
Por Ninguém é Perfeito, Philip Seymour Hoffman foi indicado ao SAG de melhor ator
INCÊNDIOS (Incendies, 2010, de Denis Villeneuve): Fiz o caminho inverso e conferi primeiro a estreia do canadense Denis Villeneuve nos Estados Unidos com Os Suspeitos. Que bom que essa ordem em nada interferiu a minha percepção quanto aos talentos do diretor. Quando fui conferir Incêndios, seu trabalho mais célebre realizado no Canadá, as expectativas eram altas, já que considero Os Suspeitos um dos grandes longas de 2013. E, na produção que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro, Villeneuve já mostrava a sua brilhante disciplina ao narrar a trágica história da árabe Nawal Marwan (Lubna Azabal) e a busca de seus filhos para solucionar duas missões que a matriarca deixou no testamento. Villeneuve é mestre em chegar a um ponto que poucos conseguem: o de não se entregar às possibilidades de “exagero” da história que conta e tampouco castrar a emoção ou envolvimento de seus filmes para tal. Alguns podem considerar Incêndios frio e distante, mas não vejo dessa maneira – principalmente quando o roteiro é exemplar na forma como vai e volta no tempo e na geografia sem nunca parecer confuso ou didático. Fora o final pra lá de surpreendente e impactante, Incêndios ainda tem ótimas interpretações e consegue ficar com o espectador durante um bom tempo. Que venham mais trabalhos de Villeneuve!
NINGUÉM É PERFEITO (Flawless, 1999, de Joel Schumacher): É um dos desempenhos menos conhecidos do agora saudoso Philip Seymour Hoffman, mesmo tendo concorrido merecidamente ao Screen Actors Guild Awards. Vale a pena conhecer Ninguém é Perfeito por sua composição cheia de detalhes e afeto. Como um travesti que dá aulas de canto e voz a um ex-policial vítima de um derrame (Robert De Niro, em um de seus últimos papeis esforçados), ele rouba o filme para si, especialmente porque o diretor Joel Schumacher volta e meia tenta sabotar a história com uma trama paralela de roubo completamente avulsa e desnecessária. Não repetindo nem mesmo a voz afeminada do papel que lhe consagraria anos depois com Capote, Hoffman – com um personagem muito bem explorado dramaticamente – traz as melhores cenas de Ninguém é Perfeito quando contracena com De Niro. É uma combinação batida (o preconceituoso que se humaniza com a única pessoa que lhe estende a mão na hora da dificuldade), mas que é encenada com tanta simplicidade e humanidade pelos dois atores que se torna bastante especial. Schumacher, mestre em realizar frequentes desastres, está mais coerente aqui, já que teve a grande sorte de ter uma dupla tão fantástica liderando a história. Se o diretor não estivesse ali, Ninguém é Perfeito seguiria com o mesmo resultado. O filme é deles.
POLISSIA (Polisse, 2011, de Maïwenn): É bem diferente do imaginado este filme francês que chegou a ganhar o prêmio do júri de Cannes em 2011. Pela sinopse, a impressão era de que Polissia fosse um filme de investigação no sentido clássico da definição e que seria guiado por um único caso repleto de descobertas. Não é o que acontece. A história, na realidade, é um mosaico da vida profissional e pessoal de um grupo da polícia francesa especializado em casos de pedofilia. É mostrando como esses casos influenciam a vida dos funcionários que Polissia constrói sua premissa. O acerto é valioso, já que a diretora Maïwenn (também integrante do elenco) consegue fazer uma ampla análise de diversas situações e perfis sem soar superficial. Também se destaca a forma como o filme fala de um tema extremamente complicado sem soar apelativo. É incômodo e provocativo na medida certa, mas também bastante reflexivo e envolvente. Com um valor social e de denúncia imensurável – mas desprovido de qualquer pieguismo ou panfletagem -, Polissia acerta em todas as suas investidas (inclusive na decisão de se apoiar bastante em um estilo quase documental), além de contar com um elenco que esbanja naturalidade e que por isso mesmo parece tão próximo da vida real.
VERSOS DE UM CRIME (Kill Your Darlings, 2013, de John Krokidas): O próprio filme vende uma história completamente diferente. Se o trailer e até mesmo os momentos iniciais sugerem uma trama de crime encabeçada por uma dupla adolescente responsável pela tragédia, logo Versos de um Crime segue caminhos bastante opostos. É, na realidade, sobre a convivência de autores (ou, na época, aspirantes) como Allen Ginsberg (Daniel Radcliffe), Lucien Carr (Dane DeHaan) e Jack Kerouac (Jack Huston). Eles faziam parte da chamada geração “beat”, formada por mentes inquietas que procuravam descobertas e desejavam mudanças por meio de experimentações com o sexo, drogas e as possibilidades ilimitadas de serem eles mesmos. E é só no final que o tal crime começa a ficar em pauta, o que faz com que filme de John Krokidas mude completamente de tom com essa escolha. Versos de Um Crime sofre com essa eferverscência de ideias e focos mostrada pelo filme: a atração de Allen por Carr poderia ser mais aprofundada, assim como todos os vícios e compulsões sentimentais que os personagens compartilhavam, por exemplo. Mas exigir mais complexidade seria colocar em xeque a verossimilhança do filme, já que Daniel Radcliffe, o protagonista, não dá sinais que melhorou com o tempo e não seguraria um papel mais forte. Elogios mesmo só para o jovem Dane DeHaan, já especialista em figuras perturbadas e problemáticas e que volta a despontar como um dos nomes mais promissores de sua geração.
Hugo, não sabia desse “Polytechnique”! Certamente vou procurar!
Kamila, só fui conferir “Ninguém é Perfeito” agora e considerei o desempenho do Philip Seymour Hoffman um dos melhores da carreira dele.
Dos filmes resenhados, só assisti a “Ninguém é Perfeito”. Me lembro que foi uma das primeiras vezes em que percebi o quanto que o Philip Seymour Hoffman era um grande ator. Acho que foi uma de suas primeiras grandes oportunidades como ator e com uma atuação inspirada de Robert De Niro ao seu lado.
Incêndios é um filmaço, considero ainda melhor que “Os Suspeitos”.
O diretor Villeneuve tem ainda um outro bom filme chamado “Polytechnique”, sobre um massacre em uma universidade canadense.
Abraço