Rapidamente: “Doentes de Amor”, “Star Wars: Os Últimos Jedi”, “Viva: A Vida é Uma Festa” e “Victoria e Abdul”

Unindo criatividade e emoção, Viva: A Vida é Uma Festa leva a cultura mexicana para o mundo com uma história que celebra a memória de quem ainda está aqui e de quem já se foi.

DOENTES DE AMOR (The Bick Sick, 2017, de Michael Showalter): Como explicar o encanto repentino das premiações com Doentes de Amor? A reação entusiasmada é surpreendente não porque estamos falando de uma comédia, gênero historicamente menosprezado frente aos dramas, mas porque é difícil encontrar qualidades que classifiquem o filme de Michael Showalter como uma produção para ser lembrada na futuramente. Entre os detratores, existe a piada de que Doentes de Amor nada mais é do que um episódio estendido e sem graça do seriado Master of None. Como não vejo o programa escrito e estrelado por Aziz Ansari, fico apenas na afirmação de que o longa é, no máximo dos máximos, apenas uma história simpática e que desenvolve o já conhecido arco de um personagem que anseia por se libertar das amarras de toda uma cultura familiar que lhe é imposta. Há de se reconhecer que o filme dá uma guinada interessante e corajosa para criar o contexto que, aos poucos, passa a acarretar reflexões sobre redenção, culpa e a reconstrução do amor. Contudo, a partir de determinado momento, o enredo não sai mais do lugar, mesmo com a entrada de outros personagens, entre eles a sogra impaciente de Holly Hunter, que, sabemos, não levará muito tempo para amolecer. No geral, Doentes de Amor tenta provar sua inteligência ao fazer graça com o humor sem graça, mas não consegue ultrapassar as fronteiras da mera simpatia.

STAR WARS: OS ÚLTIMOS JEDI (Star Wars: Episode VIII – The Last Jedi, 2017, de Rian Johnson): A troca na cadeira de direção deixou o público em polvorosa: com a saída de J.J. Abrams e a entrada de Rian Johnson, Star Wars: Os Últimos Jedi dividiu opiniões em tudo que é canto, mas o novo capítulo da mais clássica saga intergalática do cinema perde certo fôlego porque nada mais é do que o capítulo intermediário de uma trilogia. São raríssimas as obras produzidas nesse contexto que conseguem ser muito mais do que uma mera ponte entre o primeiro e o último capítulo de uma narrativa. Por isso, é injusto dizer que Rian Johnson, também autor do roteiro, decepciona atrás das câmeras por ter descaracterizado Star Wars ou coisa do gênero. Johnson tinha o tremendo desafio de pisar pela primeira vez em Star Wars com um filme de transição, e a sua opção foi frear a ação e lançar um olhar mais apurado aos personagens e às mitologias do universo, escolha esperta do ponto de vista artístico, mas que deve servir muito mais ao público com vasto conhecimento da saga. Como entretenimento do tipo que traz diversão e adrenalina, Os Últimos Jedi ameniza aventura e pode muito bem deixar a velha impressão de que levou tempo demais (152 minutos, especificamente) para não avançar muito em uma história que, claro, promoverá suas principais conclusões apenas no capítulo final, marcado para estrear apenas em dezembro de 2019. 

VIVA: A VIDA É UMA FESTA (Coco, 2017, de Lee Unkrich e Adrian Molina): Pensem o milagre que é um filme como Viva: A Vida é Uma Festa ter saído do papel. Milagre porque essa é uma animação produzida em solo estadunidense que fala sobre morte, fantasmas e caveiras não a partir do Halloween, uma tradição fortemente enraizada e celebrada no país, mas sim do universo mexicano, onde é celebrado o emblemático dia de los muertos. Apropriamento cultural para encher o bolso? Nada disso. Primeiro porque Viva: A Vida é Uma Festa tem um frescor tremendo por justamente falar de temas comuns a todos nós — a saudade deixada por quem já se foi, os contrastes entre diferentes gerações familiares, as heranças culturais e emocionais que precisam ser preservadas ou transformadas — sob a perspectiva de um universo latino, capturando com graça e precisão aspectos emblemáticos desse povo, a exemplo da indiscutível força das mulheres e o respeito cultivado por elas localmente. Segundo porque o México caiu de amores pela animação, conferindo-lhe o título de filme mais lucrativo da história do país. Mais do que o encanto pela reprodução do folclore mexicano, a paixão é justificada, pois Viva é criativo, repleto de mensagens emocionantes e, especialmente ao final, uma experiência de arrasar o coração. É a salvação que estávamos precisando para a fraca safra de animações estadunidenses dos últimos meses.

VICTORIA E ABDUL: O CONFIDENTE DA RAINHA (Victoria & Abdul, 2017, de Stephen Frears): Raro caso de diretor que se dedica a contar histórias sobre mulheres de idade avançada, Stephen Frears, em sua carreira recente, realmente abraçou por completo esse conceito: somente nos últimos dez anos, dirigiu Helen Mirren em A Rainha, Judi Dench em Philomena, Meryl Streep em Florence: Quem é Essa Mulher? e, em 2017, voltou a trabalhar com Dench em Victoria e Abdul: O Confidente da Rainha, talvez o exemplar menos instigante entre os citados.Ainda que entregue menos do que o esperado sobre a tenacidade de uma amizade (a forma como o filme desenvolve a conexão entre os dois protagonistas é rasteira), o longa, do ponto de vista temático, compensa essa falha ao encenar como o apreço pelos desfavorecidos, pelo diferente e pelo transgressor podem ser temperos perigosos para as relações políticas (em certo ponto, questionam até a sanidade mental da rainha simplesmente por ela ser amiga de um indiano!), intolerância que hoje é muito significativa para o cenário político que vivemos no Brasil. O contraste também se reflete no elenco: enquanto Ali Fazal é limitado como Abdul, Dench, claro, faz tudo parecer fácil como a adorável rabugenta Victoria. Não é nem de longe o projeto mais carismático, original ou cativante dos envolvidos, mas deve ser o suficiente para quem busca o simples e tradicional jeito britânico de fazer biografias de época.

5 comentários em “Rapidamente: “Doentes de Amor”, “Star Wars: Os Últimos Jedi”, “Viva: A Vida é Uma Festa” e “Victoria e Abdul”

  1. Excelente filme, desfrutei muito. É uma história muito diferente e original, o filme superou as minhas expectativas, o ritmo da historia nos captura a todo o momento. O ator, Kumail Nanjiani é excelente! Sua comédia é natural e ele é autêntico. Seu trabalho de dublagem também é ótimo, em Lego Ninjago é sensacional! É um dos filmes mais divertidos que já vi, e um dos melhores filmes de comédia infantil , gostei muito como se desenvolve a história, o roteiro é muito divertido para pequenos e grandes, em todo momento nos fazem rir. É um filme que sem importar o estado de animo em que você se encontre, irá lhe ajudar a relaxar um pouco.

  2. Me comoveu bastante o desabafo da Rainha Vitória a Abdul, falando das pessoas que amava e tinham partido, especialmente o Príncipe Albert, e de seu atual sentimento de solidão. E ela finaliza perguntando qual o sentido de continuar vivendo. Amei a resposta de Abdul: “- Servir.” Fiquei com uma bela lembrança do filme de SF.

  3. Dos filmes que você comenta, assisti a “Viva – A Vida é uma Festa”, uma animação muito bonita, com essa característica cultural bem forte (como você bem mesmo fala), mas que tem uma mensagem muito bonita. Desde “Up – Altas Aventuras” que eu não me comovia tanto com um filme do gênero. Além desse, assisti também a “Victoria e Abdul – O Confidente da Rainha”, que, na minha opinião, se destaca mais pela boa química e pela atuação de Judi Dench e de Ali Fazal.

    • Kamila, acho que “Viva” faz parte das animações que a Disney/Pixar costuma fazer com mais criatividade e afeto de tempos em tempos… Antes de “Viva”, a última que comoveu foi “Divertida Mente”.

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