O som das trilhas (e as melhores composições de 2013)

No último post de 2013 aqui do blog, comentei que estava um tanto afastado do tempo que considero essencial para ver um filme e escrever sobre ele. Pois no ano que passou também me distanciei – por razões mencionadas naquele post – de outra grande paixão minha: as trilhas sonoras. Não deixei de ouvi-las, mas nunca mais tinha dado o devido destaque a elas aqui no blog (a última postagem sobre trilhas foi em abril!). Pois, então, chegou a hora de começar a reparar esse erro. Mãos à obra!

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scoreprisoners

Composta pelo islandês Jóhann Jóhannsson, esta trilha sonora é mais um dos tantos fatores exemplares de Os Suspeitos. Impressionante como Jóhansson cria um álbum extremamente discreto mas eficiente para envolver o espectador no suspense do filme de Denis Villeneuve. A transição entre melodias dramáticas e nervosas dá o tom certo para o longa, que, sem dúvida, se torna muito mais intrigante com o trabalho de Jóhannsson. É realmente um álbum imersivo e diferente do que estamos acostumados a ouvir em produções do gênero – o que também vai ao encontro da própria discografia do compositor, reconhecida por essa mistura de melancolia e assombramento. Desde já, um nome para se atentar sempre.

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scorerushRush – No Limite da Emoção não teria a mesma adrenalina e a mesma dinâmica sem a excelente trilha sonora do mestre Hans Zimmer. Bastante contemporânea mas nunca abandonando sonoridades marcantes do compositor, é o caso onde o álbum consegue dar conta de todos os momentos da trama roteirizada por Peter Morgan e ainda deixar um tema ecoando na mente do espectador. A composição Lost but Won é o ponto alto do álbum, sintetizando muito bem o tom do filme de Ron Howard. Seu trabalho mais recente para o oscarizável 12 Anos de Escravidão deve receber mais confetes, mas Hans Zimmer também merece créditos por Rush.
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scoregravityMais uma trilha do ano passado que preza pela sutileza para imergir o espectador em um determinado universo. Sim, Gravidade é um filme grandioso, mas o trabalho de Steven Price (em sua primeira grande trilha depois de anos como editor musical de filmes a trilogia O Senhor dos Anéis) não tem nada de explosivo ou megalomaníaco. Ótimas composições como Shenzou precisam subir (maravilhosamente bem) o tom para acompanhar as consequências da história, mas, no geral, a trilha de Gravidade ganha pela simplicidade. Merecidamente, tem tudo para figurar em todas as listas de melhores trilhas da temporada de premiações.
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scorebeastsÉ do diretor Benh Zeitlin, em parceria com Dan Romer, a trilha de Indomável Sonhadora. Não sou entusiasta do filme, mas certamente o trabalho realizado pela dupla é um dos melhores destaques do projeto (junto, claro, com a presença da pequena Quvenzhané Wallis). O álbum chama a atenção pela inventividade e pela diversidade de sonoridades. Impossível não se entusiasmar ao ouvir e reconhecer a força do resultado, que tem tudo a ver com o universo realista mas também fantasioso do filme de Zeitlin. Infelizmente, poucos prestaram atenção nesta rilha, que, ao longo de 14 composições originais, nunca perde o fôlego e a capacidade de surpreender.
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scoremidnightFoi acertada a decisão do diretor Richard Linklater de tornar a trilha sonora um aspecto mais presente na história de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy). Em Antes da Meia-Noite, o piano de Graham Reynolds traz uma melancolia totalmente necessária para o último (?) capítulo deste drama romântico. Chama a atenção a forma como até mesmo composições mais “alegres” possuem algo de agridoce, o que só comprova a total compreensão do compositor em relação ao que Jesse e Celine se tornaram depois de tantos anos. Mesmo que breve e, por algumas vezes, repetitiva, a trilha funciona justamente por ser mais um ingrediente emocional deste que é um dos romances mais marcantes dos últimos anos.
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scoremasterÉ novamente bem sucedida a parceria do diretor Paul Thomas Anderson com Jonny Greeenwood, o guitarrista da banda Radiohead. Se, em Sangue Negro, Greenwood já havia se firmado como um compositor inovador, em O Mestre ele reafirma esse seu talento para realizar trilhas que não são nada convencionais. Mas é muito claro: esse álbum, assim como o próprio filme de Anderson, é estupendo, mas difícil. O adjetivo “assombroso” também cabe a essa trilha, que, sim, chega a ser incômoda (não em um mau sentido), mas também quase hipnotizante. Destaque para Overtones, faixa de abertura e que é o tema desse subestimado longa-metragem.
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scorerarasEspero que todos fiquem de olho na trilha de Flores Raras, que, sem dúvida, é uma das mais marcantes do ano – e, possivelmente, a melhor já realizada pelo brasileiro Marcelo Zarvos. Sensível e sutil, casa perfeitamente com a narrativa do filme de Bruno Barreto, pontuando perfeitamente todas as transições e evoluções do relacionamento de Lota (Glória) e Elizabeth Bishop (Miranda Otto). Composições como The Art of Losing mostram que Flores Raras ganha um charme extra com essa trilha surpreendente, que ainda é uma prova de como a música, em qualquer obra audiovisual, pode – e deve – ser decisiva na cadência de uma história.

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Ainda em tempo, as melhores composições de 2013:

Alexandre Desplat – “Le Lac” (Ferrugem e Osso)

Behn Zeitlin & Dan Romer – “Once There Was a Hushpuppy” (Indomável Sonhadora)

Clint Mansell – “Happy Birthday (A Death in the Family)” (Segredos de Sangue)

Clint Mansell – “Becoming…” (Segredos de Sangue)

Dario Marianelli – “Dance With Me” (Anna Karenina)

Graham Reynolds – “The Best Summer of My Life” (Antes da Meia-Noite)

Hans Zimmer – “Lost but Won” (Rush – No Limite da Emoção)

Hans Zimmer – “What Are You Going to Do When You’re Not Saving the World?” (O Homem de Aço)

Jonny Greenwood – “Overtones” (O Mestre)

Marcelo Zarvos – “The Art of Losing” (Flores Raras)

Mike Patton – “The Snow Angel” (O Lugar Onde Tudo Termina)

Philip Glass – “Duet” (Segredos de Sangue)

Steven Price – “Shenzou” (Gravidade)

3 comentários em “O som das trilhas (e as melhores composições de 2013)

  1. As minhas favoritas do ano são “Anna Karenina” e “Gravidade”. Mas adorei as menções às trilhas de “O Mestre” e “Indomável Sonhadora” (um aspecto bastante subestimado nesse filme superestimado). Já as minhas composições favoritas são: “Gravity” (“Gravidade”), Overture (“Anna Karenina”) e “Once There Was a Hushpuppy” (“Indomável Sonhadora”).

  2. Amei a lembrança das trilhas de “Indomável Sonhadora”, “O Mestre” e “Flores Raras”, que também são minhas favoritas do ano. ;)

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