Conheci a Maria do Rosário Caetano em 2012, quando estive pela primeira vez na assessoria de imprensa do Festival de Cinema de Gramado. E devo confessar que logo de cara já virei fã dela, que é uma profunda conhecedora do cinema brasileiro e uma figura sempre cativante nos debates do evento. Integrante da equipe da Revista de Cinema e do semanário Brasil de Fato, além de autora do blog Almanakito, Rosário fez uma excelente seleção para o Três atores, três filmes, contemplando atores franceses, estadunidenses e brasileiros das mais variadas gerações. A lista tem muito mais do que três escolhas, mas o avanço no número estabelecido pela seção está plenamente justificado, com uma relação de dicas que pode muito bem servir de guia para todo e qualquer cinéfilo. Fiquem, abaixo, então, com as sábias escolhas da Rosário!
Marion Cotillard (Piaf – Um Hino ao Amor) e Philip Seymour Hoffman (Capote)
Há filmes que não figuram em nossas listas de obras imperdíveis, mas que revemos sempre que eles cruzam nosso caminho (na TV, por exemplo). Este é o caso de Piaf – Um Hino ao Amor, produção francesa protagonizada por Marion Cottillard . E também de Capote, no qual brilha o agora saudoso Philip Seymour Hoffman. Estes dois atores estão tão magistrais nestes filmes – ambos lhes renderam o Oscar de melhores intérpretes – que os revemos para presenciar, mais uma vez, a imensa riqueza de suas composições. Sempre descobrimos uma nuance, um novo sinal de como são talentosos, sensíveis, arrebatadores. Ainda não revi Capote depois da trágica (e precoce) morte de seu protagonista. Sei que, quando isto acontecer, a emoção será ainda maior. Por isto, recomendo aos leitores do blog do Cinema e Argumento que leiam, no caderno Aliás, do Estadão (10/02/2014), o excelente artigo de Lee Siegel sobre a trajetória dos grandes atores, seres que nos parecem tão fortes, mas que são também frágeis como muitos de nós.
Matheus Nachtergaele e Selton Mello (O Auto da Compadecida)
O trabalho de Matheus Nachtergale e Selton Mello em O Auto da Compadecida é algo mágico. A química entre os dois é perfeita. O tempo do humor que eles assumiram ao recriar, no cinema, a peça de Ariano Suassuna é infinitamente mais potente que o das versões anteriores do filme (a de George Jonas, com Armando Bogus e Antônio Fagundes) e mesmo a dos Trapalhões, dirigida por Roberto Farias. Matheus e Selton são coadjuvados por um elenco de ponta (Fernanda Montenegro, o saudoso Rogério Cardoso, Lima Duarte, Denise Fraga, Marco Nanini, Diogo Vilella, Maurício Gonçalves, entre muitos outros). Mas o filme é deles, Matheus e Selton, que nos fascinam a cada instante, a cada sequência. Concordo com Daniel Filho quando ele diz que este filme é “o verdadeiro milagre da Compadecida”. Fez sucesso na TV como microssérie, fez sucesso nos cinema, como filme (mesmo depois de exibido em capítulos e em bom horário na Rede Globo) e ainda nos encanta, a cada reprise no Canal Brasil. Ariano Suassuna e Guel Arraes têm muita responsabilidade pelo sucesso desta terceira adaptação cinematográfica do texto do dramaturgo paraibano-pernambucano. Mas a verdadeira causa do estouro deste filme tem nome: a dupla Matheus “João Grilo” Nachtergaele & Selton “Chicó” Mello.
José Dumont (Narradores de Javé)
Tenho imenso carinho e interesse por Narradores de Javé, ótimo filme de Eliane Caffé, escrito em parceria com o grande dramaturgo Luiz Alberto de Abreu. O filme, que reúne grandes atores como Luci Pereira, paraibana retada, Maurício Tizumba, Gero Camilo, Ruy Rezende, etc, tem um mestre de cerimônia de talento ímpar: José Dumont. Ele, que brilhara em O Homem Que Virou Suco faz barba-cabelo-e-bigode no filme em que interpreta um homem que escrevia a lápis: Antônio Biá. Um “chaplin brasileiro”, que faz de seu corpo o que quer. E o que nós queremos ver e rever, infinitas vezes. Grande Zé do monte paraibano!
* OUTROS GRANDES ATORES
A lista está ficando grande. Já passei das três indicações solicitadas. Mas listo a seguir atores que arrebentaram em filmes que devem muito a eles: Fernanda Montenegro em A Falecida; Paulo José e Helena Ignez em O Padre e a Moça; Jardel Filho e Paulo Autran, exasperados, em Terra em Transe; Leila Diniz em Todas Mulheres do Mundo; Paulo Villaça e Helena Ignez em O Bandido da Luz Vermelha; José Wilker em Os Inconfidentes; Darlene Glória, em Toda Nudez Será Castigada; Milton Gonçalves, magnífico e arrebatador na pele de A Rainha Diaba; Lima Duarte em Sargento Getúlio; Lázaro Ramos em Madame Satã; João Miguel em Cinema, Aspirina e Urubus; Fernandinha Torres em A Marvada Carne; Ana Lúcia Torre em Reflexões de um Liquificador; Wagner Moura em Tropa de Elite I e II; a trinca de “Filme de Amor”, de Bressane (Bel Garcia, Josi Antelo e Fernando Eiras); e, claro, o elenco infantil e juvenil de Cidade de Deus (em especial Leandro “Dadinho é o Caralho” Firmino da Hora).
Lista pra calar quem fala que o Brasil não tem atores talentosos.
Kamila, singulares mesmo – o que acho sempre uma marca registrada da Maria do Rosário!
Clóvis, eu também estou usando a lista dela como referência :)
Só conferi três das atuações citadas: a de Marion Cotillard (extremamente comovente e uma das minhas atuações favoritas de todos os tempos) e as de Selton Mello e Matheus Nachtergaele num filme que eu adoro! Mais do que tudo, gostei da valorização que ela deu ao cinema brasileiro, mostrando que o nosso país sabe, sim, fazer cinema de qualidade. Tomarei esse post como referência para futuras sessões.
Poxa, que escolha inusitada a de José Dumont. Adoro “Narradores de Javé” e a atuação dele, neste filme em particular, é muito boa mesmo! Escolhas bem singulares por parte da Maria do Rosário.
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