A Rede Social

We lived in farms, then we lived in cities, and now we’re gonna live on the internet!

Direção: David Fincher

Elenco: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, Rooney Mara, Armie Hammer, Josh Pence, Bryan Barter, Patrick Mapel

The Social Network, EUA, 2010, Drama, 120 minutos

Sinopse: Em uma noite de outono em 2003, Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), analista de sistemas graduado em Harvard, senta na frente de seu computador e começa a trabalhar em uma nova ideia. Apenas seis anos e 500 milhões de amigos mais tarde, Zuckerberg se torna o mais jovem bilionário da história com o sucesso da rede social Facebook. O sucesso, no entanto, o leva a complicações em sua vida social e profissional.

Já me perguntaram, em diversas ocasiões, como escolho a nota que atribuo a um filme. A resposta é muito simples: a nota é de acordo com a habilidade que determinado filme teve de me conquistar. Não importa se tem aspectos técnicos impressionantes ou alguém conceituado na cadeira de direção. O essencial, ao meu ver, é o longa-metragem fazer com que eu me envolva com os personagens e entre na história vivida por eles. É na temporada de premiações que mais sofro com esse meu jeito de avaliar filmes. Parece que existe uma certa obrigação, entre os cinéfilos, de apreciar determinado filme só porque ele é dirigido por fulano ou porque é o grande favorito nos prêmios. Porém, sempre existe aquele favorito que não me agrada tanto. O de 2010 é A Rede Social.

Dirigido por David Fincher (recentemente indicado ao Oscar por O Curioso Caso de Benjamin Button), essa produção fala sobre a criação do Facebook e como, ironicamente, várias amizades foram destruídas por causa de uma rede virtual de… relacionamentos! O problema é que A Rede Social é didático no que se refere a seu estilo narrativo. Não estou falando da dinâmica (até porque o texto flui de forma ágil e tem ótimos momentos ao trabalhar junto com a excelente trilha sonora), mas sim do conteúdo, que peca ao não humanizar seus personagens quando decide deixar de lado a dramatização dos fatos. É tudo muito seco e racional. Os personagens são do jeito que são porque o roteiro quis assim e os acontecimentos surgem na tela sem maiores explicações prévias. Não existem justificativas (talvez o propósito seja mesmo deixá-las de lado), mas isso, ao meu ver, não é algo positivo.

Assim, fica difícil conviver, durante duas horas, com personagens unidimensionais e que não recebem as devidas abordagens. O protagonista Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), por exemplo, é vilanizado o filme inteiro e nunca sabemos se ele tem algum outro lado além do mostrado ou se pelo menos tem razões que fazem o personagem ser do jeito que é. Zuckerberg é frio e distante. Sem explicações. Não sabemos nada do emocional dele. O mesmo pode se dizer do arrogante Sean Parker (Justin Timberlake). A única figura que ganha maior dimensão é a de Eduardo Saverin (Andrew Garfield), o destaque entre as figuras retradas. Não só porque o personagem tem diversas abordagens, mas porque seu intérprete encontrou o tom certo para a composição. O jovem Andrew Garfield está ótimo e merece reconhecimento por isso.

Tratando de um tema muito atual, A Rede Social serve como ótima fonte de estudos sobre a geração gananciosa de jovens que está se formando nos dias de hoje. É um filme que nos faz refletir sobre como a fama gerada pela internet é capaz de inflar o ego de muita gente e como esse meio de comunicação pode ter efeito contrário do que se propõe. Assim, o longa de David Fincher tem diversos méritos por retratar, de forma concisa e sem rodeios, os males da internet. Só é uma pena que o roteiro de Aaron Sorkin (do péssimo Jogos do Poder) não aposte em um estilo mais dramático para contar sua história. A Rede Social tem valor relevante para a sociedade, mas não conquista como um produto cinematográfico que narra uma história bem dramatizada. Parece que existe uma barreira  que esse filme não consegue ultrapassar. É a barreira entre o relato biográfico racional e a necessidade de humanização dos fatos. Às vezes, simplesmente mostrar acontecimentos não é o suficiente. E, ao meu ver, A Rede Social fica só no satisfatório por ser tradicional nesse sentido.

FILME: 7.0

11 comentários em “A Rede Social

  1. `Não estou falando da dinâmica (até porque o texto flui de forma ágil e tem ótimos momentos ao trabalhar junto com a excelente trilha sonora), mas sim do conteúdo, que peca ao não humanizar seus personagens quando decide deixar de lado a dramatização dos fatos. É tudo muito seco e racional. Os personagens são do jeito que são porque o roteiro quis assim e os acontecimentos surgem na tela sem maiores explicações prévias. Não existem justificativas (talvez o propósito seja mesmo deixá-las de lado), mas isso, ao meu ver, não é algo positivo.`

    Em 30 minutos do filme que eu vi, eu vi exatamente isso.
    Ótima conclusão sobre este filme Matheus.

  2. Achei muito válido o seu texto porque é exatamente isso que eu achei de A Rede Social. Ainda que o filme não tenha me cansado, achei que faltou ousadia no roteiro – tudo parece certinho demais, tudo muito automático, convencional. E não tenho gostado dessa extrema sobrevalorização.

    Concordo, pois, com você e com o Cristiano.

  3. Rafael, concordamos em TUDO! Vejo alguns aspectos interessantes no filme, como a atuação do Andrew Garfield ou, como você mesmo disse, a montagem. Mas não consigo entender o porquê das pessoas estarem adorando esse filme que, num conjunto geral, é meio convencional.

    Cristiano, é exatamente isso: os personagens parecem robôs falando tanta coisa (e a primeira cena me irritou horrores por causa disso). É tudo seco, frio e sem emoção. É um resultado apenas ok mesmo… E já te aceitei lá no Twitter. Passei a te seguir também!

    Guilherme, obrigado pelo prêmio! =D

    James, então não sei se você vai gostar de “A Rede Social”, já que o filme não tem nada de emocional.

    Roberto, como eu disse no meu texto: “A Rede Social” é um interessante estudo sobre essa nova geração da interner que surgiu… Mas não acho que acerte tanto na dramaturgia – ou melhor, na falta dela.

    Vulgo Dudu, prêmios que eu acho injustos!

    Wally, eu não consigo ver dessa maneira. Como disse no texto, “A Rede Social” me pareceu frio e mecânico demais. Explora o lado psicológico e a personalidade de alguns personagens, mas nunca humaniza…

    Reinaldo, acho “Jogos do Poder” horroroso! Chato do início ao fim e um completo desperdício de elenco.

  4. Péssimo Jogos do Poder? Pô Matheus…rsrs
    Para mim é um dos melhores da década passada…rsrs
    Bem, seu texto sobre A rede social está muito bom. Contudo, não concordo com a sua avaliação do filme.
    Grande abraço!

  5. Se tem uma coisa que não acho deste filme é que ele seja “tradicional”, da direção à trilha, achei um filme bem ousado. Bem, acho que a frieza evidente do filme espelha muito o próprio personagem e a situação na qual se encontra. Tanto que o filme vem a ser mais emocionante apenas nos momentos onde certos dilemas entram em ebulição (destaque pro Garfield aqui) e no desfecho, perfeito. E discordo totalmente de Mark ser vilanizado. Acho que a virtude do roteiro é justamente não julgar nenhum dos personagens (talvez com a exceção de Sean Parker). Mark, que vive em seu próprio mundo, não se dá conta do quanto consegue ser cruel e, no fundo, estava pouco se fudendo para dinheiro. Queria apenas aceitação. Acho que há MUITA humanização no filme.

  6. Acho um filme bom, só isso. Mas vai faturar uma penca de prêmios ano que vem (já faturou vários este ano) e deu um empurrãozinho para que o Zuckerberg fosse eleito o homem do ano por uma dessas publicações estadunidenses.

    Abs!

  7. Acredito que o que me seduziu em A Rede Social foi a inquietação desses personagens (principalmente se olharmos para eles na vida real). Um bando de idiotas que inventaram uma página que chamam de vida social e acham que o mundo acabou naquilo ali. Hoje posso dizer que tenho receio do futuro, pois do jeito que andam as relações sociais…

    Para mim o Fincher acertou ao escolher o projeto por causa disso. Ele procurou mostrar ao público que andamos mais sozinhos do que nunca nesse meio internético.

  8. Estou afim de conferir,claro, afinal o filme está com um baita ‘hype’ em cima dele. Estou na esperança que não…me decepciono. Prefiro histórias ‘emocionantes’ do que ‘geniosas’, fato.

    abraços.

  9. FINALMENTE alguém escreve exatamente o que penso sobre este filme. Acho que você foi bem objetivo e conseguiu definir o que este filme é: uma obra fria. Sim, um roteiro meticuloso, mas sem um tom emocional, seus personagens parecem “robôs” proferindo diálogos que, convenhamos, são tão verborrágicos que cansa…

    Parabéns pelo excelente texto!

    No mais, é um filme apenas ‘ok’. Não vejo essa obra-prima como dizem!

    Acho que o elenco intepreta bem, está afiado, mas não é aquele “oooh, que perfeito!”, como dizem!²

    Até mais!

    Te segui no twitter, ok? vê lá!

  10. Somos dois Matheus, eu não achei A Rede Social o útimo biscoito do pacote. Eu realmente me perguntei porque as pessoas gostaram tanto desse filme, acho que é pela montagem que é bem feita, mesmo que não seja algo novo no mercado. Eu também avalio um filme pela forma que o personagens e roteiro me envolvem. Mas como você disse, parece que existe mesmo certa obrigação entre alguns cinéfilos de gostar de um filme pelo cineasta que dirige, às vezes isso nem é perceptível. Acho que A Rede Social não merece todos esses prêmios que vem ganhando. Abraço e um feliz natal!

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