Oh, dear! What an awkward situation…
Direção: Robert Stromberg
Roteiro: Linda Woolverton, baseado nas histórias La Belle au Bois Dormant, de Charles Perrault, e Little Briar Rose, de Jacob Grimm e Wilhelm Grimm, e no filme A Bela Adormecida, de Clyde Geronimi
Elenco: Angelina Jolie, Elle Fanning, Sharlto Copley, Lesley Manville, Imelda Staunton, Juno Temple, Sam Riley, Brenton Thwaites, Kenneth Cranham, Sarah Flind, Hannah New, Isobelle Molloy, Michael Higgins
Maleficent, EUA, 2014, Aventura, 97 minutos
Sinopse: Baseado no conto da Bela Adormecida, o filme conta a história de Malévola (Angelina Jolie), a protetora do reino dos Moors. Desde pequena, esta garota com chifres e asas mantém a paz entre dois reinos diferentes, até se apaixonar pelo garoto Stefan (Sharlto Copley). Os dois iniciam um romance, mas Stefan tem a ambição de se tornar líder do reino vizinho, e abandona Malévola para conquistar seus planos. A garota torna-se uma mulher vingativa e amarga, que decide amaldiçoar a filha recém-nascida de Stefan, Aurora (Elle Fanning). Aos poucos, no entanto, Malévola começa a desenvolver sentimentos de amizade em relação à jovem e pura Aurora. (Adoro Cinema)
Antes de Malévola se tornar a exceção, esta nova onda de adaptações live action de clássicos infantis nunca havia chegado perto de se justificar – nem mesmo em termos de entretenimento. Filmes como o pavoroso A Garota da Capa Vermelha (releitura de Chapeuzinho Vermelho) e outros tantos como João e Maria: Caçadores de Bruxas e Branca de Neve e o Caçador não foram levados a sério por ninguém, o que não criava boas expectativas para este novo filme estrelado por Angelina Jolie. Mas Malévola se revelou um interessante acerto dentro deste mar de produções que variavam do pavoroso ao irregular. Não que o trabalho de estreia de Robert Stromberg como diretor seja um arraso – longe disso -, mas pelo menos vem para provar que é possível sim revirar o baú de histórias infantis já consagradas com uma boa dose de entretenimento e novidades.
O primeiro acerto de Malévola é escolher contar a clássica história de A Bela Adormecida a partir de um outro ponto de vista: o da vilã Malévola. Normalmente, vilões são retratados de forma caricata e unilateral em histórias infantis, mas a verdade é que eles são os personagens mais ricos e interessantes em qualquer circunstância. É grande o número de personagens que ficam na memória por suas maldades e de atores que marcaram época ao abraçar a vilania. Só que também é verdade que são poucos os antagonistas que têm sua “maldade” justificada ou pelo menos colocada em discussão. Desta forma, Malévola surge se destacando logo na concepção: sinceramente, Elle Fanning está realmente uma graça como a doce Aurora, mas acompanhar 90 minutos de uma história com ela seria insuportável com uma Jolie vilã tão inspirada em cena.
Que bom que tiveram a consciência de colocar a princesinha de escanteio (cuja história não é nem contada paralelamente, sendo mero detalhe mesmo) e entregar o filme todo a Angelina, que raramente tem a história fora de seu alcance. Sem dúvida, é o grande momento da atriz em muito tempo, especialmente quando ela estava afastada das delas desde O Turista, realizado em 2010. Poucas vezes ela esteve tão imponente e marcante em cena, tanto em termos de beleza quanto de interpretação. Jolie convence e hipnotiza durante todo o arco da personagem, que começa como uma fada comum, depois tem as razões de sua vilania explicada e aos poucos vai se humanizando – mas sem nunca perder a necessária acidez. Sem dúvida é um novo êxito recente da Disney, muito esperta ao dar boas chances para Jolie, trazendo-lhe ainda bons figurinos, maquiagem eficiente e momentos realmente de rainha.
Dizem que a protagonista carrega Malévola nas costas – o que não deixa de ser compreensível para quem esperava mais do resultado -, mas o filme tem acertos inegáveis, o que inclui a parte técnica com ótimos efeitos visuais e uma concepção visual bastante satisfatória. Funciona ver a história de um outro lado, fazendo com que nada pareça repetição ou reciclagem, e sim algo novo e original. O roteiro uma vez ou outra carece de algo mais consistente que vá além do poder de sua protagonista, mas a proposta está sempre a favor do filme. Somente dois aspectos são realmente incômodos. O primeiro deles é o trio de fadas formado por Imelda Staunton, Juno Temple e Lesley Manville. É evidente que elas estão ali para divertir, mas o filme as subutiliza com piadas que se limitam a situações de assoprar farinha – algo que o Chaves já fazia com o Kiko décadas atrás!
Porém, o erro mais grave de Malévola é errar conceitualmente naquilo que se propõe a subverter com a protagonista: a vilania. Para mostrar que Malévola não é a vilã radical que pintaram durante décadas e que ela tem suas razões para ser o que é, o roteiro ironicamente transfere toda a maldade unidimensional para o personagem vivido por Sharlto Copley. Ora, se o filme de Stromberg tem como diferencial mostrar que nem todo vilão carrega tal título sem razão, não há sentido em colocar Copley justamente como uma figura má sem explicações ou aprofundamentos. Subverte de um lado, mas repete o erro de outro. Por isso, este é um problema que simplesmente não poderia existir em um filme que tem um conceito tão definido para sua protagonista.
A diversão e a sensação de acerto não são, no entanto, prejudicadas por estes tropeços, nem mesmo quando eles são embalados por uma trilha surpreendentemente sem inspiração do veterano James Newton Howard. A história felizmente sobrevive, provando que histórias live action derivadas de clássicos infantis podem sim render para crianças e adultos. Malévola é mais um acerto da Disney, estúdio que parece retomar uma excelente fase (recentemente Frozen revitalizou o gênero das animações e ainda chegou entre as cinco maiores bilheterias da história!), e, principalmente, uma ótima oportunidade para Angelina Jolie voltar a brilhar. E o melhor de tudo: o filme está ciente que precisa dar todas as chances para ela aproveitar cada momento.
Gostei demais do filme mas assino embaixo das tuas observações. Realmente, não há explicação alguma para Stefan se tornar um vilão de tal categoria. Ser órfão? Não é suficiente… Sequer demonstrou interesse em conhecer a própria filha!
Kamila, “Malévola” dá continuidade a essa boa fase que a Disney tem alcançado subvertendo os próprios padrões que estabeleceu. Foi assim com “Frozen” e agora com “Malévola”.
Stella, foi complicado mesmo achar uma sessão legendada, mas valeu a pena!
Matheus, que bom você ter encontrado méritos em “Malévola”! Estava desanimada depois de ter ouvido um amigo arrasar o filme. Aqui no Rio estava passando só em 3D e DUBLADO nas primeiras sessões, o que me afastou do cinema. Vou esperar sair na locadora, mas já estou cheia de esperança novamente.
O que eu gostei mais em “Malévola” foi que este filme veio para desafiar o padrão Disney. Adorei a história ter como personagem principal uma vilã, a qual foi muito humanizada pela interpretação maravilhosa de Angelina Jolie. Adorei a forma como a história foi conduzida, especialmente no seu ápice emocional e acredito que “Malévola” tem muitos paralelos com “Encantada”, especialmente na forma como tenta atualizar algo que muitos consideram ser ultrapassado: os contos de fadas e os valores que eles representam e difundem.