
Emma Thomspon entregou o prêmio de melhor ator coadjuvante ao somali Barkhad Abdi (Capitão Phillips), em um dos melhores momentos da cerimônia
Foi no mínimo estranho acompanhar a cerimônia do BAFTA neste domingo (16). Com a total escalada de Gravidade (foram, ao total, seis prêmios: filme britânico, direção, efeitos visuais, fotografia, som e trilha sonora), era de se esperar que o filme do mexicano Alfonso Cuarón ganhasse também a categoria principal. Isso se deve ao fato não só de Gravidade ter dominado a atenção dos prêmios técnicos mas ao favorito 12 Anos de Escravidão ter sido lembrado apenas na categoria de melhor ator, onde Chiwetel Ejiofor ganhou talvez pela ausência de Matthew McCounaghey (Clube de Compras Dallas não entrou em cartaz a tempo nos cinemas britânicos para concorrer ao BAFTA). Estranhamente, mesmo apenas com a estatueta de ator, o filme de Steve McQueen foi vitorioso na categoria principal.
Ainda é difícil crer que esse cenário se repetirá no Oscar. Afinal, é preciso revirar o baú de vencedores para lembrar a última vez que o melhor filme não ganhou sequer um prêmio de direção, montagem ou roteiro (se alguém tiver esse dado, por favor, compartilhe!). O mais lógico seria ver 12 Anos de Escravidão totalmente ignorado em prol de Gravidade, que é, com certeza, o filme que mais terá prêmios em seu currículo na cerimônia da Academia. Se você considera o BAFTA um prêmio que influencia o Oscar, então pelo menos duas categorias ficaram mais confusas: Jennifer Lawrence foi eleita a melhor atriz coadjuvante (ela não venceu ano passado por O Lado Bom da Vida), ainda que uma segunda vitória consecutiva no Oscar pareça improvável; Trapaça, sem a presença do favorito Ela (que também não estreou a tempo), levou roteiro original, o que pode ser uma forma de compensar – injustamente – o filme de David O. Rusell de alguma forma.
No mais, o BAFTA continuou reforçando sua sabedoria de escolhas e sua capacidade de surpreender (sem ser necessariamente injusto). Com Jared Leto fora, premiaram certeiramente Barkhad Abdi, ótimo em Capitão Phillips. Para o novato – que dificilmente seguirá carreira no cinema – a distinção deve ter tido um gosto muito especial. “Obrigado, Paul Greengrass, por ter acreditado em mim antes de eu mesmo acreditar”, agradeceu Abdi ao diretor. Rush – No Limite da Emoção, que passou em branco no Oscar, faturou melhor montagem, e Emmanuel Lubezki levou mais um prêmio de melhor fotografia por um filme de Cuarón (anos atrás por Filhos da Esperança e agora por Gravidade).
O auge da cerimônia, no entanto, foi o emocionante discurso de Cate Blanchett, eleita melhor atriz por Blue Jasmine. Ela não falou sobre Woody Allen. Nem sobre Sally Hawkins. Aliás, não homenageou ninguém do filme. A única lembrança de Blanchett em seu discurso foi para Philip Seymour Hoffman. O depoimento da atriz em homenagem ao amigo segue abaixo, na íntegra, em tradução literal, junto com a lista completa de vencedores.
“Eu queria dedicar esse prêmio a um ator que tem sido uma contínua e profunda inspiração para mim. Uma presença monumental que agora está tão tristemente ausente: o grande Philip Seymour Hoffman. Phil, o seu talento monumental, a sua generosidade e a sua incansável busca pela verdade na arte e na vida farão falta não apenas para mim, mas para muitas pessoas. Não só aqui nesse teatro ou na indústria, mas para os espectadores que te amam tão carinhosamente. Você elevou o padrão continuamente, e a um padrão tão alto… Tudo o que podemos fazer, em sua ausência, é tentar dar sequência a isso por meio do nosso trabalho. Phil, meu amigo, isso é para você! Seu desgraçado, espero que você esteja orgulhoso!”
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BAFTA 2014 – OS VENCEDORES:
MELHOR FILME: 12 Anos de Escravidão
MELHOR DIREÇÃO: Alfonso Cuarón (Gravidade)
MELHOR ATRIZ: Cate Blanchett (Blue Jasmine)
MELHOR ATOR: Chiwetel Ejiofor (12 Anos de Escravidão)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Jennifer Lawrence (Trapaça)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Barkhad Abdi (Capitão Phillips)
MELHOR FILME EM LÍNGUA NÃO-INGLESA: A Grande Beleza (Itália)
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Trapaça
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: Philomena
MELHOR FILME BRITÂNICO: Gravidade
MELHOR DOCUMENTÁRIO: O Ato de Matar
MELHOR ANIMAÇÃO: Frozen – Uma Aventura Congelante
MELHOR MAQUIAGEM: Trapaça
MELHOR MONTAGEM: Rush – No Limite da Emoção
MELHOR FOTOGRAFIA: Gravidade
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: O Grande Gatsby
MELHOR SOM: Gravidade
MELHOR FIGURINO: O Grande Gatsby
MELHORES EFEITOS VISUAIS: Gravidade
MELHOR TRILHA SONORA: Gravidade
MELHOR ATOR/ATRIZ EM ASCENSÃO: Will Poulter
O BAFTA agora só me deixou mais confuso com relação a “12 Anos de Escravidão”. Não assisti ao longa ainda, mas como ele alcançou esse status de “obra-prima” e “melhor filme do ano”, e vem sendo tão preterido pelas principais premiações?
Ele tem tido uma trajetória no mínimo curiosa nessa temporada: só ganhou três Critics’ Choice (filme, roteiro adaptado e atriz coadjuvante), um globo de ouro (filme drama), um SAG (atriz coadjuvante) e agora esses dois BAFTA’s. A única premiação que ele ganhou em quantidade significativa foi no Online Film Critics Society. Pra mim, não faz sentido o melhor filme do ano não ganhar direção, roteiro ou, pelo menos, montagem.
No mais, só tenho a celebrar as vitórias de Cuarón, Blanchett e “Frozen”. E que lindo discurso esse da Blanchett!
Ótima análise, Matheus! Apesar do triunfo de “12 Anos de Escravidão” em Melhor Filme, acredito que o favoritismo em termos de Oscar continua com “Gravidade”. No mais, não acredito que o resultado do BAFTA terá muita influência no Oscar, apesar da votação para os vencedores dos prêmios da Academia terem se iniciado na última sexta-feira.
Pra mim o BAFTA fez o que o Oscar também deveria ter feito: premiar Emmanuele Riva no ano passado e deixar para premiar Jennifer Lawrence esse ano. Cogitava uma vitória de Jennifer, mas ela só ganharia no Oscar se já não tivesse prevalecido no ano passado. Lupita também não está entre as minhas favoritas na categoria, mas parece que o prêmio vai acabar caindo em suas mãos.
Apesar desse acerto, um erro gritante foi premiar David O. Russel pelo segundo ano consecutivo pelos roteiros de seus filmes bobos.
Excelente análise da premiação, Matheus. Gostei muito de Barkhad Abdi ter levado o prêmio. E esse discurso da Cate foi mesmo muito emocionante.
Queria tanto ter assistido ao BAFTA, mas esqueci. Que bom que você nos trouxe esse magnífico resumo da noite, com o emocionante discurso de Cate.
O que mais gosto do BAFTA é que não tem enrolação na hora de anunciar os vencedores. Sobre o resultado, gostei. Para o Oscar, só tenho duas certezas mesmo: Cate e Cuarón. Tem muita categoria em aberto, especialmente filme.
E o discurso de Cate dedicando seu prêmio ao Philip e a vitória do Abdi foram meus momentos preferidos também.