
Lázaro Ramos é visceral em Madame Satã, filme de Karim Aïnouz que contempla a vida de uma marcante figura da vida boêmia carioca dos anos 1920.
EM RITMO DE FUGA (Baby Driver, 2017, de Edgar Wright): Menos maneirista e artificial do que em Scott Pilgrim Contra o Mundo, o diretor Edgar Wright alcançou o momento mais célebre da sua carreira até aqui com Em Ritmo de Fuga, aventura que rendeu ao jovem Ansel Egort uma indicação ao Globo de Ouro de melhor ator no segmento comédia/musical. Menciono Scott Pilgrim porque foi o único trabalho de Wright que conferi antes de Em Ritmo de Fuga – e, vocês precisam me perdoar, mas a lembrança não era das melhores. Continuo com a impressão de que o diretor embala demais o seu trabalho para alcançar o status de pop, cult e descolado, o que me distancia da história em si, mas Em Ritmo de Fuga é um bom entretenimento por ter um protagonista devidamente carismático e humano, um bom elenco de suporte, uma trilha bacana e sequências de ação ao mesmo tempo dinâmicas e bem coreografadas. A trajetória pessoal do protagonista ainda dá um toque especial para uma história que, na essência de seus crimes e assaltos, não chega a ser esse espetáculo todo que celebraram desde a estreia. Um dos últimos filmes em que tivemos a oportunidade de ver Kevin Spacey com naturalidade antes da sua irreversível derrocada em Hollywood, Em Ritmo de Fuga tem qualidade técnica e vontade de divertir a qualquer custo. E, considerando mais uma vez a minha relação particular com o cinema de Wright, é justamente a consciência dessa vontade que acaba me distanciando de um mergulho completo na diversão.
GATOS (Kedi, 2016, de Ceyda Torun): Como um grande apaixonado por felinos, fiquei com um sorriso aberto de ponta a ponta ao longo de toda a projeção de Gatos, documentário ambientado em Istambul, na Turquia, onde milhares dos bichanos-título circulam livremente pelas ruas. O maior mérito do filme dirigido pela estreante em longas Ceyda Torun é escapar da armadilha de fazer um registro apenas fofinho sobre os animais para de fato conferir personalidade a cada um deles, como se fossem personagens tão interessantes quanto qualquer um de nós. Percebam também a delicadeza do filme ao destacar a relação dos gatos com os seres humanos, inclusive em casos tocantes, alguns deles cercados de superstição, em que homens e mulheres relatam experiências que trazem à tona todo o afeto e o cuidado que detratores dos felinos insistem em dizer que eles não têm. Tratando-se de solidez cinematográfica, Gatos, em contrapartida, acaba se diluindo. Mesmo compactado em menos de 80 minutos, o documentário, lá pela metade, já começa a andar em círculos por não interseccionar histórias e personagens, aqui apresentados de forma independente, como em capítulos. Quando chegamos ao terceiro ou quarto animal, o longa segue mantendo a curiosidade muito mais pelo charme dos gatinhos e pela habilidade da diretora em acompanhá-los em situações curiosíssimas do que por sua habilidade em explorar novas possibilidades de narração.
MADAME SATÃ (idem, 2002, de Karim Aïnouz): Um dos trabalhos mais marcantes do diretor Karim Aïnouz, Madame Satã aborda, com notável segurança, a personalidade avassaladora de João Francisco dos Santos, que, sob o codinome que dá título ao filme, foi uma personagem marcante da noite carioca em meados dos anos 20. Pobre, analfabeto, negro, homossexual e travesti, Madame Satã tinha um temperamento dos mais fortes, o que o levou para a prisão inúmeras vezes, muitas delas por furtos, agressões e desacato à autoridade. Sobre seus encarceramentos, dizia que boa parte das brigas com os policiais era ocasionada por sua intolerância ao tratamento que eles davam às pessoas, principalmente quando elas eram negras e coincidentemente consideradas suspeitas. Dadas as linhas gerais desse personagem, é preciso aplaudir o trabalho de Karim Aïnouz ao abarcar o furacão Madame Satã sem jamais fazer com que o filme degringole em qualquer tipo de tom, seja da própria história ou da interpretação visceral de Lázaro Ramos, que está no desempenho mais desafiador e brilhante de sua carreira. Premiado em Havana, na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, Madame Satã é um filme de época que, na escolha da simplicidade, captura a parte boêmia e marginalizada de um Rio de Janeiro de quase 100 anos atrás sem qualquer artificialidade. Para completar, uma força extra-fílmica: sob a luz dos dias de hoje, onde negros, gays e travestis não deixaram de seguir à margem da sociedade, Madame Satã permanece como um elegante grito de reivindicação.
NOSSAS NOITES (Our Souls at Night, 2017, de Ritesh Batra): Não vou esconder que tenho um tremendo fraco por filmes que reúnem atores veteranos, especialmente em propostas como a de Nossas Noites, que toca em questões tão camufladas na arte, como as mazelas cotidianas do envelhecimento e as pequenas alegrias que podem redimensionar essa fase da vida. Normalmente, na mesma proporção da imediata simpatia que projetos como esse me despertam, vem a decepção, pois nem sempre tais histórias são contadas com a devida dose de complexidade, carisma ou criatividade. E Nossas Noites, adaptação do romance homônimo escrito por Kent Haruf, é mais um exemplar que fica no meio do caminho. Jane Fonda e Robert Redord são ótimos, claro, especialmente juntos, mostrando que, muitas vezes, só mesmo a experiência pode trazer químicas instantâneas e naturais como a deles, mas o grande problema de Nossas Noites não é nem entregar o filme inteiro a eles para se esquecer de contar uma história, e sim tentar separá-los durante boa parte da trama. Quando se atenta demais a personagens secundários (o neto que chega para passar uma temporada na cidade, o filho problemático que passa por uma tumultuada separação, os vizinhos que morrem ou confabulam sobre a relação dos protagonistas), Nossas Noites cai em lugares-comuns, esquecendo-se que a preciosidade da experiência é acompanhar apenas aqueles duas pessoas em universo tão próprio e particular.
Adorei as criticas do filme, obrigada por compartilhar. Acho que é um dos melhores filmes que fizeram. Ansel Elgort esta impecável no Em ritmo de fuga. O ator tem tantos bons filmes, mas esse ressalta sobre os demais. Ele sempre surpreende com os seus papeis, pois se mete de cabeça nas suas atuações e contagia profundamente a todos com as suas emoções. Adoro porque sua atuação não é forçada em absoluto. Seguramente o êxito de Baby driver filme deve-se a auas expressões faciais, movimentos, a maneira como chora, ri, ama, tudo parece puramente genuíno. Este ator nos deixa outro projeto de qualidade, de todas as suas filmografias essa é a que eu mais gostei, acho que deve ser a grande variedade de talentos. Lo recomendo muito.