No ano em que Anne Hathaway ganhou todos os prêmios da temporada de atriz coadjuvante por uma cena avassaladora que externalizava todas as suas angústias e sofrimentos em Os Miseráveis, a melhor concorrente na mesma categoria sequer tinha um momento de explosão. Foi se apoiando na sutileza que Helen Hunt ficou entre as melhores intérpretes de 2013 com As Sessões. Se, a princípio, John Hawkes tem o papel com maiores chances (é o poeta Mark O’Brien, que perdeu todos os movimentos do corpo da cabeça para baixo), Hunt logo cresce em cena com uma naturalidade simplesmente indiscutível. Despindo-se de vaidades, ela nunca chega perto de vulgarizar sua Cohen, mulher especialista em “exercícios de consciência corporal” – e não uma prostituta, como a própria Hunt faz questão de enaltecer. É um trabalho minucioso (talvez o melhor da atriz) e que, como sempre, não foi lá muito festejado em tempos que biografias, choros e outras alegorias parecem contar mais que a internalização – o que, convenhamos, é o maior desafio de todos.
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OUTRAS INDICADAS:
AMY ADAMS (O Mestre)
Dos desempenhos de Amy Adams, esse deve ser um dos mais atípicos. Normalmente conhecida por papeis frágeis, meigos e quase ingênuos, aqui ela surge extremamente firme como Peggy Dodd, a esposa de Lancaster (Philip Seymour Hoffman), em O Mestre. Em um primeiro momento, pode parecer novamente uma figura delicada, mas se revela, aos poucos, discretamente confrontativa e até mesmo manipuladora. Claro que é complicado para Adams se equiparar aos furacões Joaquin Phoenix e Hoffman, mas a atriz tira o melhor proveito de seus momentos – em especial de sua última cena com os dois atores.
JULIA ROBERTS (Álbum de Família)
Depois de anos sem uma chance realmente digna, Julia Roberts volta a brilhar como atriz dramática em Álbum de Família. O que ela fez (muito bem) em Erin Brokovich era apenas uma entrada para filmes como Closer – Perto Demais e agora Álbum de Família, onde ela, neste segundo, em momento algum fica menor diante da maravilhosa Meryl Streep. Já com cabelos grisalhos e abandonando maquiagens, Roberts mostra que o tempo lhe fez muito bem e que merece mais chances como essa. Sua Barbara Weston é complexa e forte, mas também cheia de feridas e mágoas silenciadas. Tudo capturado com a devida força pela atuação da atriz.
LÉA SEYDOUX (Azul é a Cor Mais Quente)
Adèle Exachorpoulos tem a chance de uma vida em Azul é a Cor Mais Quente – e a agarra com unhas e dentes. Mas não dá para falar dela sem também colocar o nome de Léa Seydoux na mesa. É mais um admirável caso onde uma interpretação de suporte é um brilhante complemento para principal. Se Adèle tira de letra a constrição da menina que recém está descobrindo sua vida pessoal e profissional, Léa esbanja naturalidade como a garota de cabelos azuis que há muito já firmou sua personalidade. Quando as duas estão em cena, Azul é a Cor Mais Quente se engrandece – mérito que, certamente, também a assinatura de Seydoux.
SALLY HAWKINS (Blue Jasmine)
Junto com Helen Hunt, Sally Hawkins deve ter o papel mais difícil entre as coadjuvantes de 2013. É fácil prestar a atenção somente em Cate Blanchett em Blue Jasmine e analisar cada camada da protagonista, mas a figura vivida por Hawkins também está repleta delas. Como a irmã que tinha tantos motivos quanto Jasmine para viver uma vida completamente amargurada, ela segue justamente o caminho oposto. Mas não por ingenuidade ou tolice – e sim talvez por simplesmente decidir ver o que existe de melhor na vida e nas pessoas, mesmo em tempos difíceis. Como Blanchett bem disse ao vencer o Screen Actor Guild Awards por Blue Jasmine, ela se sentiria solitária – no filme e nos prêmios -, sem Sally Hawkins. Uma dupla brilhante.
EM ANOS ANTERIORES: 2012 – Viola Davis (Histórias Cruzadas) | 2011 – Amy Adams (O Vencedor) | 2010 – Marion Cotillard (Nine) | 2009 – Kate Winslet (O Leitor) | 2008 – Marcia Gay Harden (O Nevoeiro) | 2007 – Imelda Staunton (Harry Potter e a Ordem da Fênix)
Kamila, valorizo demais a performance da Julia Roberts em “Álbum de Família”. Acho que ela é uma atriz que deveria ter o seu potencial dramático melhor explorado.
Bruno, já eu acho que “Álbum de Família” existiria sem Barbara. Para mim, o filme é sobre como os filhos reproduzem os pais – e isso está exemplificado também em várias outras dinâmicas apresentadas ao longo da história. Barbara é só o maior exemplo dessa proposta.
Liliane, mas “Árvore da Vida” é de dois anos atrás!
Eduardo, assino embaixo!
Clóvis, procure conferir o desempenho da Helen Hunt. Ela, assim como o John Hawkes, está sublime em “As Sessões”!
Curiosamente, só não conferi a performance da vencedora, mas gosto muito das outras indicadas. Voto em Roberts.
Não entendo porque dizem que Roberts é protagonista. OK que o roteiro tenta dar mais espaço para ela, mas o filme essencialmente é sobre a figura materna (central) da família que se mente na vida de todas (as filhas, sendo que uma delas [Roberts] tem mais atritos, por isso tem mais espaço).
Jessica Chastain em A Árvore da Vida é protagonista, mas Julia Roberts é coadjuvante em Álbum de Família? Consigo entender porque Roberts seria coadjuvante (a história do filme é sobre sua mãe com suas filhas), mas seguindo a lógica de Roberts, Chastain tbm seria coadjuvante, já que A Árvore da Vida fala sobre a relação dos filhos com os pais e a descoberta da vida, já Viola Davis (em Histórias Cruzadas) seria protagonista, já que o filme fala sobre os maus tratos sofridos por empregadas domésticas, com Viola sendo destaque absoluto no livro-denúncia que o longa aborda.
Achei a seleção maravilhosa!
Meu voto não foi para Roberts (excelente) porque se trata do mais escandaloso caso de categoria fraude de sempre. A história de Violet – personagem da Streep – jamais poderia ser contada sem Barbara e vice versa. Além do mais, o tempo em cena é bastante equlibrado entre as duas. Meu voto foi para Adams, sutil e precisa em O Mestre.
Dentre as indicadas, só não assisti à performance de Lea Seydoux. Por mais que eu goste da performance da Helen Hunt, em “As Sessões”, eu prefiro a atuação da Julia Roberts, sensacional em “Álbum de Família”, como há muito tempo a gente não a via.