I don’t want you to get hurt…
Direção: Kimberly Peirce
Roteiro: Roberto Aguirre-Sacasa, baseado no livro “Carrie”, de Stephen King
Elenco: Chloë Grace Moretz, Julianne Moore, Judy Greer, Gabriella Wilde, Portia Doubleday, Alex Russell, Zoë Belkin, Ansel Elgort, Samantha Weinstein, Karissa Strain, Barry Shabaka Henley, Demetrius Joyette, Arlene Mazerolle
Carrie, EUA, 2013, Terror, 100 minutos
Sinopse: Carrie retrata um grande desastre ocorrido na cidade americana de Chamberlain, Maine, destruída pela jovem Carietta White (Chloë Grace Moretz). Nos anos anteriores à tragédia, a adolescente foi oprimida pela sua mãe, Margaret (Julianne Moore), uma fanática religiosa. Além dos maus tratos em casa, Carrie também sofria com o abuso dos colegas de escola, que nunca compreenderam sua aparência, nem seu comportamento. Um dia, quando a jovem menstrua pela primeira, ela se desespera e acredita estar morrendo, por nunca ter conversado sobre o tema em casa. Mais uma vez, ela é ridicularizada pelas garotas do colégio. Aos poucos, ela descobre que possui estranhos poderes telecinéticos, que se manifestam durante sua festa de formatura, quando os jovens mais populares da escola humilham Carrie diante de todos. (Adoro Cinema)
Sejamos bem francos: excetuando razões comerciais, não há motivo algum que justifique o remake de clássicos do cinema. Pelo menos não nas últimas décadas. Pare e pense: qual refilmagem de um filme icônico realmente deu certo? Ou melhor, qual teve pelo menos algo a dizer ou uma desculpa justificável para que determinada história ganhasse uma nova versão? Porque é isso mesmo: quase todos os remakes que vimos nos anos mais recentes foram completamente desnecessários, para dizer o mínimo. Por isso, é sempre preocupante quando anunciam a ideia de trazer um clássico para as novas plateias. Infelizmente, o caso mais recente, Carrie – A Estranha, não foge à regra. Mesmo com uma veterana que dispensa comentários e uma jovem promissora encabeçando o elenco, além de uma diretora competente, essa nova versão do filme de Brian de Palma (adaptado do livro de Stephen King) é outro exemplar que lamentavelmente fracassa em sua missão de releitura, provando, mais uma vez, que não se deve mexer com clássicos.
A execução nem chega a ser o mais decepcionante, já que os maiores problemas desse novo Carrie – A Estranha estão na própria concepção da história. O filme de Kimberly Peirce (responsável por um impactante filme chamado Meninos Não Choram, que rendeu o primeiro Oscar de melhor atriz para Hilary Swank) perde boa parte de suas chances ao se ajustar ao público jovem da atualidade. Com essa adaptação, a história ganha um viés completamente adolescente, perdendo aquilo que justamente tornava o longa de Brian de Palma tão especial: o estudo de todo o contexto psicológico da perturbada protagonista. Aqui, com o roteiro de Roberto Aguirre-Sacasa, Carrie vira um mero terror colegial protagonizado por adolescentes tolas. Tudo é jovem demais, seja dentro da própria história (câmeras de celular! Youtube!) ou do próprio tom, que reflete as corriqueiras bobagens sanguinolentas e estereotipadas dos filmes desse formato. É lamentável não encontrar aqui o que mais dava certo antes: a contextualização dramática, o devido mergulho na relação doentia entre Carrie (Chloë Grace Moretz) e sua mãe (Julianne Moore) e um passo a passo dramático que nos faça crer que as tragédias dos momentos finais eram realmente necessárias.
Com a ausência de tais abordagens, o longa de Peirce não passa de uma história teen com toques de terror, repleta de figuras extremas (a vilã é completamente unidimensional, uma doente psicopata), contextos questionáveis (essa é uma escola onde até os professores batem na cara dos alunos e os discriminam em uma apresentação de poesia) e desenvolvimentos rasos (a telecinesia é particularmente avulsa). Por isso, a indignação é maior com as bobagens do filme do que com a situação da protagonista, que sofre mas não tem contextos envolventes para conquistar nossa compaixão. Inclusive porque Carrie ainda peca em um ponto crucial: a escalação de Chloë Grace Moretz. Se a aparência frágil e atípica de Sissy Spacek já cumpria metade da missão de vitimizar Carrie no longa original, o oposto acontece na refilmagem: Moretz é uma menina bonita e o filme, ao tentar “enfeiar” a atriz, faz com que ela se limite a gestos e olhares forçados para transmitir essa sua isolação. O resultado? Não somos convencidos – e percebam como, quando ela surge produzida e maquiada para o baile, nem nos surpreendemos tanto com sua transformação, já que é fácil perceber que não era necessária uma mega produção para Carrie ficar, no mínimo, tão atraente fisicamente quanto suas colegas acéfalas.
Talvez o que exista de mais relevante em Carrie – A Estranha seja a figura de Julianne Moore. Como a mãe louca e religiosa, ela até que tem seus momentos. Entretanto, assim como várias outras personagens, não passa de uma maluca que vem só para infernizar a vida da protagonista. Sua obsessão pela bíblia e seu visual de bruxa (precisavam mesmo representar a loucura da personagem até nos cabelos da atriz?) nunca são explicadas – o que, convenhamos, daria um tom completamente diferente à personagem e também à dinâmica perigosa que ela estabelece com a filha. Abusando desnecessariamente de efeitos para mostrar sangue e mortes – algo que tira completamente o espectador da tensão que deveria ser realista e nervosa – Carrie chega a ser enxuto e distante de ofender, mas não o suficiente para diminuir os erros de uma narrativa pobre, vazia e despreocupada com a força dramática e psicológica que a história tanto necessita para a elaboração de seu suspense. Dá para ver um público para esse filme e, na hora em que os créditos finais sobes, a impressão que ele talvez nem seja tão ruim… Mas quanto mais se pensa no resultado e mais o tempo passa, as lembranças ficam piores. E isso não seria o contrário do que uma história clássica deveria causar?
FILME: 5.5
Assisti esses dias Matheus, e o filme não tem razão alguma para ter sido readaptado; Fico cada vez mais impressionado com a insistência em adaptar filmes clássicos para os dias atuais. Chega a ser um desrespeito com o cinema em geral.
Hugo, o pior é que realmente é descartável =/
Kamila, por que eu ainda insisto, né? haha
Alex, obrigado pela correção! E, pelo visto, concordamos mesmo em praticamente todos os pontos.
Clóvis, pois é, não é o caso =/
Adoro o livro de Stephen King, mas não sou fã do longa de Brian de Palma, que só ganha mesmo com a bela atuação de Sissy Spacek. Esperava que esse filme pudesse ser uma adaptação mais interessante, até porque ele é encabeçado por duas atrizes que eu gosto muito. Uma pena que não parece ter sido o caso.
Matheus, embora tenhamos dado a mesma cotação para o filme, os problemas que você teve com o filme não foram os mesmos que o meu: vejo que um novo “Carrie” é oportuno para os nossos tempos e algumas qualidades do filme vão se tornando mais expressivas já um pouco distante do calor do momento da estreia. Mas vou concordar com outros pontos. O primeiro diz respeito à caracterização de Chloë Grace Moretz. Ela é definitivamente uma atriz inadequada e inexperiente para viver “Carrie”. O outro diz respeito à falta de razão para esta refilmagem existir. Kimberly Peirce é uma ótimo diretora, mas ela tem aqui a árdua tarefa de se sobressair trabalhando para um grande estúdio com um material outrora consagrado no cinema e na literatura. São poucos os instantes em que vemos a marca de Peirce. Ah, somente para retificar: o roteiro é assinado apenas por Roberto Aguirre-Sacasa – Lawrence D. Cohen é o autor do roteiro do filme de Brian De Palma.
Estou fora desse remake e de qualquer filme de suspense. rsrsrs
Ainda não vi para comentar, mas a princípio parece ser mais um remake descartável.
Abraço