Esquadrão Suicida

You know what they say about the crazy ones…

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Direção: David Ayer

Roteiro: David Ayer

Elenco: Viola Davis, Will Smith, Margot Robbie,  Jared Leto, Joel Kinnaman,  Cara Delevingne, Ike Barinholtz, Scott Eastwood, David Harbour, Jai Courtney,  Robin Atkin Downes, Jim Parrack

Suicide Squad, EUA, 2016, Aventura, 123 minutos

Sinopse: Após a aparição do Superman, a agente Amanda Waller (Viola Davis) está convencida que o governo americano precisa ter sua própria equipe de metahumanos, para combater possíveis ameaças. Para tanto ela cria o projeto do Esquadrão Suicida, onde perigosos vilões encarcerados são obrigados a executar missões a mando do governo. Caso sejam bem-sucedidos, eles têm suas penas abreviadas em 10 anos. Caso contrário, simplesmente morrem. O grupo é autorizado pelo governo após o súbito ataque de Magia (Cara Delevingne), uma das “convocadas” por Amanda, que se volta contra ela. Desta forma, Pistoleiro (Will Smith), Arlequina (Margot Robbie), Capitão Bumerangue (Jai Courtney), Crocodilo (Adewale Akinnuoye-Agbaje), El Diablo (Jay Hernandez) e Amarra (Adam Beach) são convocados para a missão. Paralelamente, o Coringa (Jared Leto) aproveita a oportunidade para tentar resgatar o amor de sua vida: Arlequina. (Adoro Cinema)

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Uma confissão importante: tenho problemas em organizar ideias quando escrevo sobre filmes que me despertam emoções extremas, para o bem ou para o mal. É um desafio deixar o lado passional de lado e sistematizar racionalmente o que deu certo ou errado em determinada obra para justificar minha opinião. Digo isso porque encontrei novamente essa árdua tarefa ao conferir Esquadrão Suicida, que vem faturando altas cifras mesmo com uma catastrófica recepção da crítica.  As análises depreciativas estão cobertas de razão, pois é realmente um choque ver um filme de “super-herois” tão mal realizado quanto esse. Para quem gosta de definições simplistas, basta dizer que Esquadrão Suicida está na mesma gaveta de desastres que há muito já pareciam impossíveis, como Demolidor e até mesmo Mulher-Gato.

Uma breve pesquisa na internet é o suficiente para que inclusive os leigos percebam o quanto Esquadrão Suicida foi mutilado pelo tempo. Reza a lenda que o projeto começou com uma ideia muito mais dark antes de se tornar uma meleca colorida que lembra apenas os programas infantis da Nickelodeon. Imaginem que interessante um filme sobre anti-herois com suas contradições e reflexões! A tese funciona (Detona Ralph fez um lindo trabalho ao concentrar toda sua história em um rejeitado “vilão”), mas Esquadrão Suicida não esperava encontrar o sucesso repentino do humor de Deadpool ou a aversão à falta de maior senso de entretenimento de Batman vs. Superman: A Origem da Justiça. Na pós-produção, o estúdio tentou maquiar o produto final para tentar se encaixar às respostas do público. Deu tudo errado, e a aventura que chega aos cinemas é ineficiente no humor e no espírito de mera adaptação caça-níqueis.

A desconstrução comercial da personalidade do projeto tem sido usada como justificativa para Esquadrão Suicida ser tão ruim. Ora, estão pegando muito leve, pois ela é dos males o menor. Mesmo em sua essência, o filme de David Ayer é um completo caos repleto de amadorismos. São transcorridos poucos minutos e a trama já mostra sua capacidade narrativa rasteira e preguiçosa: extremamente explicativa, a apresentação dos personagens narra o passado de cada um deles com uma preguiça assustadora. Ao colocar na tela um vilão por vez com suas histórias e razões para terem chegado a um universo de crimes e rupturas de caráter, Esquadrão Suicida repete uma espécie de passo a passo inventado por alguém que nunca soube lidar com dois personagens ou mais em cena. Como se não bastasse isso, também é necessário que uma protagonista esteja na mesa de um jantar narrando justamente cada uma dessas histórias para outros personagens. Quanta criatividade! 

Desde o início já falta tom interessante, costura inteligente, ritmo bem dosado e personalidade ao que é mostrado em Esquadrão Suicida. São no mínimo desleixadas as tentativas de Ayer de tornar seu filme um produto pop, começando pela infinita lista de clássicas canções utilizadas para imprimir uma alma cool ao filme (ninguém precisa mais, por exemplo, ouvir Sympathy for the Devil em 2016 de forma tão gratuita). Isso certamente nos remonta à ideia de que tentaram maquiar Esquadrão Suicida na pós-produção para que ele se tornasse algo mais popular. Coloco minha mão no fogo pela ideia de que essa e outras tantas músicas não estavam no esboço original do projeto. Ademais, é primário o erro da aventura de se utilizar tanto de computação gráfica (já faz anos que os bons filmes desse “gênero” deixaram de parecer um videogame) para criar uma antagonista que deseja… dominar o mundo! Sério mesmo? Em que anos estamos?

Parado no tempo, Esquadrão Suicida poderia, então, pelo menos compensar na ação, certo? Errado. Em cada cena de adrenalina, o diretor abusa de milhões de clichês como as balas caindo em slow motion de uma metralhadora ou vidros se estilhaçando de forma supostamente elegante. Tem muitos tiros e pancadaria, é verdade, mas não dá para se encontrar muito ali: é de se duvidar que alguém tenha entendido bem quem faz o quê em cada cena de ação, onde determinado personagem pulou ou qual tiro acertou quem. Não há apuro geográfico na forma como a câmera do diretor se movimenta na ação. Agora, uma coisa é certa: é questão de poucos minutos até Arlequina (Margot Robbie) fazer uma piada ou estourar uma bolinha de chiclete mesmo quando o circo está pegando fogo – e isso nos leva a mais um problema gravíssimo de um filme cuja lista de defeitos parece não ter fim.

Nada mais trágico em um longa da natureza de Esquadrão Suicida do que você não se interessar pelos personagens em cena. E já começo falando da Arlequina de Margot Robbie porque ela está sendo defendida, na realidade, por ser apenas um alento em um casting de personagens apáticos – e isso é realmente muito pouco para chamá-la de destaque. Para ser bem justo, dá sim para dizer que Robbie tem um apurado timing cômico. Entretanto, sua Arlequina é tão mal escrita que fica difícil ter boa vontade. Indo além: ela serve apenas para fazer graça a partir de uma loucura muito mal explicada e literalmente parar um exército ao ostentar seu corpo esbelto em um micro short. Não dá mais para amenizar objetificação da mulher hoje em dia, inclusive porque Esquadrão Suicida se esmera ainda mais (no mau sentido) ao fazer com que Arlequina represente o estereótipo de mau gosto da figura feminina que vive apenas para reencontrar seu homem e que só falta usar um colar que mais parece uma coleira com o apelido do amado que comanda cada passo de sua vida. Só que… ei, espera, ela usa!

Por falar em amado, que homem mais horroroso! Jared Leto é sonolento com a interpretação repetitiva de um Coringa sem propósito, personalidade e função. Nesse casso, a culpa é tanto do ator, que se preocupou mais em vender sua caracterização na mídia do que em de fato fazer um trabalho decente, quanto do diretor, que não dá qualquer dimensão à nova construção desse personagem que certamente faz Heath Leder se revirar no caixão e até Jack Nicholson respirar aliviado. De resto, dá pena ver Viola Davis no meio de tantas figuras irritantes e esquecíveis, inclusive porque ela própria só causa indiferença em Esquadrão Suicida. Rejeito comentários tão definitivos, mas não há nada que se salve nesse desastre. Não importa o quanto alguém tente lhe preparar: tudo é pior do que se pode imaginar. Dessa forma, o longa de David Ayer virou um filme-evento por ser tão ruim. Todos querem tirar a prova para ver se algo pode mesmo ser tão absurdo. As pessoas têm razão em ir ao cinema apesar das advertências. Só mesmo vendo para acreditar.

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