Spotlight – Segredos Revelados

Everybody’s gonna be interested in this.

spotlightposter

Direção: Tom McCarthy

Roteiro: Josh Singer e Tom McCarthy

Elenco: Michael Keaton, Mark Ruffalo, Rachel McAdams, Liev Schreiber, John Slattery, Stanley Tucci, Billy Crudup, Gene Amoroso,  Doug Murray, Neal Huff, Billy Crudup,  Brian Chamberlain, Paul Guilfoyle,  Eileen Padua, Len Cariou, Robert B. Kennedy

Spotlight, EUA, 2015, Drama, 128 minutos

Sinopse: Baseado em uma história real, o drama mostra um grupo de jornalistas em Boston que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças, causados por padres católicos. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelo caso. (Adoro Cinema)

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Os jornalistas são heróis pelas razões certas em Spotlight – Segredos Revelados. Ao contrário do que Hollywood costuma maquiar, a profissão não é uma extensão da delegacia de polícia que dá credenciais para que os contratados de uma redação saiam a campo investigando crimes ou coletando verdades e mentiras da vida de alguém está com os dias contados no corredor da morte e precisa ser salvo. No filme de Tom McCarthy, esses profissionais são heróis porque expõem à sociedade uma denúncia que nada mais é do que resultado direto de seu comprometimento ferrenho com os princípios mais básicos da profissão, onde a devoção com a verdade, seja ela qual for, fala mais alto do que qualquer outro interesse. Por isso, pode até ser que Spotlight não seja necessariamente um grande filme como os prêmios e a crítica têm apontado, mas a experiência entrega, com boa carga dramática e certeira execução, essa necessária reconstrução do modo como o cinema eventualmente retrata a profissão.

É inevitável que comparações com Todos os Homens do Presidente permeiem a sessão do filme de Tom McCarthy, mas não é o caso de inferiorizá-lo por ele não ser tão sofisticado ou inovador quanto o clássico de 1976 estrelado por Robert Redford e Dustin Hoffman (e só cabe ao tempo julgar o quanto a excelência de Spotlight merece ter o montante certo de lembrança), até porque o roteiro é extremamente atual ao reacender discussões tão fundamentais para o jornalismo em tempos que a profissão se dilui e se descredita cada vez mais na era da internet e de tantos interesses – e, com essa abordagem, lembrei particularmente daqueles breves minutos de Leões e Cordeiros onde a jornalista Janine Roth (Meryl Streep) enfrenta seu editor ao se recusar a escrever uma reportagem política claramente tendenciosa e ao questioná-lo sobre onde, após tantos anos de profissão, foi parar a busca pela verdade e a coragem para publicar o que deveria ser realmente de interesse público. É fundamental que o filme nos coloque tais questões com o devido protagonismo, e, nesse sentido, qualquer comparação com outras obras em termos de estrutura se tornam avaliações quase preguiçosas. Spotlight é muito mais do que isso.

“Eles mandam em tudo!”, constata indignadamente um personagem ao descobrir cada vez mais detalhes da história que Spotlight, a equipe de jornalismo investigativo do jornal Boston Globe, se propôs a entrar de cabeça: o verdadeiro sistema de pedofilia instalado nas paróquias de Boston em meados dos anos 1990. A coragem do roteiro de Josh Singer e Tom McCarthy é a mesma do jornal em questão, visto que, nas telas ou no papel, a igreja, mesmo depois de tantos séculos, segue como uma instituição que, sim, faz um bem danado a várias pessoas espiritualmente, mas que também alimenta um lado cruel, manipulador e responsável por diversas atrocidades que nem todos têm coragem de discutir ou sequer colocar em pauta. Spotlight, assim como os jornalistas do Boston Globe, não amortece suas denúncias envolvendo os dolorosos relatos em Boston, onde, por exemplo, um único padre molestou mais de 130 crianças, entre elas um garoto de apenas quatro anos de idade – e detalhe: com o conhecimento das paróquias. Por isso, além de um relato digno do jornalismo, a veia de denúncia confere ao filme de Tom McCarthy uma bela dose de sentimentos pesados e incômodos, mas também muito necessários. 

Muito bem escrito no que se refere à estrutura de uma investigação jornalística e às etapas de discussão e checagem de dados que cercam uma investigação dessa natureza, Spotlight ganha força e impacto com a denúncia que se propõe a retratar. É simplesmente impossível ficar indiferente aos absurdos que cada cada um dos jornalistas encontra ao longo do caminho, o que também nos leva a ressaltar o ótimo trabalho de elenco do filme, que se preocupa muito mais em criar uma unidade sólida de interpretações do que em dar shows particulares a cada um dos atores (Mark Ruffalo talvez seja a única exceção). Por outro lado, a confiança quase exclusiva a esse material traz o detalhe que me leva a considerar Spotlight um filme necessário e bem executado, mas não necessariamente superlativo: a ausência de uma força maior ao explorar os sentidos do cinema. Isso passa desde a ideia do filme ter uma trilha mais inspirada do veterano Howard Shore até o roteiro se dedicar mais aos efeitos que essa investigação específica teve na vida pessoal de seus personagens. Afinal, Tom McCarthy prova que teria talento de sobra para dar um brilho extra à história sem que ela, indo na contramão de tantos veículos de comunicação da atualidade, descambasse para o sensacionalismo.

2 comentários em “Spotlight – Segredos Revelados

  1. Infelizmente, este filme ainda não estreou na minha cidade. E parece que a distribuição dele tem sido bem falha no Brasil. Uma pena, ainda mais se tratando de um favorito ao Oscar 2016!!

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