
Foto: Itamar Aguiar/PressPhoto
Para Kleber Mendonça Filho, hoje qualquer pessoa com um iPhone pode gravar um curta-metragem com qualidade de imagem para uma boa exibição no Palácio dos Festivais, por exemplo. No entanto, o diretor premiado em 2012 no Festival de Cinema de Gramado e jurado de longas-metragens brasileiros na edição deste ano, diz que ainda não inventaram o mais importante: o chip do talento. “Eu não faria o que faço hoje se não tivesse praticado e errado desde que comecei a fazer curtas na década de 1990. A ideia é não desistir, fazer, aprender, e não se guardar até o momento em que você acha já estar pronto”, comenta o diretor em entrevista ao Festival de Cinema de Gramado.
Presente na edição passada com o longa-metragem O Som ao Redor – que saiu de Gramado para o mundo com menções até mesmo na lista de melhores do ano do The New York Times -, Kleber Mendonça Filho marca presença mais uma vez no evento como jurado da categoria de longas brasileiros. A experiência, segundo ele, é completamente diferente. “Se você vai com um filme a um festival, existem várias preocupações, por mais que você queira se divertir. Você se preocupa com a exibição, com a coletiva, com a recepção. No meu caso, tive a felicidade de ter uma boa passagem por Gramado no ano passado”, conta Kleber.
Ao avaliar os longas em competição, o pernambucano conta que, quando assiste a um filme, prefere achar que é um espectador comum – mesmo adaptando suas preferências e o contexto de cada filme em questão. “O cinema tem uma base técnica que não podemos ignorar. E cada filme é uma nova experiência, uma nova curiosidade”, explica Kleber, que trabalhou com crítica de cinema após se formar em jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco. Ainda que jurado do 41º Festival de Cinema de Gramado, ele, que abandonou o trabalho de crítico para se dedicar exclusivamente à realização de filmes, confessa não se arrepender da escolha: “Eu descobri algo maravilhoso: não preciso mais ter opinião. Não preciso pensar agora no filme. Pode ser amanhã. Fazendo cinema ao mesmo tempo em que produzia críticas, cheguei a um grande nível de exaustão com a escrita. No final das contas, tinha virado uma máquina de opinião para vários veículos que eu colaborava”.
Com dois projetos em andamento, Kleber Mendonça Filho volta a filmar em 2014, mas, antes de ir para um set, é minucioso no seu processo de criação. “Não posso fazer um filme com pesar, achando que será cansativo fazer uma cena ou conduzir um ator. Quando escrevo um roteiro, tenho que pensar que vou gostar de filmar cada cena. Por isso levo tempo nesse processo”, conta. Sobre os trabalhos de sua filmografia, ele – que antes de 2012 e 2013 já havia marcado presença em Gramado para cinco edições do evento como crítico -, destaca o reconhecimento que teve com O Som ao Redor, longa que considera muito especial: “Foi um período enriquecedor. Fazer esse longa trouxe um grande trabalho de escrita, discussão, planejamento e execução”.
Quanto ao tipo de cinema que lhe interessa? Bom, para Kleber, o melhor não se relaciona em nada com grandes dimensões tecnológicas ou estrelismos de elenco. “Hoje, podemos acompanhar no Brasil uma nova geração que aposta em uma pequena escala de produção. Mas não é por a escala ser pequena que o resultado também será. É esse cinema que me interessa. Fiz O Som ao Redor, filme que muitos consideram ‘pequeno’, pensando mais ou menos por essa lógica. O que interessa é querer fazer”. Valorizando, claro, a tecnologia, mas nunca a colocando como principal elemento de um filme, Kleber Mendonça Filho volta ao Festival de Cinema de Gramado reafirmando que, de fato, o chip do talento não se inventa em massa. Alguns simplesmente o têm. E ele é certamente um deles.
* Texto realizado como cobertura oficial do 41º Festival de Cinema de Gramado para o site do evento
Reinaldo, obrigado!
Thiago, exatamente: primeiro vem sempre o talento.
Tatiana, nunca vão inventar!
Eu não faria o que faço hoje se não tivesse praticado e errado desde que comecei a fazer Teatro , e com certeza ainda não inventaram o chip e nem vão inventar ou nasce com talento pq não tem como comprar,
“Eu não faria o que faço hoje se não tivesse praticado e errado desde que comecei a fazer curtas na década de 1990. A ideia é não desistir, fazer, aprender, e não se guardar até o momento em que você acha já estar pronto.”
Talento é um mito. Ele tá falando de esforço. Vamos parar de achar que o cinema se resolve com abençoados artísticos/talentosos e com dinheiro.
Parabéns pela matéria Matheus! Um deleite de leitura para quem preza cinema!
abs