A árvore das divergências

De vez em quando, é bom aparecer uma polêmica envolvendo determinado filme. Assim, ficamos livres dessa mesmice do cinema contemporâneo. A Árvore da Vida não tem um diretor que diz entender Hitler e muito menos temáticas chocantes como as do A Serbian Film. No entanto, poucas vezes, nos últimos anos, vimos um longa que despertasse tantas opiniões contrárias. A incoerência já começou no Festival de Cannes, onde o filme foi vaiado em sua exibição mas depois coroado com a Palma de Ouro. Logo, bastou chegar aos cinemas para determinar extremos: A Árvore da Vida desperta amor ou ódio. Nunca indiferença.

Quando o filme acabou, não fiquei indeferente ao resultado, mas pude compreender ambas as sensações de amor e ódio. O que o filme tem de belo, tem de desgastante. Vamos começar, então, pelo amor. O visual do filme de Terrence Malick é simplesmente impressionante. Não no sentido de paisagens belas ou de efeitos, mas na forma como a fotografia, em parceria com a bela trilha do francês Alexandre Desplat, explora a dramaticidade do filme. As tonalidades e os enquadramentos nos deixam ainda mais próximos dos personagens e, principalmente, do que eles estão sentindo.

Agora, o ódio. Se formos analisar em linhas bem gerais a história de A Árvore da Vida, vamos concluir que, ao contrário do que o diretor quer convencer, nada existe de complicado nela. Para falar bem a verdade, o assunto não poderia ser mais batido: pai controlador e rígido, mãe submissa, filhos com infância limitada e por aí vai… Nada de novo. O problema é que o diretor faz questão de deixar tudo complexo – usando a estética para  isso. Além de, muitas vezes, desviar a atenção do espectador da história, parece disfarçar uma falta de consistência de argumentos. O filme traz várias interpretações, mas não necessariamente uma discussão de seu conteúdo.

Esse é um filme que não seria muita coisa se não fosse tão cheio de alegorias. Toda cena é lindamente fotografada, os personagens dizem muito pouco (aquela velha história de silêncio = introspecção) e o ritmo… Ah, o ritmo! Incrivelmente arrastado. Com esse jeito de utilizar tanto a estética, o filme começa a se tornar repetitivo, aumentando ainda mais essa sensação de falta de consistência da história. Portanto, é fácil compreender as pessoas que abandonaram a sessão e que não tiveram paciência com imagens metafóricas demais. É um problema, também, de montagem. Bastava o filme não perder tanto tempo com essas tomadas que seria bem mais mastigável. Objetividade seria muito agradável.

Só que aí fica aquele questionamento: será mesmo que o diretor gostaria de ser mais abrangente ou ele apostou nesse formato de  propósito para atingir apenas um público seleto? Difícil saber, uma vez que A Árvore da Vida é um filme muito difícil e tentar colocar num texto tudo o que ele pode significar ou tudo o que ele quer dizer através de imagens é pura ilusão. A proposta do Cinema e Argumento nunca foi analisar questões psicológicas ou metáforas de filmes. O que sempre trabalhei aqui foi a forma como um filme me atingiu e o que senti com ele. E A Árvore da Vida foi isso para mim: uma experiência cheia de belos momentos e de cenas que me arrepiaram, mas que é prejudicada por seu ritmo maçante e pela sua vontade de querer parecer mais do que realmente é. Se você não enxerga dessa maneira, compartilhe – afinal, o filme parece ter sido feito justamente para causar divergências e formar debates.

NA PREMIAÇÃO 2011 DO CINEMA E ARGUMENTO:

8 comentários em “A árvore das divergências

  1. Confesso que fiquei curiosa em assistir mais pelos protagonistas e pelo premio importantíssimo PALMA DE OURO EM CANNES ! não é p/ qualquer um. Mas não agrada o público em geral, é um filme para poucos, lento, fotografia linda (confusa, mas bonita), enfim, gostei muito, mereceu o prêmio.

  2. Assisti o filme e gostei muito. Sai bestificada da sala de cinema, que estava mergulhada num silêncio absurdo. Acho que a história é mais que a simples vida daquela família: é mais como uma tentativa (belíssima, ainda que super pretensiosa) de aliar a vida pequena dos homens que a “vida” imensa do Universo. É um filme seletivo e hermético, isso é evidente desde o início, e foi feito para criar polêmicas e divergências. A fotografia é linda, a trilha sonora é arrepiante, o ritmo é lendo, mas… Bem, eu não me cansei, por que o filme mexeu demais comigo, me fez pensar um monte.

  3. Na primeira vez embora maravilhado pela trilha, fotografia e atores, o ódio ficou pelo enredo extremamente não linear, ritmo e falta de consistências…porém depois fui ler sobre o filme, procurando elogios e tentando entender mais, então fui assistir novamente, abondonei no meio…o arrastamento me matou e as infinitas possibilidades de entendimento sobre cada cena me cansou. Vi que acabaria não chegando a lugar nenhum, apenas possibilidades. Li comentários sobre várias cenas e se lidas sem pré assimilação com o filme, dificilmente descubriria que estão falando do mesmo filme. Resume aqui: vontade de querer parecer mais do que realmente é.

  4. Hugo, conheço pouco do cinema de Malick…

    Mateus, até agora eu não sei direito o que achei do filme…

    Kamila, tente evitar mesmo. O legal é ler depois.

    Ricardo, foi uma polêmica mesmo, né? Na minha opinião, o filme causou mais barulho que o próprio “Melancolia”.

  5. Eu lembro da mesma polêmica na época do lançamento de Anticristo, do enlouquecido Von Trier. As indiferenças sempre aparecem com um ou outro filme em determinado tempo.

    Abraços Matheus!

  6. Tento evitar ao máximo ler textos sobre “A Árvore da Vida”. O filme ainda nem estreou na minha cidade… :(

  7. É, acho que comigo a situação é semelhante. Já li textos criticando e elogiando o filme — e concordei com vários pontos de ambos. Aliás, até Isabela Boscov entrou nessa linha que você menciona aqui — diz ela que pode haver uma convergência de filme chato com brilhante, e, afinal, A ÁRVORE DA VIDA parece se enquadrar em muito disso. Encantei-me com o teor estético e envolvi-me com os personagens, mas não saberia inferir se outra montagem causaria impacto semelhante. No fim das contas, é sempre bom que um filme cause esse tipo de discussão.

  8. Gosto do cinema de Malick, mas ainda não tive oportunidade de conferir este trabalho.

    Abraço

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