilson Barros) para realizar o seu sonho de finalmente comer carne. No caminho, ele conhece a sonhadora Carula (Fernanda Torres), que deseja se casar a todos custo e que, para fisgar Nhô Quim, mente que no seu casório a família dará uma grande festa com muita comilança de carne. O universo caipira, bem como figuras mitológicas como o Curupira e o Diabo, são apresentados no filme de estreia de André Klotzel com a devida irreverência. A Marvada Carne acerta em suas hipérboles cômicas, o que é no mínimo admirável para um diretor iniciante na época. No Festival de Cinema de Gramado, conquistou 12 prêmios entre Kikitos e menções especiais, incluindo melhor filme e melhor atriz para Fernanda Torres – que aqui está em um dos seus melhores momentos de transformação, com um sotaque simplesmente perfeito. Divertido e objetivo (são rápidos e suficientes 75 minutos de duração), o filme foi celebrado como uma atualização dos clássicos de Mazzaropi – e, sem dúvida, o faz com a devida competência e fidelidade.

MENINOS DE KICHUTE (idem, 2009, de Luca Amberg): É mergulhado na nostalgia de uma infância já extinta que o diretor catarinense Luca Amberg constrói Meninos de Kichute. O filme, realizado em 2009, só agora consegue entrar em cartaz, levantando mais uma vez a eterna discussão sobre as dificuldades de fazer cinema no Brasil. Baseado no livro homônimo de Márcio Américo e nas próprias lembranças do diretor, Meninos de Kichute celebra os anos em que o mais importante para uma criança era sair correndo da aula para brincar na rua com os amigos. Do cantar o hino nacional na frente da escola às eternas disputas por figurinhas, o longa captura bem o clima dos anos 1970, trazendo também a rígida educação, as professoras irredutíveis e o pai machista e autoritário. Nostálgico e quase ingênuo, conquista por sua simplicidade, especialmente porque o elenco infantil está bastante à vontade e outras participações são pelo menos bastante afetivas, a exemplo de Arlete Salles como a vizinha legal e apaixonada por cachaça (e o melhor de tudo é que a atriz não cai na caricatura!). Até mesmo Werner Schünemann, com um papel unidimensional, se sai bem como o grande obstáculo na vida do protagonista Beto (Lucas Alexandre). Mas tudo para por aí, já que Meninos de Kichute não parece ser nada além de um retrato desta saudosa infância. Conflitos de verdade são quase ausentes e, não fosse essa adorável viagem no tempo, o resultado poderia ser desinteressante.

WALT NOS BASTIDORES DE MARY POPPINS (Saving Mr. Banks, de John Lee Hancock): Aos que conferiram Um Sonho Possível (aquele filme insosso que deu um Oscar injusto para Sandra Bullock), fica a dica: Walt Nos Bastidores de Mary Poppins (o título brasileiro dispensa comentários) tem exatamente a mesma essência. Ou seja, uma história completamente rasa contada em uma duração excessiva com direito a clichês pontuais. O trailer já entregava tudo, mas não é preciso ser um gênio para, em 15 minutos, adivinhar todo o desenrolar da trama. Basicamente o relato de uma megera que aos poucos vai baixando a guarda até se tornar uma “boa” pessoa, Walt nos Bastidores de Mary Poppins se sai bem ao falar com o grande público, já que seu tom é assumidamente simplista e até mesmo pensado para causar emoções fáceis. Mas, se exigimos algo a mais, o filme não se sustenta, até porque John Lee Hancock não tem estofo para isso – o que está bem exemplificado nas suas tentativas pífias de criar mensagens subliminares (a cena em que a protagonista dorme abraçada com um Mickey de pelúcia é a pior). Também não ajuda o fato do filme contar duas histórias paralelas – uma no passado, outra no presente – e muito menos sua protagonista, que transborda arrogância e antipatia mas que, ao contrário de Blue Jasmine, não tem um diretor que saiba esmiuçar as razões de tal comportamento. Quem perde? Emma Thompson, quase caricata, e Tom Hanks, com pouco a fazer com seu Walt Disney retratado unilateralmente como um ser humano sábio, puro e íntegro (sendo que até mesmo sua sobrinha na vida real já confessou que ele estava muito longe de ser um anjo).

3 comentários em “Rapidamente

  1. Kamila, eu também achei o filme bem clichê. E confesso que até as atuações de Hanks e Thompson foram prejudicadas em função disso.

    Clóvis, para mim, “Como Treinar o Seu Dragão 2” foi TOTAL reciclagem do filme anterior. Completamente esquecível…

  2. Só assisti a “Como Treinar o Seu Dragão 2”. A apesar de achar que a trama seja mais do mesmo do que vimos no filme anterior, acabei gostando muito da obra justamente pelo lado mais emotivo que ela trabalha tão bem.

  3. Só assisti a “Walt nos Bastidores de Mary Poppins”, um filme que considero ser muito simpático, apesar de concordar que é clichê por demais. Acho que ele se sobressai pelas grandes atuações de Tom Hanks e de Emma Thompson.

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