Não são todos os musicais contemporâneos que conseguem ser tão bem resolvidos com sua própria identidade quanto Hairspray – Em Busca da Fama. Refilmagem do longa-metragem homônimo de 1988 (aqui no Brasil apenas o subtítulo E Éramos Todos Jovens foi modificado), esta nova versão dirigida por Adam Shankman encena uma história que, mesmo ambientada nos anos 1960, infelizmente ainda se mostra incrivelmente atual. Afinal, não é só a jornada de Tracy Turnblad (Nikki Blonsky), garota gordinha que ouve de todos (inclusive da própria mãe!) que nunca será uma estrela de TV ou conquistará o garoto mais desejado do colégio em função de seu peso, que se revela inspiradora na busca da quebra por preconceitos, mas também o retrato feito de uma época em que os negros não podiam frequentar a mesma piscina ou até mesmo a mesma pista de dança com os brancos. Tracy, que sabe muito bem o que é fazer parte das minorias, abraço como missão mudar tudo isso, especialmente o fato do Corny Collins’ Show, programa musical febre entre os jovens, aceitar negros em sua programação em apenas um dia do mês. Repleta de música, inocência e nostalgia, essa jornada da adorável protagonista terá suas previsibilidades, mas também será uma das mais autênticas que você verá nos musicais recentes.
Até surpreende o repentino talento do diretor Adam Shankman ao comandar Hairspray, visto que seus projetos anteriores a esse são de qualidade muito duvidosa (Operação Babá, A Casa Caiu) ou de uma infinidade de clichês (Um Amor Para Recordar). Na refilmagem do musical, ele traz personalidade ao universo de Tracy Turnblad, colocando nele muita graça e doçura sem que o resultado pareça infantilizado ou até mesmo restrito a um público jovem (caso de muitos musicais como High School Musical e Glee). Claro que o elenco de veteranos dá certo respeito ao filme (Allison Janney, Christopher Walken, John Travolta, Michelle Pfeifer!), mas é notável como Hairspray acerta musicalmente em dois aspectos fundamentais: na escolha do ótimo repertório transposto para esta nova leitura (bônus: praticamente todas as canções são ferramentas narrativas!) e na seleção de um elenco talentoso em voz e carisma. Se John Travolta não é uma grande presença quando resolve cantar, dá gosto de ver Nikki Blonsky demonstrando plena segurança já na cena de abertura, por exemplo. A sequência final ao som de You Can’t Stop the Beat ainda justifica o porquê das premiações terem levado a sério esse grupo de atores, uma vez que Hairspray chegou a ser indicado ao Screen Actos Guild Awards de melhor elenco (algo raro para um filme menor, musical e cômico como esse).
O singelo mas crível design de produção nos ambienta perfeitamente neste filme de muitos sonhos que de repente se tornam realidade. Isso mesmo: não são necessários muitos minutos para você perceber que, apesar de um obstáculo ou outro, tudo dará certo em Haispray. Esse é o espírito que o filme assume sem qualquer medo, e basta entrar nele para curtir de verdade a história, que tem uma simplicidade da mais sinceras – e por isso mesmo conquista tantos corações facilmente. Talvez tenha sido proposital o fato do diretor ter encenado as sequência musicais de forma tão tradicional (são muitos os momentos que usam planos bastante abertos para mostrar dezenas de pessoas alinhando uma coreografia perfeita), mas isso pode eventualmente frustrar quem busca um exemplar do gênero mais criativo e até ambicioso tecnicamente falando. Sinceramente, não vejo isso como um problema quando Hairspray surge tão autêntico quanto sua protagonista. Colorida, feliz e otimista. Assim é esta refilmagem que, além de tudo, é uma pequena mas valiosa homenagem à força das minorias. Musicais carinhosos como esse sempre fazem falta.
Eu adoro “Hairspray”. Dos musicais recentes, é um dos que tem a trilha sonora que eu mais gosto. O que eu mais aprecio nesse filme é o fato de ele ser deliciosamente divertido e não se levar a sério. Alguns números musicais são clássicos pra mim, como “Good Morning Baltimore” e “You Can’t Stop the Beat”.
Kamila, a trilha de “Hairspray” também é uma das minhas favoritas! Ainda hoje ouço e muda completamente meu espírito! E concordo com você que esses números musicas já são clássicos!