O que o mexicano Alfonso Cuarón faz em Gravidade é algo sobrenatural. Muito mais do que provar que filmes de orçamentos estratosféricos podem sim alcançar as mais variadas plateias com a devida dose de inteligência e boa realização, o diretor também revolucionou a técnica aplicada neste filme. Difícil lembrar a última vez que o espaço foi tão crível e com uma história tão cheia de fluidez e emoção. Cuarón anos atrás já dava dicas de que sabia lidar com a ficção (Filhos da Esperança, mesmo não sendo um filme propriamente sonhador quanto ao futuro do planeta, subvertia muito neste sentido) e não é surpresa que um trabalho de direção tão inteligente como o de Gravidade venha justamente dele. A perfeita sintonia entre todos os setores do filme (da ótima trilha de Steven Price ao desempenho de Sandra Bullock) é responsável por imergir a plateia em uma viagem que certamente não veremos repetida com a mesma excelência tão cedo. Cuarón definitivamente, depois de tantos trabalhos exemplares, alcançou a indefectibilidade atrás das câmeras.
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OUTROS INDICADOS:
DENIS VILLENEUVE (Os Suspeitos)
Derrubando a tão corriqueira decepção que se instala em diretores estrangeiros que vão filmar nos Estados Unidos, Denis Villeneuve manteve a sua tradicional disciplina e intensidade ao realizar Os Suspeitos. Equilibrando com a devida inteligência uma história tensa e realista, ele surpreende com uma história que nunca subestima a inteligência do espectador ou que tenta parecer mais complexa do que realmente é. Pena que o filme não recebeu a atenção que merecia.
PAUL THOMAS ANDERSON (O Mestre)
Realizando aquele que é possivelmente o filme menos acessível de sua carreira, Paul Thomas Anderson novamente mostra o porquê é um dos realizadores mais interessantes de sua geração. Não existem concessões em O Mestre, e isto é uma grande qualidade que deve ser creditada inteiramente a Anderson. Fora o elenco excepcional, o diretor fala com firme segurança sobre assuntos complicadíssimos sem escancarar críticas ou tornar o filme didático ao fazer alusões à criação da Cientologia.
DEREK CIANFRANCE (O Lugar Onde Tudo Termina)
Não é muito complicado encontrar quem critique as transições e os saltos temporais de O Lugar Onde Tudo Termina, mas acho particularmente corajosa a direção de Derek Ciafrance ao contar uma história tão cheia de mudanças e longe de fáceis definições. Ele já havia provado ser um excelente diretor de elenco em Namorados Para Sempre – talento que se repete aqui – mas aqui ainda administra bem uma ambição narrativa que está totalmente de acordo com sua excelência como realizador.
JACQUES AUDIARD (Ferrugem e Osso)
Jacques Audiard seguiu o caminho contrário ao que muitos diretores escolheriam se tivessem o texto de Ferrugem e Osso em mãos.Nada de choros incontroláveis, melodramas ou uso exagerado de trilha. Ao narrar o relacionamento de um homem bruto que cria sozinho o filho com uma mulher que acaba de perder as pernas em um acidente, o diretor prezou pela sutileza e acertou ao inteligentemente adotar a lógica de que menos é mais.
EM ANOS ANTERIORES: 2012 – Leos Carax (Holy Motors) | 2011 – Darren Aronofsky (Cisne Negro) | 2010 – Christopher Nolan (A Origem) | 2009 – Danny Boyle (Quem Quer Ser Um Milionário?) | 2008 – Paul Thomas Anderson (Sangue Negro) | 2007 – Alejandro González Iñárritu (Babel)
Alan, foi sobrenatural o que ele fez em “Gravidade”!
Kamila, o Derek Cianfrance me surpreendeu muito com “O Lugar Onde Tudo Termina”.
Clóvis, era impossível não colocar Paul Thomas Anderson e Denis Villeneuve nessa lista.
Gostei das menções a Paul Thomas Anderson e Denis Villeneuve, mas meu voto foi para o magnífico Alfonso Cuarón.
Assisti a todos os seus indicados. Para ser bem sincera, não teria indicado Derek Cianfrance. Adoro o reconhecimento merecido que “Os Suspeitos” tem tido na sua premiação. Meu voto foi o mesmo que o seu: Alfonso Cuarón, “Gravidade”.
Cuarón merece! E muito… O que ele fez em “Gravidade” foi realmente incrível!