You can’t repeat the past.
Direção: Baz Luhrmann
Roteiro: Baz Luhrmann e Craig Pearce, baseado no romance homônimo de F. Scott Fitzgerald
Elenco: Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire, Carey Mulligan, Joel Edgerton, Isla Fisher, Emily Foreman, Steve BIsley, Richard Carter, Jason Clarke, Charlize Skinner, Stephen James King, Barrie Laws, Tiger Leacey Wyvill
The Great Gatsby, EUA/Austrália, Drama, 142 minutos
Sinopse: Nick Carraway (Tobey Maguire) tinha um grande fascínio por seu vizinho, o misterioso Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio). Após ser convidado pelo milionário para uma festa incrível, o relacionamento de ambos torna-se uma forte amizade. Quando Nick descobre que seu amigo tem uma antiga paixão por sua prima Daisy Buchanan (Carey Mulligan), ele resolve reaproximar os dois, esquecendo o fato dela ser casada com seu velho amigo dos tempos de faculdade, o também endinheirado Tom Buchanan (Joel Edgerton). Agora, o conflito está armado e as consequências serão trágicas. (Adoro Cinema)
Baz Luhrmann é um diretor de estilo bem definido e conferir O Grande Gatsby querendo outra coisa é completa insanidade. Por isso, antes de esperar um produto fiel à clássica obra de F. Scott Fitzgerald, o melhor conselho para qualquer espectador é se desarmar e acabar com qualquer vínculo com a literatura: o filme estrelado por Leonardo DiCaprio, Tobey Maguire e Carey Mulligan é, antes de mais nada, um projeto de Baz Luhrmann. Cercado de expectativas ruins – afinal, o diretor vem de uma forte decepção chamada Austrália – O Grande Gatsby está, em termos de criação, muito mais para Moulin Rouge! – Amor em Vermelho do que para seu longa anterior. E essa comparação é no mínimo polêmica, pois mesmo o musical de 2001, responsável pelo maior índice de aprovação da carreira do diretor, é amado e odiado na mesma proporção. Porém, O Grande Gatsby, se serve de consolo, é um exercício mais “controlado” de Luhrmann, ainda que não livre, claro, de seus maneirismos habituais.
Como já era evidente no próprio trailer, O Grande Gatsby é um filme de cores e extravagâncias estéticas. Talvez não precisasse ser assim, mas o diretor, querendo trazer seu estilo para a obra e – mais importante ainda – os elementos que fizeram de Moulin Rouge! o seu auge como realizador, quer a todo custo encher os olhos do espectador com festas grandiosas e espetaculares para ressaltar a boemia e a farra da juventude estadunidense dos anos 1920. Por isso, prepare-se: ele não poupa inventividades no figurino (repetindo a parceria com a vencedora do Oscar Catherine Martin) e na direção de arte. O resultado transborda perigo, já que O Grande Gatsby está sempre a um passo de se tornar cafona. Uma cena que exemplifica essa sensação é aquela que introduz Daisy Buchanan, a musa da vez vivida por Carey Mulligan. Exagerando no branco e nas cortinas esvoaçantes, a sequência é de encher os olhos (e Mulligan poucas vezes esteve tão bem fotografada), mas parece muito mais um comercial de shampoo ou perfume do que qualquer outra coisa.
Por sorte, fica só no quase mesmo e O Grande Gatsby, no final das contas, tem o visual a seu favor. Tal impressão de que o filme está beirando a cafonice está mais presente no início, quando o resultado como um todo também adota um tom mais frenético para mostrar as grandiosas festas realizadas na casa do misterioso Gatsby (Leonardo DiCaprio). Mas logo Baz Luhrmann troca a marcha e desacelera, mostrando que esta é a sua obra que mais se apoia em uma história do que em outros artifícios. E é exatamente por depender mais do roteiro que O Grande Gatsby não se torna uma experiência mais marcante. Não em função da adaptação ser necessariamente problemática, mas porque o resultado leva tempo demais para desenvolver o arco completo de uma história sem grandes mistérios. O tempo que o roteiro leva esmiuçando questões que não são novidades em termos de dramaturgia traz excessos ao filme. O suspense em torno do personagem de DiCaprio, por exemplo, poderia ser facilmente sintetizado: além de economizar cerca de meia hora, só eliminaria outras formalidades desnecessárias. São, portanto, excessos que banalizam o filme e que tentam de certa forma mascarar a falta de engenhosidade do enredo.
Não fosse por esse detalhe – que também deixa o ritmo um tanto arrastado – O Grande Gatsby poderia ser um ótimo espetáculo com o que Baz Luhrmann pode oferecer de melhor. Embalado por uma trilha bastante contemporânea (repleta de nomes musicais de sucesso), por outra instrumental igualmente eficiente (do ótimo Craig Armstrong) e por uma estética que, como já mencionado, cumpre sua missão de deslumbrar, o filme tem, inclusive, passagens que fazem um casamento certeiro entre a história e o estilo do diretor. A visita de Daisy à casa de Gatsby – ao som de Young and Beautiful, da Lana del Rey – é um dos pontos altos do longa. Aqui, além de tudo, temos mais um ótimo momento de DiCaprio, que, mesmo esbanjando beleza (a loirice e os olhos azuis do ator nunca chamaram tanto a atenção desde Titanic), consegue fazer uma composição que nunca se ofusca em função de seus atributos físicos. Carey Mulligan também funciona como musa e tem aqui um dos seus momentos mais interessantes, conseguindo-se libertar mais uma vez da enjoada chorona que vimos em tantos outros filmes.
É certo que O Grande Gatsby tem seus problemas. As motivações de alguns personagens não são devidamente pontuadas e uma vez ou outra Luhrmann escorrega em seus maneirismos. Também talvez lhe falte profundidade ao construir relacionamentos e motivações (a personagem de Carey fica particularmente bagunçada no final com transições bruscas demais), mas nada que afete o filme no geral, que é uma experiência válida e até um pouco surpreendente se formos considerar toda a falta de otimismo em torno dessa obra que parecia fadada ao fracasso. Qualquer exagero em relação à obra, ao meu ver, parece certa implicância. Ainda em tempo, para quem for conferir o filme em 3D, o resultado se torna ligeiramente mais interessante: aqui, novamente, a tecnologia como ferramenta de profundidade acerta aos nos levar para dentro daquele universo colorido, musical, extravagante e… quase desenfreado. E esse quase é o que importa.
FILME: 7.5
Reinaldo, eu, sinceramente, esperava uma bomba. Afinal, as críticas não pegaram leve com o filme. Só que, ao final, cheguei à conclusão que o pessoal ainda não se acostumou com as alegorias e os exageros de Baz Luhrmann.
Bela crítica Matheus. Concordo com sua análise geral. É preciso se desarmar. Trata-se, afinal, de um filme de Baz Luhrmann. E se suas idiossincrasias por vezes comprometem o resultado final, em muitos momentos tornam “O grande Gatsby” uma experiência muito satisfatória enquanto cinema. Nas especificidades concordo em pontos como o casamento perfeito entre a música Young and beautiful de Lana Del Rey na visita de daisy à mansão de Gatsby e discordo em outros como na confecção do suspense que antecede à primeira aparição do personagem vivido por DiCaprio.
Eis um filme que realmente driblou minhas péssimas expectativas em relação a ele. Não deixa de ser prazeroso quando isso acontece.
Abs