ELENA (idem, 2012, de Petra Costa): Depois de O Som ao Redor e O Que se Move, eis que surge Elena, mais um filme que incrementa a excelente fase do cinema nacional em 2013. Esse documentário dirigido por Petra Costa (em seu primeiro longa-metragem) vem fazendo relativo sucesso – e dá para entender o porquê do público se emocionar com o que é contado pela diretora. Poucas vezes vimos no cinema brasileiro uma experiência tão pessoal: aqui, Petra Costa não tem qualquer receio de abrir o mundo de sua família para fazer uma homenagem à irmã, figura que muito lhe influenciou. A Elena do título já não vive mais e a proposta do documentário é levar a diretora para Nova York a fim de relembrar tudo o que for possível da personagem-título, que viveu por lá durante anos tentando a carreira de atriz. O formato de homenagem em carta aberta lembra Uma Longa Viagem, de Lúcia Murat, mas Elena tem personalidade própria e consegue se desvincular de comparações que possam tirar seus méritos. Talvez a experiência toque o público de maneiras bem distintas e o tom contemplativo possa cansar alguns (a duração é de 80 minutos, mas parece ter bem mais). Sem falar que a preocupação com a estética às vezes parece se sobrepôr à história. Só que é difícil rivalizar com tudo isso quando alguém abre sua vida de forma tão sincera. Elena ficaria orgulhosa dessa homenagem.
GIOVANNI IMPROTTA (idem, 2013, de José Wilker): Não é qualquer um que tem a coragem (ou seria topete?) de José Wilker. Duramente criticado por seus comentários nas transmissões do Oscar na rede Globo, ele resolveu trocar de posição e se aventurar atrás das câmeras. É uma questão bastante delicada: afinal, até que ponto deve se julgar Giovanni Improtta baseando-se na imagem de “crítico de cinema” que temos de Wilker? De qualquer forma, não há muito a ser dito: o debut do ator-crítico é praticamente um desastre. Ainda que não seja ofensivo, Giovanni Improtta é extremamente irrelevante e mal contado. A ideia de ressuscitar o personagem da novela Senhora do Destino parece ser apenas o pontapé inicial de uma modinha (outras duas novelas vão ganhar spinoff no cinema: Fina Estampa e Cheias de Charme), mas, julgando pelo filme de Wilker, já temos muito a lamentar. No filme estrelado pelo irreverente personagem (que tem sua simpatia nas mãos do ator), nada prende a atenção e a tentativa de construir uma história é um fracasso. Pensando que o filme se sustentaria apenas nos bordões de Giovanni que viraram clássicos em sua respectiva novela, o roteiro se perde em situações avulsas que só existem para explorar as gracinhas do protagonista. No final, chega ainda a ficar monótono ao tentar se levar a sério demais. Wilker poderia ter passado sem essa.
PARA MAIORES (Movie 43, 2013, de Bon Odenkirk, Steven Brill, Steven Carr, Rusty Condieff, James Duffy, Griffin Dunne, Peter Farrelly, Patrik Forsberg, Will Graham, James Gunn, Brett Rattner e Jonathan Van Tulleken): Tenho certeza que, um dia, a vida conseguirá me curar desse trauma chamado Para Maiores. O curioso é que o mais triste não é ver um filme sem qualquer aspecto elogiável, mas saber que tantos atores talentosos estão envolvidos nessa desgraça descomunal. Comédia já não é o gênero mais fácil, mas esse consegue se superar em piadas que sabe-se lá porque conseguiram financiamento. Kate Winslet, Naomi Watts, Hugh Jackman e Emma Stone, por exemplo, deviam estar endividados até o pescoço quando aceitaram fazer parte de Para Maiores. Afinal, não dá para acreditar que eles de fato se interessaram por esse conjunto de sitcoms lastimáveis. O filme é exatamente assim: uma produção de mau gosto, repleta de momentos constrangedores e que não arranca um sorriso amarelo do espectador. A história? Vários curtas duvidosos envolvendo piadas sobre sexo. E nenhum deles tem o mínimo de graça. Um verdadeiro festival vergonha alheia que sequer se dá ao trabalho de tentar aproveitar o mínimo que seja dos bons atores que tem no elenco. Para se evitar sem qualquer hesitação.
TERAPIA DE RISCO (Side Effects, 2013, de Steven Soderbergh): Não dá para ir muito atrás de Steven Soderbergh dizendo que Terapia de Risco é o seu último filme para o cinema. Esse papo já existe desde Confissões de Uma Garota de Programa, de 2009. E, desde lá, ele já realizou nada menos que oito filmes. De qualquer forma, se essa for mesmo a despedida de Sodebergh, ele dá adeus ao cinema com um filme que fica no meio termo. O diretor sempre realizou produções dos mais variados gêneros e Terapia de Risco, de certa forma, transita entre vários deles. Começa como um drama sobre uma mulher que precisa lidar com a volta do marido que estava preso, depois se torna uma espécie de estudo sobre psiquiatria e a indústria de antidepresisvos e, quando se encaminha para o final, aposta no velho jogo de quem fala a verdade em uma história que tem fatos supostamente muito claros. Soderbergh consegue equilibrar bem essa diversidade até mais ou menos a metade. Quando dá uma reviravolta para mostrar Jon (Jude Law) tentando provar inocência frente a um processo que o coloca como culpado de um caso em que uma garota comete um assassinato em função dos remédios que ele prescreveu, o filme começa a perder o fôlego. Esse conflito é apresentado cedo demais e as resoluções tentam, sem efeitos positivos, surpreender a todo custo. Infelizmente, a vontade de Soderbergh em querer se mostrar esperto não combinou com o resto do filme.
Kamila, sou muito mais “Contágio”!
Pedro, é uma bela homenagem mesmo!
Mas que belo filme é este “Elena”…
Dos filmes comentados, só assisti “Terapia de Risco”, que tem um quê de “Contágio”, especialmente por causa do tom documental da fotografia e da forma como Soderbergh apresenta a sua história, além do fato do roteiro enfocar, novamente, uma questão relacionada à indústria da saúde. Entretanto, achei esse filme somente regular, muito em parte por causa da necessidade do roteiro em ter várias reviravoltas, com a intenção de surpreender o espectador.
No mais, quero MUITO assistir a “Elena”. Parece ser um filme muito forte. Espero que tenha a chance de chegar nos cinemas de minha cidade.