
A diretora canadense Sarah Polley já é favorita para a temporada de premiações com o documentário Histórias Que Contamos – Minha Família
À PROCURA DO AMOR (Enough Said, 2013, de Nicole Holofcener): Basicamente a mesma brincadeira tinha sido contada anos atrás com Meryl Streep e Uma Thurman no simpático Terapia do Amor. Por isso, esse À Procura do Amor já não ganha em originalidade, principalmente com um roteiro tão morno e que nem no momento destinado a ser o clímax consegue realmente alcançar um grande nível. Talvez seja característica da própria diretora Nicole Holofcener, que tem uma excelente carreira na TV (já dirigiu episódios de A Sete Palmos, Sex and the City e Enlightened), mas que no cinema nunca chegou a apresentar obras mais especiais – como é o caso também de Amigas Com Dinheiro, outra comédia dramática bastante morna dirigida por ela. É válida a proposta de À Procura do Amor de mostrar personagens “gente como a gente”, mas várias pontos são decepcionantes: Toni Collette só serve para ser a amiga que ouve as confissões da protagonista, a forma como o roteiro coloca amizade e amor na balança em seus últimos momentos é um tanto questionável e tudo se desenvolve com várias previsibilidades. Quem se destaca mesmo é a dupla Julia Louis-Dreyfuss e James Gandolfini, com uma ótima sintonia. Sem eles, À Procura do Amor sairia do mediano para o entediante.
A RELIGIOSA (La Religieuse, 2013, de Guillaume Nicloux): A Religiosa, exibido no Festival de Berlim deste ano, é uma mistura de Em Nome de Deus e Depois de Lúcia. Ou seja, um cotidiano simplesmente aterrorizante em um cenário religioso e também uma dolorosa via crucis de uma protagonista injustiçada. Narrando os dias de uma jovem que é confinada em um convento a mando de seus próprios pais, o filme de Guillaume Nicloux mostra toda as consequências que Suzanne (Pauline Etienne, muito segura) sofre quando nega, em 1796, sua promessa eterna a Deus perante autoridades da igreja e anuncia que está lá contrariada e sem vocação alguma para a vida religiosa. Ao contrário do que poderia se esperar, A Religiosa começa já com o alto sofrimento de Suzanne e pouco a pouco vai amortecendo os acontecimentos que narra (ao contrário do próprio Depois de Lúcia, que a cada minuto ficava ainda mais sufocante), até se encerrar de forma não tão interessante, apostando em uma storyline um tanto avulsa e forçada envolvendo uma freira lésbica vivida por Isabelle Huppert. Mas a discussão em torno das intolerâncias da igreja e como a vida religiosa se revela desde sempre um atraso na escala evolutiva humana são sempre instigantes. Por isso, mesmo que ambientado no século XVII, A Religiosa é sim um filme atemporal.
HISTÓRIA QUE CONTAMOS – MINHA FAMÍLIA (Stories We Tell, 2012, de Sarah Polley): Exibido no Festival do Rio em 2012, esse mais recente filme da canadense Sarah Polley já é favorito para conquistar as categorias de documentário da próxima temporada de premiações. E será especialmente justo, pois poucas vezes vimos – pelo menos nos últimos anos – um filme desse gênero tão pessoal e sincero. Aqui no Brasil, tivemos Elena recentemente, e História Que Contamos se apoia em uma proposta semelhante, onde a diretora faz uma homenagem a sua falecida mãe. Mas, ao mesmo tempo em que registra a influência dessa figura materna em sua família, Polley também descobre fatos que desconhecia, o que torna o filme também uma experiência cheia de novidades pessoais para ela – algumas, inclusive, decisivas para o modo como ela enxerga a vida e a dinâmica com seus entes queridos. O vasto material de arquivo pessoal ajuda História Que Contamos a se tornar ainda mais pessoal, colocando o espectador como parte daquela família. Se a diretora já havia demonstrando maturidade cinematográfica e sensibilidade apurada anos atrás com o belo Longe Dela, aqui tudo se confirma, com uma cineasta que, mesmo falando sobre sua vida e sua própria identidade, nunca restringe a história que conta ao seu próprio umbigo. Histórias Que Contamos não é egocêntrico. É sobre todos nós.
UM TIME SHOW DE BOLA (Metegol, 2013, de Juan José Campanella): Dada a proposta e o tema de Um Time Show de Bola, não seria necessariamente certo esperar uma animação com a mesma força emocional de O Filho da Noiva ou com o mesmo requinte narrativo de O Segredo dos Seus Olhos, mas era sim aguardado um roteiro melhor de Juan José Campanella. Com esse filme, ele realiza o trabalho mais desinteressante de sua carreira em termos de texto. É decepcionante como ele não consegue se decidir entre a homenagem ao futebol e as claras referências ao mundo de Toy Story. Essa indecisão afeta o ritmo de Um Time Show de Bola que, quando aposta nos brinquedos ganhando vida, fica sem foco algum, apostando apenas em situações cômicas nada originais. Por isso, mesmo quando decide falar de futebol (a partida final é, sem dúvida, o ponto alto do filme), tudo está muito atrasado depois de longos minutos insistindo em brinquedos falantes, cuja presença em nada influencia as grandes decisões dos personagens de carne e osso. Em tempos que realizadores de longas live action têm surpreendido em animações (Gore Verbinski com Rango, Tim Burton com Frankenweenie), Campanella decepciona com Um Time Show de Bola – seja pela maldição de ser um grande realizador que desde sempre nos desperta altas expectativas ou pelo simples fato do roteiro ser completamente desleixado.
José, me refiro às imagens e vídeos que a Sarah Polley tem da família!
Kamila, “À Procura do Amor” é simpático, mas só.
Clóvis, eu também, mas te confesso que esperava mais do filme em si.
Não assisti a nenhum deles, mas “À Procura do Amor” já tem o meu interesse. Adoro a Julia Louis-Dreyfus!
Não assisti a nenhum desses filmes ainda, mas me interessei bastante por esse “À Procura do Amor”.
Matheus, quando você diz “O vasto material de arquivo pessoal ajuda História Que Contamos…”, a que material se refere?
Abraços