Excetuando a tão esperada consagração de Leonardo DiCaprio e os merecidos e justificados memes para os comentários lacônicos de Glória Pires na transmissão da Rede Globo, o Oscar 2016 dificilmente será lembrado por qualquer acontecimento. Nem mesmo a não tão surpreendente vitória de Spotlight – Segredos Revelados é para tanta comoção: mesmo que não estivesse na dianteira para ganhar o prêmio principal, o filme de Tom McCarthy tinha na bagagem o Screen Actors Guild Awards e o Critics’ Choice. Pela lógica, também era um filme acessível e fácil de chegar ao triunfo com o sistema de votação da categoria que elenca os votos por ordem de preferência. Ou seja, em uma escala de zero a dez (no caso, oito), é muito mais provável colocar Spotlight no topo do que filmes mais específicos como O Regresso e Mad Max: Estrada da Fúria, que, na lista dos adoradores de Spotlight, podem muito bem ter sido os últimos.
Nunca o Oscar reuniu tantas pessoas negras para premiar brancos, e podemos dizer que Chris Rock fez o tema de casa como apresentador ao tocar na ferida. O mais importante é que a própria Academia reconheceu o problema, pautando a discussão em inúmeras esquetes ao longo da cerimônia. Volto a repetir, por outro lado, que não adianta elogiar muito: já não é de hoje que o Oscar tenta compensar um erro para depois, logo em seguida, voltar a fazer bobagem. Lembram de quando chamaram Ellen Degeneres, lésbica assumida, para apresentar o prêmio após a polêmica derrota de O Segredo de Brokeback Mountain? Parece não ter tido grande efeito para que Carol, por exemplo, sequer chegasse ao prêmio principal este ano mesmo com uma lista que possibilite até dez indicados. E não vale dizer que A Garota Dinamarquesa vencendo atriz coadjuvante com Alicia Vikander (mais uma atriz que o midas da atuação Tom Hooper ajuda a premiar!) indica o contrário.
Quanto à distribuição de prêmios em si, no geral, a cerimônia foi menos surpreendente do que o esperado (ah, essa nossa ilusão de que tudo pode ser inesperado!). Mad Max papou merecidamente uma penca de prêmios técnicos, Alejandro González Iñárritu levou novamente o prêmio de direção por O Regresso e, com exceção de Mark Rylance (Stallone, apesar do afeto, não vinha matematicamente com força para ganhar, enquanto o ator de Ponte dos Espiões era o único da categoria indicado a todos os prêmios da temporada), as estatuetas principais foram para o favorito ou, então, para um runner-up. O que não dava mesmo para prever era a absurda vitória de melhor canção original para “Writing’s on the Wall” (depois daquela justíssima vitória de Adele por um tema de 007, é meio constrangedor que uma música tão inexpressiva quanto essa também tenha a estatueta pela franquia) e a vitória de Ex-Machina em efeitos visuais, algo que certamente quebrou o bolão de todo mundo. No mais, nos vemos novamente em 2017! Confira a lista de vencedores:
MELHOR FILME: Spotlight – Segredos Revelados
MELHOR DIREÇÃO: Alejandro González Iñárritu (O Regresso)
MELHOR ATRIZ: Brie Larson (O Quarto de Jack)
MELHOR ATOR: Leonardo DiCaprio (O Regresso)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Mark Rylance (Ponte dos Espiões)
MELHOR ROTEIRO ORIGINAL: Spotlight – Segredos Revelados
MELHOR ROTEIRO ADAPTADO: A Grande Aposta
MELHOR FOTOGRAFIA: O Regresso
MELHOR FIGURINO: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR MIXAGEM DE SOM: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR EDIÇÃO DE SOM: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR MONTAGEM: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR MAQUIAGEM: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR CANÇÃO ORIGINAL: “Writing’s on the Wall” (007 Contra Spectre)
MELHOR TRILHA SONORA: Os Oito Odiados
MELHORES EFEITOS VISUAIS: Ex-Machina: Instinto Artificial
MELHOR DOCUMENTÁRIO: Amy
MELHOR FILME ESTRANGEIRO: O Filho de Saul (Hungria)
MELHOR ANIMAÇÃO: Divertida Mente
MELHOR DESIGN DE PRODUÇÃO: Mad Max: Estrada da Fúria
MELHOR CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO: A História de Um Urso
MELHOR CURTA-METRAGEM: Stutterer
MELHOR CURTA-METRAGEM DOCUMENTÁRIO: A Girl in the River: The Price of forgiveness
Foi um Oscar justo! Até mesmo nas surpresas das vitórias de “Spotlight” em Melhor Filme e de Mark Rylance em Ator Coadjuvante. Gostei muito também da dinâmica do show. Achei o Oscar ágil e, mesmo tendo três horas e meia de premiação, não senti o tempo passar.
Kamila, não tive maiores comoções com o Oscar desse ano. Apesar de achar a cerimônia correta, nenhuma das minhas torcidas venceu haha