TIFF 2024, #1: “Oh, Canada”, de Paul Schrader

Exibido no Festival de Cannes e, agora, no Festival Internacional de Cinema de Toronto, Oh, Canada traz o diretor Paul Schrader (Gigolô Americano, Mishima, Fé Corrompida) em um tom mais melancólico e memorialista. Com base no livro “Foregone”, de Russell Banks, ele conta a ,história de um famoso e fictício cineasta que, à beira da morte, participa de um documentário sobre a sua vida antes da fama. São, como o próprio personagem diz, confissões que nem mesmo a esposa, vivida por Uma Thurman, havia ouvido durante seus longos anos de casamento. Ao mesmo tempo, devido à doença, ela questiona se os depoimentos do marido não se confundem entre as fronteiras de realidade e ficção, de certa forma embaralhando os relatos repletos de idas e vindas no tempo.

A ideia de Oh, Canada radiografar o seu protagonista a partir de quem ele era antes da fama é acertada — e até mesmo fora da curva, já que Schrader, também autor do roteiro, não busca fazer o retrato edificante de um homem que prosperou na vida, venceu obstáculos ou algo parecido. O interesse reside nos equívocos de alguém que, durante a juventude, tomou diversas rotas problemáticas, seja abandonando a esposa e um filho para nunca mais vê-los por décadas, até o malabarismo sem responsabilidade afetiva alguma entre as mulheres que cruzaram pelo seu caminho. A obra de Leo Fife (Richard Gere) é vista à parte de quem ele foi e é quando as câmeras estão desligadas, fronteiras que Oh, Canada desenha claramente desde o princípio.

O longa, contudo, não decola em questões primordiais. É irônico que Schrader ganhe pontos ao não tentar amaciar o protagonista por espectador, mas falhe em conseguir despertar algum interesse por ele. Parte desse problema está em como Oh, Canada se alterna entre o passado e o presente, criando, através dessa abordagem, expectativas em torno da vida do personagem que nunca são cumpridas. É como se estivéssemos todo o tempo à espera de uma revelação ou de um acontecimento que justifique as tantas cerimônias em torno da gravação do documentário sobre o protagonista. Leo Fife, em suma, não tem episódios tão interessantes assim para relatar, e isso prejudica a atmosfera que o longa inegavelmente tenta construir.

A montagem de Benjamin Rodriguez Jr. também bagunça um pouco as coisas, pois, para além da ausência de clímax, Oh, Canada não é um filme que flui bem, por vezes tornando-se até um pouco confuso entre os personagens que coloca e tira de cena ou nas próprias intervenções que nos trazem ao presentem e servem para dar mais peso dramático aos acontecimentos narrados. Se continuo achando Jacob Elordi um ator limitado (ele interpreta Leo Fife no passado) e fico frustrado por Uma Thurman ter em mãos uma personagem sem muitas dimensões, ao menos créditos devem ser dados a Richard Gere, despido de vaidades e visivelmente comprometido com um tipo de papel que não costuma lhe ser confiado com muita frequência. Sua presença, bem como o ótimo uso de canções ao longo da história, é o que vislumbra a melancolia que Oh, Canada não alcança como um todo.


OH, CANADA REVIEW

Premiered at the Cannes Film Festival and now at the Toronto International Film Festival, Oh Canada brings director Paul Schrader (American Gigolo, Mishima, First Reformed) in a more melancholic and reflective tone. Based on Russell Banks’ book Foregone, it tells the story of a famous fictional filmmaker who, on the verge of death, participates in a documentary about his life before fame. These are, as the character himself says, confessions that not even his wife, played by Uma Thurman, had heard during their long years of marriage. At the same time, due to his illness, she questions whether her husband’s testimonies blur the line between reality and fiction, in a way muddling the narrative field with flashbacks. 

The idea of Oh Canada dissecting its protagonist based on who he was before fame is spot-on – and even unconventional, since Schrader, who also wrote the script, does not aim to create an uplifting portrait of a man who succeeded in life, overcame obstacles, or anything like that. The focus lies on the missteps of someone who, during his youth, took several problematic paths, from abandoning his wife and child, whom he never saw again for decades, to emotionally irresponsible juggling of relationships with the women who crossed his path. The work of Leo Fife (Richard Gere) is seen separately from who he was and is when the cameras are off – boundaries that Oh Canada clearly establishes from the start.

The film, however, falters in key areas. It’s ironic that Schrader earns points by not trying to soften the protagonist for the audience but fails to generate any real interest in him. Part of this issue lies in how Oh Canada alternates between past and present, creating, through this approach, expectations about the character’s life that are never fulfilled. It’s as if we’re constantly waiting for a revelation or an event to justify all the pomp surrounding the documentary about the protagonist. In short, Leo Fife doesn’t have such interesting stories to tell, and that weakens the atmosphere the film undeniably tries to build.

Benjamin Rodriguez Jr.’s editing also muddles things a bit. Beyond the absence of a climax, Oh Canada isn’t a film that flows well, at times becoming a bit confusing with the characters it introduces and removes from scenes, or interventions that bring us back to the present, meant to add dramatic weight to the narrated events. While I still find Jacob Elordi a limited actor (he plays Leo Fife in his younger years) and feel frustrated that Uma Thurman plays a character without many dimensions, at least credit must be given to Richard Gere. Stripped of vanity and visibly committed to a type of role not often entrusted to him, his performance, along with the excellent use of songs throughout the story, is what captures the melancholy that Oh Canada as a whole fails to fully achieve.

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