Melhores de 2018 – Direção

Dois dos filmes mais destemidos e anti-convencionais que assisti em 2018 foram dirigidos por mulheres. E elas têm muito em comum: tanto a brasileira Gabriela Amaral Almeida quanto a britânica Lynne Ramsay costumam tocar em inquietudes humanas e traduzi-las para as telas com uma linguagem que caminha na direção oposta do que o grande público está acostumado a ver. Enquanto Gabriela revigorou o chamado cinema de “gênero” brasileiro com o terror O Animal Cordial, Lynne Ramsay lançou um olhar cru e provocador para a violência através da sombria e solitária trajetória de um matador de aluguel em Você Nunca Esteve Realmente Aqui. Não à toa, a penúltima categoria da lista de melhores de 2018 do blog acaba com um empate entre essas duas realizadoras excepcionais e responsáveis por filmes que merecem ser referenciados e analisados por muito tempo.

Sobre Gabriela Amaral Almeida, que já contabiliza oito títulos como diretora e 26 como roteirista, é fundamental salientar sua vocação para criar personagens cujas contradições humanas ela própria diz não saber resolver. E, em O Animal Cordial, Gabriela firma os pés nessa zona de desconforto, transpondo para o terror tudo aquilo que, atualmente, contribui para o verdadeiro pânico social e político instalado em um Brasil despedaçado. Entre o preconceito em suas mais variadas formas e todas as tortas consequências originadas pela falência moral e social do sexo masculino, ela filma um elenco excepcional em um único ambiente (um restaurante na cidade de São Paulo), reproduzindo —  e também questionando —  muitos elementos do chamado terror slasher. O resultado é um longa imprevisível do início ao fim, comandando pela cineasta com uma vitalidade invejável.

Tão incômodo quanto fascinante é o trabalho de direção de Lynne Ramsay em Você Nunca Esteve Realmente Aqui. Ramsay, que não filmava desde 2011, quando realizou o assombroso Precisamos Falar Sobre o Kevin, dispensa qualquer expectativa neste novo trabalho onde dirige Joaquin Phoenix como um atormentado matador de aluguel. Primeiro porque Você Nunca Esteve Realmente Aqui não se encaixa em qualquer pré-conceito que o espectador possa ter sobre um filme centrado em um matador de aluguel e segundo porque Ramsay levanta infinitas perguntas, mas praticamente nenhuma resposta sobre o misterioso protagonista. A partir disso isso, a cineasta radiografa a natureza e as reverberações da violência com muita crueza, mas também com um plano muito bem elaborado para cada gota de sangue, trauma ou ato violento encenado em cena.

Ainda disputavam a categoria: Alfonso Cuarón (Roma), Juliana Rojas e Marco Dutra (As Boas Maneiras) e Paul Thomas Anderson (Trama Fantasma).

EM ANOS ANTERIORES: 2017 – Darren Aronofsky (Mãe!| 2016 – José Pedro Goulart (Ponto Zero| 2015 – George Miller (Mad Max: Estrada da Fúria| 2014 – David Fincher (Garota Exemplar| 2013 – Alfonso Cuarón (Gravidade| 2012 – Leos Carax (Holy Motors| 2011 – Darren Aronofsky (Cisne Negro| 2010 – Christopher Nolan (A Origem| 2009 – Danny Boyle (Quem Quer Ser Um Milionário?| 2008 – Paul Thomas Anderson (Sangue Negro| 2007 – Alejandro González Iñárritu (Babel)

Um comentário em “Melhores de 2018 – Direção

  1. Pingback: Melhores de 2019 – Direção | Cinema e Argumento

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

%d blogueiros gostam disto: