Cinema e Argumento

Jogos Mortais 3

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[De Darren Lynn Bousman. Com Tobin Bell, Shawnee Smith e Bahar Soohmekh]

Toda a genialidade apontada pelo público para Jogos Mortais só existiu realmente no primeiro volume, que conseguiu ser surpreendente e intrigante no seu ótimo suspense. Por mais que o segundo volume seja mais divertido e forte em suas cenas de violência, acabou soando um pouco decadente em seu roteiro. Por causa dessa leve decepção e do anúncio de um terceiro e um quarto volume, não tinha a mínima vontade de ver mais um repeteco inferior aos outros filmes. Vi esse terceiro capítulo gratuitamente e mesmo assim me arrependi, porque vi um produto completamente comercial e sem qualquer tipo de impacto cinematográfico. Ok, não posso negar que gostei das cenas de violência e das grandes bobagens presentes, mas eu não consegui ver mais graça nessa história, que já me parece completamente saturada e sem atrativos. Se existe alguma coisa aproveitável na história é o desempenho de Bahar Soohmekh (que anteriormente havia feito Crash – No Limite), que está esforçada e tenta dar um pouco de verossimilhança para a história. Nem detestei o filme, apenas achei frio e completamente mecânico. Ainda assim deve agradar o povão que gosta desses filmes sanguinolentos. Com certeza passo longe do quarto volume, que nem pretendo assistir.

FILME: 6.0

25

Meu Nome Não é Johnny

Direção: Mauro Lima

Elenco: Selton Mello, Cléo Pires, Júlia Lemmertz, Eva Todor, Cássia Kiss, André Di Biasi.

Brasil, 2008, Drama, 113 minutos, 14 anos.

Sinopse: João Guilherme Estrella (Selton Mello) nasceu em uma família de classe média do Rio de Janeiro. Filho de um diretor do extinto Banco Nacional, ele cresceu no Jardim Botânico e frequentou os melhores colégios, tendo amigos entre as famílias mais influentes da cidade. Carismático e popular, João viveu intensamente os anos 80 e 90. Neste período, conheceu o universo das drogas, mesmo sem jamais pisar numa favela. Logo, tornou0se o maior vendedor de drogas do Rio de Janeiro, sendo preso em 1995. A partir de então, passou a frequentar o cotidiano do sistema carcerário brasileiro.

Até hoje não consigo entender toda a polêmica em volta do superestimado Tropa de Elite (que os fãs me perdoem, mas não vejo nada demais). Meu Nome Não é Johnny trata da mesma temática – o tráfico de drogas. Como eu não sou fã do filme de José Padilha, achei que o longa-metragem de Mauro Lima consegue fazer uma denúncia muito melhor e mais sincera. Mas, deixando de lado todo esse papo de drogas, esse filme (que é o primeiro brasileiro lançado esse ano) tem vários aspectos positivos que o tornam muito mais do que uma mera denúncia social.

O maior mérito, sem dúvida, é o sempre ótimo Selton Mello, que cada vez mais comprova ser um excelente ator – carismático e competente, sempre se encaixando muito bem em seus papéis. O filme é dele, que aproveita muito bem cada momento da produção. Quem faz seu par romântico é a linda Cléo Pires, em sua segunda incursão no cinema (sua primeira vez foi como a musa do péssimo Benjamim) e ela está ótima. As coadjuvantes Cássia Kiss e Júlia Lemmertz também realizam bons trabalhos.

Meu Nome Não é Johnny conta com cenas em Barcelona e Veneza, cenas em que o roteiro fica muito divertido, com um humor totalmente agradável. Falando em roteiro, ele é um pouco óbvio e pouco ousado, parecendo uma versão de Scarface, somente narrando a ascenção de um homem no mundo das drogas, mas foge de qualquer esquema de filmes banais feitos pela Globo Filmes. Um poco longo (fica particularmente desinteressante nos momentos finais), o filme conseguiu me surpreender. Não é nada comercial e consegue ter personalidade própria. Um achado do cinema brasileiro.

FILME: 7.5

3

O Amor Nos Tempos do Cólera

Direção: Mike Newell

Elenco: Javier Bardem, Giovanna Mezzogiorno, Fernanda Montenegro, Catalina Sandino Moreno, Benjamim Bratt, Liev Schreiber, John Leguizamo

Love In The Time Of Cholera, EUA, 2007, Drama, 145 minutos, 14 anos.

Sinopse: Florentino Ariza (Javier Bardem), ainda jovem, se apaixonou perdidamente por Fermina Daza (Giovanna Mezzogiorno). Entretanto, como Florentino apenas trabalha numa agência dos Correios, ele não é visto como um bom partido por Lorenzo Daza (John Leguizamo), pai de Fermina. Florentino pede Firmina em casamento, e ela aceita. Ao saber disso, Lorenzo a envia para a fazenda de sua prima Hildebranda Sanchez (Catalina Sandino Moreno), onde fica alguns anos. Florentino aguarda o retorno de sua amada, mas, quando a reencontra, ela diz que nada quer com ele.

O amor é algo muito complicado nos dias de hoje. Perdeu-se todo aquele encanto dessas histórias que, hoje, para a maioria, são motivos de risadas e decoches. Saí da sessão me perguntando se o público atual ainda tem coração pra assistir histórias como essa de O Amor Nos Tempos do Cólera, sobre uma intensa paixão que atravessa vários anos e nunca se acaba. Alguns entrarão de cabeça, outros nem tanto. Fui um daqueles que não conseguiu se cativar com a história, mas não por causa do tema já batido ou porque não tenho um espírito romântico dentro de mim, mas porque faltou mais emoção e intensidade na história.

Baseado em livro de mesmo nome, de Gabriel García Marquez, O Amor Nos Tempos de Cólera é um filme completamente latino que seria mais verdadeiro e sincero se não fosse dirigido por um diretor completamente… inglês. Indicado ao Globo de Ouro de Melhor Canção Original (a chata Despedida, interpretada por Shakira), o filme sofre do mal de não conseguir transmitir muito sentimento. Pela sinopse, era de se imaginar que seria uma produção melosa, mas o fato é que O Amor Nos Tempos de Cólera só consegue criar uma verdadeira história de amor no início e no final, enquanto durante todo o seu desenvolvimento não trabalha bem a paixão entre os personagens principais que, na maioria do tempo, parece não existir.

A escolha do elenco não é muito acertada – John Leguizamo está terrível e caricato, mas alguns atores tem grande valor para o bom funcionamento de tudo. Javier Bardem (que apesar de parecer um débil mental em certos momentos, está ótimo) e a desconhecida Giovanna Mezzogiorno são os únicos que trazem grandes dimensões para seus personagens. O público brasileiro deve se contentar com a pequena participação de Fernanda Montenegro, que aproveita bem o espaço que lhe foi dado.

Desnecessariamente longo, O Amor Nos Tempos de Cólera é correto em excesso, por mais que seja produzido por mãos competentes. Mas, o fato foi que algo se perdeu na adaptação. Como podemos ver, é um absurdo que a história seja falada em inglês, sendo que sua origem não é essa. Não achei o resultado do filme satisfatório, mas ao menos não é uma produção ruim, muito pelo contrário. Só faltou algo a mais na produção. Talvez paixão pelo livro do escritor. No entanto, deve satisfazer os menos críticos…

FILME: 6.5

3

Desejo e Reparação

Direção: Joe Wright

Elenco: James McAvoy, Keira Knightley, Saoirse Ronan, Romola Garai, Vanessa Redgrave, Brenda Blethyn

Atonement, EUA, 2007, Drama, 135 minutos, 14 anos.

Sinopse: Em 1935, no dia mais quente do ano na Inglaterra, Briony Tallis (Saoirse Ronan) e sua família se reúnem num fim de semana na mansão familiar. O momento político é de tensão, por conta da segunda Guerra Mundial. Em meio ao calor opressivo, emergem antigos ressentimentos familiares. Briony, então, usa sua imaginação de escritora principante para acusar Robbie Turner, o filho do caseiro e amante de sua irmã mais velha, Cecilia (Keira Knightley), de um crime que não cometeu. A acusação destruiu o amor da irmã e alterou de forma dramática várias vidas.

Surpreendente. Foi essa a palavra que veio a minha cabeça logo que os créditos finais de Desejo e Reparação surgiram na tela. Não por causa do lindo final, mas porque fazia um bom tempo que eu não assistia um filme tão harmônico: contundente em sua parte técnica, preciso nas interpretações e brilhante em seu roteiro. É incrível como esse segundo filme do diretor Joe Wright tem muita cara de Oscar. Foi feito para vencer o prêmio da Academia, mas conseguiu esse feito de forma honesta, sem qualquer pretensão para premiações. O grande feito de Desejo e Reparação é conseguir trazer verossimilhança em todos os seus poros. Especialmente em seu elenco, que merece ser citado separadamente.

James McAvoy, o verdadeiro protagonista da história, já havia mostrado ser um ator muito competente com sua subestimada interpretação no ótimo O Último Rei da Escócia e aqui prova ser um ator de futuro em Hollywood. Keira Knightley (que sempre achei péssima e que nem sequer merecia ter concorrido ao Oscar em 2006 consegue aqui a melhor atuação de sua carreira, ainda que ofuscada pela personagem Briony. A Cecilia de Keira não é tão explorada como os demais personagens, mas ela faz um trabalho muito competente com o espaço que lhe é dado. Por mais que o casal seja ótimo, quem rouba completamente a cena é  personagem Briony, interpretada em três fases por Saoirse Ronan (impressionante), Romula Garai (escolha mais do que acertada) e Vanessa Redgrave (simplesmente impecável e emocionante).

A parte técnica, sem dúvida, também é impressionante. É incrível como a direção de arte de Desejo e Reparação conseguiu traduzir toda uma época da forma mais perfeita possível. Outro aspecto que também acaba impressionando é a trilha sonora do Dario Marianelli: inovadora, poderosa e utilizada na medida exata e uma das melhores dos últimos anos. A fotografia e os figurinos são igualmente bons. Também gostei bastante de ver o diretor Joe Wright muito amadurecido na direção, conduzindo tudo com muita habilidade.

O roteiro raramente erra, ficando apenas um pouco monótono quando se foca na guerra. Gostei particularmente dos momentos finais, onde  Vanessa Redgrave interpretou um dos momentos mais emocionantes dos últimos tempos, conseguindo emocionar e passar vários sentimentos para o espectador. Eu não esperava muita coisa de Desejo e Reparação, mas adorei ficar completamente surpreendido por esse lindo filme. Uma saga de amor, que durante vários momentos lembra diversos filmes, mas que tem uma identidade singular e que desde já acaba de se torna um longa imperdível.

FILME: 9.0

45

Conduta de Risco

Direção: Tony Gilroy

Elenco: George Clooney, Tom Wilkinson, Tilda Swinton, Sidney Pollack

Michael Clayton, EUA, 2007, Drama, 110 minutos, 12 anos.

Sinopse: Michael Clayton (George Clooney) trabalha em uma das maiores firmas de advocacia de Nova York, tendo como função limpar os nomes e os erros de seus clientes. Ele é o responsável por realizar o serviço sujo da firma Kenner, Bach & Ledeen, que tem Marty Bach (Sydney Pollack) como um de seus fundadores. Apesar de estar cansado e infeliz com o trabalho, Clayton não tem como deixar o emprego, já que o vício no jogo, seu divórcio e o fracasso em em negócio arriscado o deixaram repleto de dívidas. Quando Arthur Evans (Tom Wilkinson), o principal advogado da empresa, sofre um colapso e tenta sabotar todos os casos da U/North, uma empresa que é cliente da Kenner, Back & Ledeen, Clayton é enviado para solucionar o problema.

O roteirista Tony Gilroy ficou conhecido por seu trabalho no incrível O Ultimato Bourne e no péssimo O Advogado do Diabo. Agora, ele se lança na carreira diretor com esse Conduta de Risco, drama que já é forte concorrente para obter indicações ao Oscar, além de trazer a melhor interpretação da carreira de George Clooney. O estilo de contar a história do filme não é um dos mais atraentes (a típica investigação baseada em diálogos detalhados, contínuos e incessantes, onde cada momento é essencial para o entendimento completo da trama), mas sou obrigado a reconhecer o ótimo trabalho do elenco e alguns outros aspectos positivos que me fizeram sair satisfeito da sessão de Conduta de Risco.

Com uma fotografia escura e nebulosa (que contribue de forma excelente para o suspense da trama), Conduta de Risco prima por um ótimo elenco. A começar pelo protagonista George Clooney, cujo Oscar de coadjuvante por Syriana – A Indústria do Petróleo nem foi tão merecido, mas que está mais convicente do que nunca no melhor desempenho de sua vida. Os coadjuvante são igualmente ótimos: Tom Wilkinson brilha em todas suas cenas, ainda que seu papel seja um pouco estranho e limitado. Tilda Swinton tem sua competência habitual, principalmente na cena final com Clooney.  Ainda tem a presença do diretor Sidney Pollack (do injustiçado A Intérprete), nada mais que satisfatório.

Quem for assistir Conduta de Risco deve ter em mente que não é um filme nada fácil: exige completa dedicação e atenção do cinéfilo que, se piscar o olho, já perde vários detalhes da história. O roteiro é conduzido de forma interessante, mesmo que os rumos, às vezes, sejam tomados rápidos demais. Não é uma narrativa que particularmente me agrada e é bem restrito para um público mais amplo (várias pessoas abandonaram o filme, na minha sessão, antes mesmo dele chegar na metade). A trilha sonora de James Newton Howard podia ser mais bem utilizada, pois tem pouca presença. No final das contas, gostei do resultado de Conduta de Risco. Só não gosto tanto como a maioria porque não é um gênero que aprecio.

FILME: 8.0


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