
“Me disseram que eu não era magra o suficiente, que eu não era branca o suficiente, que eu não era baixa o suficiente, que eu não era homem o suficiente… Dane-se, eu sou o suficiente! Eu sou Queen Latifah e eu sou uma atriz!”
Um temporal dos fortes atingiu Porto Alegre na última sexta-feira (29) e, sem brincadeiras, deixou a cidade parecendo uma locação de O Impossível. No meu bairro, uma árvore caída em cada esquina, telhados destroçados, lugares interditados… O resultado? A luz foi embora, assim como a internet, a água e a TV a cabo, o que fez com que, pela primeira vez na vida, eu não acompanhasse a cerimônia de premiação do Screen Actors Guild Awards. Comento agora um pouco atrasado e começo falando justamente de Queen Latifah, que abriu a cerimônia com um desses depoimentos que viriam a resumir a noite (esse mesmo que ilustra a foto do post).
Foi lindo ver o Screen Actors Guild Awards abraçando a diversidade. Dizem que é um tapa na cara do Oscar, mas não vamos tão longe: com o assunto do racismo em polvorosa, era óbvio que o SAG seguiria esse caminho. Sendo mais específico, é importante perceber que a comparação com o Oscar não deixa de ser um tanto equivocada, já que, apesar da vitória de Idris Elba como ator coadjuvante por Beasts of No Nation (o primeiro ator na história a ganhar um prêmio do Sindicato sem uma indicação ao Oscar pelo mesmo papel), as consagrações de Uzo Aduba (melhor atriz em comédia por Orange is the New Black), Queen Latifah (melhor atriz em minissérie por Bessie), Viola Davis (melhor atriz em drama por How to Get Away With Murder) e Idris Elba em dobradinha (ator em minissérie por Luther) são todas relacionadas ao universo televisivo. Dessa forma, o SAG foi, na realidade, um tapa na cara do Globo de Ouro, que só conseguiu premiar Taraji P. Henson como melhor atriz dramática por Empire.
O que quero dizer é que o passo dado pelo SAG foi extremamente importante, mas é bom que não seja uma jogada óbvia para um momento extremamente delicado e para inconscientemente se desviar das tantas polêmicas que têm surgido em relação ao assunto. Isso precisa perdurar para que discussões sobre racismo na indústria não sejam assunto apenas para tempos de Oscar. Principalmente porque muitas dessas vitórias (pelo menos as que conferi) são pra lá de justas: Viola Davis é magnífica no mero guilty pleasure que é How to Get Away With Murder e Queen Latifah tem um dos grandes momentos de sua carreira em Bessie (dá para entender sua derrota no Emmy para Frances McDormand por Olive Kitteridge, ao contrário do papelão que foi vê-la sendo derrota por Lady Gaga no Globo de Ouro por American Horror Story: Hotel). Talento é o que não falta em qualquer ator de qualquer raça, sexualidade ou cor de pele. Citando Viola novamente, o que faz a diferença é a oportunidade.
Falemos agora sobre cinema e o que realmente significou a premiação em termos práticos. Antes de conhecer a lista de vencedores, comentava que o SAG só serviria para iluminar a categoria mais imprevisível até então: atriz coadjuvante. Ora, uma suposta vitória de A Grande Aposta em melhor elenco não resolveria muita coisa, principalmente se lembrarmos que Pequena Miss Sunshine, também uma comédia, foi a alternativa do SAG e do PGA em 2007, outro ano de competição extremamente confusa. E, como bem sabemos, isso não se refletiu no Oscar, que optou por finalmente consagrar Martin Scorsese com o seu Os Infiltrados.
Pode até ser que, com a vitória de Spotlight – Segredos Revelados, a corrida pela estatueta de melhor filme continue aberta, mas o quarteto vencedor dos prêmios de atuação já está basicamente resolvido agora que Alicia Vikander, vindo também de uma recente vitória no Critics’ Choice Awards, ganhou como atriz coadjuvante por A Garota Dinamarquesa (a sua derrota no Globo de Ouro nada significa porque ela concorria certeiramente como protagonista e não tinha como rivalizar com Brie Larson por O Quarto de Jack). Moral da história: vamos para o Oscar confusos de verdade apenas nas categorias de filme e direção. Confira abaixo a lista completa de vencedores do Screen Actors Guild Awards 2016:
CINEMA
MELHOR ELENCO: Spotlight – Segredos Revelados
MELHOR ATRIZ: Brie Larson (O Quarto de Jack)
MELHOR ATOR: Leonardo DiCaprio (O Regresso)
MELHOR ATRIZ COADJUVANTE: Alicia Vikander (A Garota Dinamarquesa)
MELHOR ATOR COADJUVANTE: Idris Elba (Beasts of No Nation)
TV
MELHOR ELENCO DE SÉRIE DRAMÁTICA: Downton Abbey
MELHOR ELENCO DE SÉRIE DE COMÉDIA: Orange is the New Black
MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DRAMÁTICA: Viola Davis (How to Get Away With Murder)
MELHOR ATOR EM SÉRIE DRAMÁTICA: Kevin Spacey (House of Cards)
MELHOR ATRIZ EM SÉRIE DE COMÉDIA: Uzo Aduba (Orange is the New Black)
MELHOR ATOR EM SÉRIE DE COMÉDIA: Jeffrey Tambor (Transparent)
MELHOR ATRIZ EM MINISSÉRIE/TELEFILME: Queen Latifah (Bessie)
MELHOR ATOR EM MINISSÉRIE/TELEFILME: Idris Elba (Luther)
Kamila, você disse aquilo que, para mim, resume as polêmicas do racismo: o problema não é o show de premiação, e sim a indústria! Não adianta discutir o tema somente agora!
Ótimos comentários, Matheus! Realmente, foi lindo ver o SAG Awards abraçando a diversidade e isso foi um claro recado à polêmica do Oscars “So White”. Entretanto, continuo com a minha tese de que o problema passa longe de um show de premiação. A raiz de tudo está na própria indústria cinematográfica e é essa a mentalidade que tem quer mudada.
Em termos de Oscar, o SAG nos mostra que as categorias de Melhor Filme e Ator Coadjuvante continuam completamente abertas. Assim como a de Melhor Diretor. Ouso dizer que essa disputa continuará até a abertura do envelope no dia 28FEV.