Quando o diretor Paulo Guerra começou a seleção de atores para o seu espetáculo teatral, Dois de Paus, os profissionais que ele procurava deveriam ser figuras masculinas, com barba e preparo físico. “Eu não queria uma bicha magricela, de camisa justinha e cabelo espetado”, brincou. Para ele, era essencial que os atores, junto com o texto, expressassem com eficiência o espírito da peça: ela era sobre um casal específico, não sobre o universo gay. Seguindo essa mesma vertente, Weekend é uma grata surpresa entre os filmes da temática gay. Nada de panfletagem da causa (Milk – A Voz da Igualdade), vitimização ou sequer estereótipos. É algo raro no mundo dos longas-metragens dessa temática, que sempre perderam para os curtas (Eu Não Quero Voltar Sozinho, Alguma Coisa Assim) na hora de humanizar os homossexuais da devida maneira.
Exibido aqui no Brasil apenas no Festival do Rio, em 2011, Weekend é uma produção britânica que conta a história de Russell (Tom Cullen) e Glen (Chris New), dois jovens que se conhecem em uma festa e que, após uma noite juntos, começam a se conhecer melhor. O problema, no entanto, é que Glen está prestes a ir embora da cidade. Assim, os dois têm apenas um fim-de-semana para aproveitar a relação que recém começou, seja lá o que ela signifique. Se, a princípio, Weekend parecia apenas uma versão gay de filmes como Antes do Amanhecer, eis que o diretor e roteirista Andrew Haigh subverte as nossas expectativas: a história pouco se foca no dilema de ir ou ficar e no desespero dos personagens ao ver que o fim-de-semana do título está chegando ao fim. Ao invés disso, Haigh faz um estudo cheio de sutilezas sobre os mais variados assuntos. Assuntos que, claro, recebem uma outra perspectivas pela ótica gay, mas que nunca perdem o caráter universal.
Weekend também apresenta outro aspecto extremamente interessante: o realismo. Mais superficialmente, qualquer espectador pode notar a desenvoltura dos atores ou a verossimilhança de diálogos nada pomposos ou filosóficos, mas também vale a pena ficar de olho na forma como o diretor utiliza a câmera como um verdadeiro observador. Parece que Weekend está acontecendo na casa ao lado e que somos, secretamante, convidados a acompanhar essa relação tão cheia de cumplicidade e descobertas. A própria direção de arte, bem como as locações, também ajudam nessa missão de Weekend de tornar tudo palpável. E o resultado não é menos que excepcional. Nós acreditamos em todos personagens e diálogos – o que por si só já é algo que muitos diretores experientes, às vezes, falham em conseguir. Tudo no filme de Andrew Haigh é palpável, como se pudesse muito bem acontecer na casa ao lado.
A dupla de atores Tom Cullen e Chris New entendeu completamente a proposta do filme. Eles, bem como o diretor, tratam a temática gay com a mais completa normalidade. Pouco importa se Weekend fala sobre o relacionamento entre dois homens. O importante, aqui, é o sentimento, o ser humano. O espectador, portanto, deve ter essa mesma perspectiva na hora de entrar no filme. Por fim, é um trabalho que alcança um respeitável resultado em sua abordagem. Poucas vezes vimos um filme gay com tal realismo. E é difícil lembrar de uma outra produção recente que, por ter tão poucas ambições e pretensões, conseguiu, justamente, ser ainda melhor. Weekend é assim: um acerto para toda e qualquer perspectiva. E Andrew Haigh, um nome para se guardar.
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Daniel, também me surpreendi com o filme! Merecia uma distribuição melhor…
Luís, como você pode perceber pelo meu texto, não tive problemas com o filme. Adorei o resultado!
Kamila, quando você puder, confira. É ótimo!
Parabéns pelo texto, Matheus, que ficou excelente, e me deixou curiosa demais para conferir este filme, sobre o qual ainda não tinha ouvido falar.
Confesso que eu achei boa a intenção e sobretudo gostei de que fosse representado um casal específico e não o universo homossexual. Há alguma coisa no filme, no entanto, que não me permitiu simpatizar totalmente com ele, algo que e deixou meio esquivo.
Pude ver esse filme ano passado em um festival aqui em BH chamado Indie. Achei acima da média de filmes do “gênero gay” e fiquei impressionado com o realismo da abordagem e das atuações, o que conferiu ainda mais qualidade à produção.