Harry Potter e a Ordem da Fênix é um filme de transição – em todos os sentidos, da história criada por J.K. Rowling até as escolhas do novo diretor David Yates (que assumiu o cargo após Mike Newell ter comandado o capítulo anterior). É por estar nesse meio de campo que o quinto filme da saga não chega a ser superlativo. Aqui, a introdução de novos personagens e situações bem como a repaginada estética e narrativa fazem toda a diferença no resultado. Na trama, Harry (Daniel Radcliffe, em um de seus piores momentos) descobre que boa parte da comunidade bruxa foi levada a acreditar que o retorno de Voldemort (Ralph Fiennes) é uma mentira inventada por ele, o que põe a sua credibilidade e a de todos que acreditam nele em dúvida.
Importante perceber que, a partir de A Ordem da Fênix, a magia de Hogwarts deixa de ser o foco. Alsonso Cuarón, em O Prisioneiro de Azkaban, já tinha anunciado essa virada, mas é na direção de David Yates que a história passa a ganhar contornos mais adultos e políticos, com storylines que possuem conflitos contínuos e que colocam os detalhes mágicos daquele universo apenas como um bônus. A Ordem da Fênix traz um forte tom de conspiração (causado pela volta de Voldemort), que divide o mundo bruxo: de um lado, a ala conservadora que se recusa a acreditar no retorno do temido assassino; do outro, os que se vêem acuados e apreensivos com essa volta. E é a partir do embate de posicionamentos tão diferentes que o filme constrói as principais desavenças entre os personagens.
Essa abordagem é bem explorada pelo roteiro de Michael Goldenberg, que, mesmo sofrendo com a enorme quantidade de novos personagens e subtramas, consegue fazer um satisfatório trabalho ao resumir mais de 700 páginas em aproximadamente 140 minutos. E, se A Ordem da Fênix não chega a ser necessariamente empolgante, em parte a culpa é do material original, visto que o livro homônimo é um dos que menos preza pela objetividade e por grandes acontecimentos na série. Mas Yates foi esperto e, ao perceber que o material é, sem dúvida, um dos mais complicados (ou tortuosos?) de Harry Potter, ele resolveu dar uma bela repaginada em todos os aspectos cinematográficos possíveis.
Com isso, tecnicamente, o resultado surpreendente – e é uma pena que as premiações não tenham reconhecido tal mérito (A Ordem da Fênix não teve sequer uma indicação ao Oscar). Parece que nesse filme conhecemos uma Hogwarts completamente diferente (o que é ótimo, diga-se de passagem). Também conhecemos novos ambientes do mundo dos bruxos, em especial o departamento de ministérios, reproduzindo com um admirável requinte. Nicholas Hooper ainda dá um novo tom ao enredo com uma trilha sonora extremamente original, que se afasta de qualquer repetição e que apresenta melodias completamente originais, terminando com a indiferença trazida por Patrick Doyle nesse mesmo setor em O Cálice de Fogo. É, certamente, um novo clima, que amplia o tom mais pausado e conspiratório da saga.
Impossível, entretanto, falar de A Ordem da Fênix sem ainda mencionar a importância de Imelda Staunton. Representando uma enviada do conservador ministério da magia que instaura uma verdadeira ditadura em Hogwarts, ela mostra uma grande versatilidade em sua participação – especialmente quando O Segredo de Vera Drake recém havia lhe dado celebração dois anos antes com um papel completamente diferente. Ela está não menos que espetacular como Dolores Umbridge, uma professora perfeccionista que, à primeira vista, parece uma senhora sorridente vestida de rosa mas que, pouco a pouco, se mostra sádica e intolerante.
Perto de seu desfecho, A Ordem da Fênix ganha momentos realmente grandiosos (a batalha entre Dumbledore e Voldemort é um primor e a morte de um personagem acontece em uma cena de ação muito bem conduzida), mas o problema mesmo é essa transição, tanto cinematográfica quanto narrativa, com novos personagens (Helena Bonham Carter é a principal nova adesão como Belatrix Lestrange) e fatos sendo instalados para acontecimentos posteriores. São pouco mais de duas horas corridas e de muitas informações, o que causa um certo estranhamento. O bom mesmo é que Yates já se mostra um bom diretor e uma escolha acertada para dar uma linha a essa saga que terminou de maneira impecável no oitavo filme.
FILME: 8.0
Confira também:
– Harry Potter e a Pedra Filosofal
– Harry Potter e a Câmara Secreta
Kamila, também acho a Imelda o grande destaque desse filme. Lembro que, na época, torcia para que ela fosse lembrada na temporada de premiações.
Brenno, conferi “O Cálice de Fogo” novamente dia desses e, poxa, o tempo não fez nada bem a ele!
Clóvis, por mim, ela poderia ter sido facilmente indicada ao Oscar!
Apesar de achar a trama bastante corrida e cheia de furos, gosto do modo como o Yates preserva a atmosfera sombria e pesada do livro. Mas quem rouba todas as cenas é a Imelda Staunton, que incarnou a sua personagem de maneira impecável. Se ela tivesse sido nomeada ao Oscar, não teria achado injustiça.
Apesar de pouco se elogiar esse filme, até que eu gosto dele. Da mesma que detesto “O Cálice de Fogo”, ao passo que todos amam. rsrsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
Pra mim, o grande destaque de “Harry Potter e a Ordem da Fênix” é a entrada de Imelda Staunton nesse universo narrativo/cinematográfico. A personagem dela acrescentou muito a esse filme e trouxe um alívio cômico, digamos assim, que era necessário a uma história um tanto tensa.