Pela primeira vez o esquema com mais de cinco indicados funcionou na categoria principal do Oscar. Mesmo que você não concorde com algumas escolhas dos votantes, há de de se reconhecer: as indicações de todos os filmes são perfeitamente justificáveis. E a seleção conseguiu ser a melhor em anos! É, acima de tudo, uma lista com os mais variados gêneros, que inclui, por exemplo, uma produção francesa e um musical. 2013 também foi o ano dos veteranos: seis dos nove diretores com filmes indicados na categoria principal já têm a estatueta em casa – seja por roteiro ou direção.
O jogo já parece decidido para Argo, mas a dúvida ainda paira: afinal, o Oscar vai com a maré ou assinará embaixo da rejeição de Ben Affleck na categoria de direção para consagrar outro filme – Lincoln, quem sabe, que sempre pareceu a alternativa mais óbvia? Argo já levou todos os prêmios possíveis, mas é bom lembrar de O Segredo de Brokeback Mountain. Só que, ao contrário do ano de Crash – No Limite, agora, em 2013, não nos surpreenderíamos com a derrota do favorito – o que, para todos os efeitos, pode ser um tanto frustrante. O suspense mais interessante está mesmo no resto da cerimônia, repleta de categorias indefinidas.
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AMOR (Amour, de Michael Haneke): Foi uma grande satisfação ver que, ao contrário de prêmios como o Globo de Ouro e SAG, o Oscar deu a devida atenção para esse filme pesado e sem concessões, que faz um dos retratos mais realistas sobre o envelhecimento. Apesar do título, Amor não é meloso ou muito menos apelativo quanto ao sentimento – o que pode surpreender certos públicos. Com ótimos desempenhos de dois veteranos do cinema francês, o longa é um dos mais marcantes da carreira de Michael Haneke e não seria surpresa vê-lo faturando importantes categorias como direção e atriz.
ARGO (idem, de Ben Affleck): É a sensação da temporada – e não é muito difícil entender o porquê: extremamente acessível, o novo filme de Ben Affleck dialoga com todos os públicos. Porém, esse perfil mais aberto não reduz o filme à previsibilidade: Argo tem uma história consistente, um clima de suspense eficiente e um roteiro muito bem resolvido. De vez em quando, quase apela para deixar o espectador nervoso, mas nada que altere o excelente resultado. Tem tudo para ser o vencedor da categoria principal e faturar outras como roteiro adaptado e montagem.
AS AVENTURAS DE PI (Life of Pi, de Ang Lee): Não tenho tanto apreço por esse novo filme de Ang Lee, que já está destinado a faturar várias categorias técnicas (trilha sonora, fotografia, efeitos visuais). Estranhamente, não é muito considerado para as categorias principais (mas lembrem-se que Lee foi o único diretor indicado a todos os prêmios da temporada). O reconhecimento técnico já está de bom tamanho para o longa, que tem um final interessante e até mesmo emotivo, mas cujo desenvolvimento não foge de vários esquemas presentes em histórias de sobrevivência.
DJANGO LIVRE (Django Unchained, de Quentin Tarantino): Não foi unanimidade, mas é um legítimo Tarantino, cheio de excelentes sacadas, personagens marcantes, violência e diálogos inteligentes. Merecia mais reconhecimento. Peca, como a maioria dos longas indicados, pelo excesso (a duração é um empecilho), mas Tarantino está sempre ali sendo diferente e ousado. Pela matemática, deve dar um segundo Oscar para Christoph Waltz (que já venceu o Globo de Ouro e o BAFTA) e, talvez, uma nova vitória para Tarantino em roteiro original.
A HORA MAIS ESCURA (Zero Dark Thirty, de Kathryn Bigelow): Ganhou várias associações de críticos, mas não fez uma grande carreira no Oscar e em outros prêmios. É um filme que traz Kathryn Bigelow ainda mais segura atrás das câmeras, mas que, tematicamente, não chega a trazer grandes novidades desde Guerra ao Terror. É o estilo da diretora, claro, mas A Hora Mais Escura não escapa da sensação de repetição. Suas maiores chances de não sair da festa de mãos abanando estão com o roteiro original de Mark Boal e, em menor grau, com a protagonista Jessica Chastain.
INDOMÁVEL SONHADORA (Beasts of the Southern Wild, de Benh Zeitlin): Estrelinha na testa desse filme por ser o único com menos de duas horas de duração entre os indicados. Representante mais significativo do cinema independente na cerimônia de 2013, conseguiu importantes – e inesperadas – indicações, como a de Benh Zeitlin em direção. Indomável Sonhadora impressiona mais pela força da pequena Quvenzhané Wallis como protagonista do que pelo filme em si – o que pode resultar em uma provável surpresa na categoria de melhor atriz.
O LADO BOM DA VIDA (Silver Linings Playbook, de David O. Russell): Impossível não associar o exacerbado entusiasmo por O Lado Bom da Vida com a influência de Harvey Weinstein. Complicado achar outra explicação para a paixão pelo filme de David O. Russell, que merecia, no máximo, ter indicações para Bradley Cooper e Jennifer Lawrence. Todas as outras lembranças são puro exagero: nada do que é apresentado nessa adaptação chega a ter o mesmo frescor ou originalidade de tantas outras excelentes comédias independentes que chegaram ao Oscar.
LINCOLN (idem, de Steven Spielberg): Líder de indicações, tem tudo para ser um Gangues de Nova York e quebrar a cara na cerimônia de premiação. Não dá para calcular mais que três estatuetas para o filme (de doze indicações), sendo uma a mais que previsível para Daniel Day-Lewis. Só que vale ficar de olho: Lincoln, mesmo convencional, pode ser a oportunidade da Academia sair à francesa da delicada questão envolvendo Argo. Consagrando o filme de Steven Spielberg, os votantes amorteceriam a polêmica, já que Lincoln foi, desde o anúncio das indicações, o longa que mais pareceu destinado a vencer o Oscar.
OS MISERÁVEIS (Les Misérables, de Tom Hooper): Seria um verdadeiro escândalo se Os Miseráveis fosse eleito melhor filme. Já virou obrigação falar mal de Tom Hooper e o longa não faz questão de agradar a todos (é, literalmente, ame ou odeie). Seria uma escolha polêmica, mas a vitória é mais do que improvável. Outro filme que começou a temporada de premiações com bastante força e que foi perdendo o brilho, até ser considerado, agora, um azarão. Merecia mais reconhecimento (afinal, sou do grupo que aprovou o resultado), mas seu esquecimento não dá para ser questionado devido à grande rejeição.
OS ESQUECIDOS
No meu mundo justo – e bastante imaginativo para os padrões do Oscar – a categoria de melhor filme, com dez indicados, seria a seguinte:
007 – Operação Skyfall
Amor
Argo
Django Livre
Ferrugem e Osso
Holy Motors
O Mestre
Os Miseráveis
Moonrise Kingdom
No
Kamila, muito boa essa questão que você levantou: será mesmo que “Argo” ganhará pelas razões certas? Antes de saber se ele vence ou não, acho que essa é a grande pergunta da noite deste domingo.
Clóvis, como disse no meu texto: é a melhor seleção em anos e, mesmo que não concordemos com algumas inclusões, podemos entendê-las perfeitamente. E boa lembrança a tua de “O Impossível”. Esse é um filme que merecia mais apreço.
Mark, eu até que gostei de “A Hora Mais Escura”, mas “O Lado Bom da Vida” foi uma verdadeira decepção pra mim. Na minha opinião, é um filme bagunçado que só vale pelas interpretações do Bradley Cooper e da Jennifer Lawrence.
Eduardo, obrigado! \o/
Película, complicado mesmo! Talvez o ano mais difícil que já presenciei!
Elton, aposto que “Os Miseráveis” não está com esse fôlego todo justamente em função desse ódio coletivo insuportável que surgiu contra o Tom Hooper. E bem que poderiam ter fechado dez indicados colocando “Moonrise Kingdom”, né?
Uau, estou aplaudindo as suas escolhas particulares. Senti falta de “Moonrise Kingdom” na categoria, achava que tinha esperanças de o filme converter indicação, mas não rolou.
Também estou no restrito grupo de pessoas que gostou de “Os Miseráveis” e o seu post no Twitter das pessoas estarem ficando mais chata q o Hooper por odiá-lo faz todo o sentido.
Aposto em “Argo” para vencer, mas minha preferência é de “Indomável Sonhadora”.
Abs!
Esse ano está complicado fazer previsões. Acredito que “Argo” será o grande vencedor, mas “A Hora Mais Escura” é o meu favorito. Mais palpites aqui: http://bit.ly/13dcpDM
Eu acho que você poderia ser um votante no Oscar, pois suas listas estão muito melhores que a lista oficial! hahaha
Matheus, meus favoritos são os que provavelmente você menos gostou, “O Lado Bom da Vida” e “A Hora Mais Escura”, ambos não tem nada em especial, mas é justamente não gostei tanto dos outros como “Django” e os “Os Miseráveis” e geralmente são esses que teriam me atraido mais, até porque sou fã do Tarantino, mas acho que sua última grande obra tenha sido Kill Bill porque desde então eu tenho gostado muito das novas produções dele, mas nada que me fizesse vibrar tanto quanto a saga de vingança da noiva. Já “Os Miseráveis” tem um visual perfeito, grande elenco também, mas acho que eles não cantaram tão bem quanto poderiam. Vi um ensaio da peça e percebi a diferença, mas não me mata por isso, hehe. E concordo que “007 – Skyfall” deveria fazer parte dessa lista.
Se a seleção desse ano não está impecável, ao menos, está bem melhor do a que do ano passado. Entre os indicados ainda não vi “Amor” e “Indomável Sonhadora” e acho que apenas “Lincoln” e “O Lado Bom da Vida” estão sobrando nessa categoria.
Meu ranking até o momento fica:
“A Hora Mais Escura”
“As Aventuras de Pi”
“Os Miseráveis”
“Argo”
“Django Livre”
“Lincoln”
“O Lado Bom da Vida”
Os esquecidos: “O Mestre” e “O Impossível”.
Bom, dos 9 indicados, só não assisti a “Indomável Sonhadora”. Meu favorito é “Amor”, mas está indiscutível que “Argo” irá vencer. Só não sei se pelas razões certas ou pelas erradas…