51º Festival de Cinema de Gramado #8: vitória de “Mussum, o Filmis” estreita relação com o público ou destoa do esperado de um festival de cinema?

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Dupla incontestável: Vera Holtz foi a melhor atriz por Tia Virgínia, e Aílton Graça o melhor ator por Mussum, o Filmis.

Festivais de cinema são, de certa forma, uma realidade paralela porque, neles, os filmes não falam por si só. Para que um ou outra longa se consagre vencedor, há uma equação repleta de variáveis, da reação da plateia ao dia da semana em que a projeção acontece. Mussum, o Filmis, de Silvio Guindane, deu a sorte de se sair bem em todas elas. Digo isso porque, isoladamente, não há muita razão para o longa sobre a vida do humorista-título ter levado o tanto de Kikitos que levou no 51º Festival de Cinema de Gramado, incluindo o de melhor filme. Última sessão da mostra competitiva de longas brasileiros e abertamente adorado pelo o público, Mussum certamente pegou o júri oficial desprevenido, que, sim, pode mesmo ter se entusiasmado com o filme, mas que também deve ter sentido certo receio em ignorar a reação calorosa da plateia. Entre uma digressão ou outra sobre o que levou à vitória de Mussum, expresso minha resistência à consagração porque, perto de concorrentes como Tia VirgíniaMais Pesado é o CéuO Barulho da Noite, o filme perde em inventividade, vigor e fuga ao lugar comum.

Não me entendam mal quando digo que também resisto à consagração de Mussum simplesmente por ele ter grande apelo popular. Não é isso. Inclusive porque fui um dos que não crucificou a vitória de Colegas em cima de O Som ao Redor na 40ª edição do evento. Vejo festivais de cinema como eventos de descoberta e experimentação, e não à toa eles são a primeira e, muitas vezes, única tela de determinadas produções. Colegas foi uma descoberta de Gramado. Mussum, o Filmis não exatamente. Diante do imenso apelo que as cinebiografias têm alcançado junto ao público e da figura carismática retratada, seu diálogo com a plateia jamais viria como uma surpresa. Pelo contrário: era mais do que previsível. Na medida em que o longa segue inúmeras cartilhas do gênero, é certo premiá-lo somente por uma popularidade que independe de Gramado?

Ao meu ver, o júri realmente pesou a mão ao dar tantos prêmios para o filme, especialmente quando há até uma menção honrosa para ele enquanto o interessante O Barulho da Noite, único longa dirigido por uma mulher em competição, sai de mãos abanando. O próprio Uma Família Feliz poderia ter sido minimamente reconhecido por bancar a realização de um thriller, gênero pouquíssimo explorado pelo cinema brasileiro. E há também certos cacoetes refletidos nas escolhas, como o de considerar a melhor trilha sonora aquela que apenas traz o melhor compilado de repertórios já existentes e marcados no nosso imaginário cultural. É uma injustiça com trabalhos densos e originais como o de João Victor Barroso para Mais Pesado é o Céu.

Ainda assim, há coisas muito boas na lista de vencedores, começando pelo amplo reconhecimento ao ótimo Tia Virgínia, de Fábio Meira, que rendeu um incontestável Kikito de melhor atriz para Vera Holtz. A atenção dada ao difícil Mais Pesado é o Céu também é outro destaque (somente o diretor Petrus Cariry saiu com três consagrações: melhor direção, fotografia e montagem), assim como determinados prêmios que o próprio Mussum mereceu, sim, levar para casa, como o de melhor ator para a inspirada interpretação de Aílton Graça. Para a próxima edição do evento serrano, fica a pergunta: teria o filme de Silvio Guindane estreitado a relação entre o festival e o grande público ou ele é um estranho no ninho de Gramado?

Confira abaixo a lista de vencedores:

LONGAS-METRAGENS BRASILEIROS
MELHOR FILME: Mussum, o Filmis
MELHOR FILME (JÚRI DA CRÍTICA): Tia Virgínia
MELHOR FILME (JÚRI POPULAR): Mussum, o Filmis
MELHOR DIREÇÃO: Petrus Cariry (Mais Pesado é o Céu)
MELHOR ATRIZ: Vera Holtz (Tia Virgínia)
MELHOR ATOR: Aílton Graça (Mussum, o Filmis)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Neusa Borges (Mussum, o Filmis)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Yuri Marçal (Mussum, o Filmis)
MELHOR ROTEIRO: Fábio Meira (Tia Virgínia)
MELHOR FOTOGRAFIA: Petrus Cariry (Mais Pesado é o Céu)
MELHOR MONTAGEM: Firmino Holanda e Petrus Cariry (Mais Pesado é o Céu)
MELHOR TRILHA MUSICAL: Max de Castro (Mussum, o Filmis)
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Ana Mara Abreu (Tia Virgínia)
MELHOR DESENHO DE SOM: Rubem Valdés (Tia Virgínia)
PRÊMIO ESPECIAL DO JÚRI: Ana Luiza Rios (Mais Pesado é o Céu)
MENÇÃO HONROSA: Vera Valdez (Tia Virgínia) e Martin Macias Trujillo (Mussum, o Filmis)

LONGAS-METRAGENS GAÚCHOS
MELHOR FILME: Hamlet
MELHOR FILME (JÚRI POPULAR): Sobreviventes do Pampa
MELHOR DIREÇÃO: Zeca Brito (Hamlet)
MELHOR ATRIZ: Carol Martins (O Acidente)
MELHOR ATOR: Fredericco Restori (Hamlet)
MELHOR ROTEIRO: Marcelo Ilha Bordin e Bruno Carboni (O Acidente)
MELHOR FOTOGRAFIA: Bruno Polidoro, Joba Migliorin, Lívia Pasqual e Zeca Brito (Hamlet)
MELHOR DIREÇÃO DE ARTE: Richard Tavares (O Acidente)
MELHOR MONTAGEM: Jardel Machado Hermes (Hamlet)
MELHOR DESENHO DE SOM: Kiko Ferraz, Ricardo Costa e Cristian Vaz (Céu Aberto)
MELHOR TRILHA MUSICAL: Rita Zart e Bruno Mad (Céu Aberto)

MELHOR LONGA-METRAGEM DOCUMENTAL
Anhangabaú

MELHOR FILME UNIVERSITÁRIO
Cabocolino

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