It’s like the ’80s all over again!
Direção: Jonathan Demme
Roteiro: Diablo Cody
Elenco: Meryl Streep, Mamie Gummer, Kevin Kline, Rick Springfield, Rick Rosas, Joe Vitale, Bernie Worrell, Ben Platt, Peter C. Demme, Keala Settle, Joe Toutebon, Ripley Sobo, Sebastian Stan
Ricki and the Flash, Comédia/Drama, 101 minutos
Sinopse: Encarando de perto o envelhecimento, uma estrela do rock (Meryl Streep) tenta se reaproximar dos filhos e recuperar a intimidade familiar perdida por ter colocado a carreira em primeiro lugar. (Adoro Cinema)
São poucos os roteiristas que têm uma linha de conceito tão interessante quanto a de Diablo Cody. Vencedora do Oscar de melhor roteiro original em 2008 por Juno, a ex-stripper costuma praticar a inversão de clichês em suas histórias, e Ricki and the Flash: De Volta Pra Casa segue o padrão, já que acompanhamos a história não de um homem, mas sim de uma mulher que abandonou a família para tentar uma carreira de sucesso no mundo da música. Ao contrário de outros filmes, Ricki (Meryl Streep) não retorna como uma milionária arrependida ou reconhecida a cada esquina: falida e aclamada apenas em um barzinho quase sempre vazio, a mãe tenta se reconectar com os filhos sabendo que os perdeu em uma missão que não lhe trouxe absolutamente nada de concreto na vida. Desta forma, por mais leve e simples que seja em outros aspectos, Ricki and the Flash acerta na delicadeza com que constrói um drama familiar sustentado por ideias que fogem do lugar-comum.
Quando estreou nos cinemas norte-americanos em agosto deste ano, o filme de Jonathan Demme chegou a ser criticado por sua superficialidade e, inclusive, pelo modo com que Meryl Streep não convencia como uma estrela do rock. Ora, especialmente em relação a segunda afirmação, dá para perceber que Ricki and the Flash não foi apreciado como merece, pois, se Streep não convence como uma cantora do gênero, é porque a própria personagem não convenceu ninguém ao longo de sua existência. Ricki conseguiu gravar apenas um esquecível álbum de rock e hoje trabalha como caixa de supermercado para poder pagar suas contas. Enquanto isso, tenta se agarrar a algum tipo de prestígio ao cantar para 10 ou 15 pessoas em um pub comum e pouco frequentado. Quando retorna para casa após uma tentativa de suicídio da filha recém divorciada, Ricki vê o que perdeu ao longo dos anos, mas, como bem canta em Cold One, canção escrita originalmente para o filme, também não existe, apesar dos fracassos, mais ninguém que ela gostaria de ter sido.
Se estiver disposto a ter um olhar mais sensível e atento, o espectador poderá ver Ricki and the Flash além dos diálogos eventualmente expositivos (mas nem por isso ineficientes) e das piadas mais fáceis. Demme, que já havia trabalhado com Meryl Streep em 2004 no thriller Sob o Domínio do Mal, apostou em uma abordagem afetiva para falar sobre distâncias e proximidades familiares. Os próprios clichês, como o inevitável jantar em família repleto de venenos destilados e mágoas abertas, surgem divertidos nas mãos do diretor, que compreende ainda que um longa de dimensões pequenas como esse deve – e merece -, ser entregue a um bom elenco. No entanto, isso não quer dizer que é apenas Meryl Streep que tem seus momentos aqui. Kevin Kline, por exemplo, encontra o tom certo como o senhor certinho e quase “coxinha” que, em um primeiro momento, aparenta não ser o tipo que se apaixona por uma mulher transgressora como a protagonista. Só que basta um momento emotivo dedicado aos dois (aquele na cozinha enquanto a filha dorme) para que ele e Meryl nos convençam por completo que aquelas são duas figuras que já viveram juntos muitos momentos verdadeiros.
Para os cinemas brasileiros, fica uma reivindicação: é uma pena que o repertório que vai de Lady Gaga (Bad Romance) e Pink (Get the Party Started) a U2 (I Still Haven’t Found What I’m Looking For) e Brunce Springsteen (My Love Will Not Let You Down) não esteja legendado em nossas salas. Isso porque o público que desconhece as canções ou não domina o inglês certamente perderá o que algumas das músicas significam para a história, em especial a de Springsteen, interpretada em um momento-chave da história. Streep, que teve aulas de guitarra com Neil Young (sim, ela própria domina o instrumento nas cenas), empolga em todos os momentos musicais, inclusive naqueles que, repito, evidenciam uma cantora decadente que, frente a velhice, ainda tenta se agarrar a um êxito musical e profissional que nunca teve. Não há mais o que ser dito sobre a atriz, pois todos os elogios direcionados a ela já caem no lugar comum, mas é fato que Ricki and the Flash é uma excelente adição ao seu currículo de personagens que se distinguem por completo uns dos outros. E o melhor: em um filme que inicialmente pode até ser um mero feel good drama, mas que é sim, lá no fundo, mais esperto do que aparenta.
Quero muito assistir a este filme. Primeiro, pelo fato de ser um papel diferente para Meryl Streep. E segundo, porque seu texto confirma a boa impressão que eu achava que esse filme iria causar.
Kamila, mais um papel super diferenciado para a carreira da Meryl!
Preciso deste filme ♥
Lou, Você já o teve! <3